terça-feira, 25 de novembro de 2014

Curso: Biologia das abelhas sem ferrão

As abelhas sem ferrão possuem este nome justamente por ter o ferrão atrofiado, não o utilizando para defesa. Elas formam um grupo chamado Meliponini, composto por mais de 400 espécies, agrupadas em 32 gêneros (gênero é o primeiro nome de uma espécie, como por exemplo, Tetragonisca angustula, a Jataí, é uma abelha do gênero Tetragonisca). Portanto podemos tratar o grupo como "meliponineos". Elas se distribuem por toda a região tropical do planeta (América do Sul e Central, África, Ásia e Oceania), sendo que a maior diversidade é encontrada nas Américas, com cerca de 390 nomes válidos.

A Partir deste dado podemos ver quão diverso este grupo é, quando comparamos com as poucas espécies de Apis, que possuem apenas onze espécies dentro de um único gênero. Porém quando comparamos com o grupo inteiro das abelhas, percebemos que este grupo não é tão diverso quanto pensávamos. O mais intrigante é que quando olhamos uma flor (a fonte essencial de alimento de todas as abelhas) na maioria das vezes encontramos uma abelha sem ferrão (Meliponini) ou uma abelha melífera (Apis), ao invés de qualquer uma outra avelha das 19.400 espécies restantes. O que faz delas tão abundantes é o seu modo de vida, a vida em sociedade.



Figuras - Diferentes Tribos de abelhas dentro da família Apidae: Euglossini (abelhas das orquídeas), Bombini (mamangavas), Apini (abelha melífera) e Meliponini (abelhas sem ferrão)

Existem vários graus de socialidade nas abelhas. As espécies com comportamento mais simples, as "subsociais", apresentam agregações de indivíduos que cooperam nos cuidados com a cria. Os meliponineos, junto com as abelhas do gênero Apis, apresentam o mais alto grau de socialidade entre abelhas, são "eussociais", ou "altamente eussociais", fazendo das Apis os parentes mais próximos dos Meliponini.

Sociedades eussociais são aquelas nas quais gerações sobrepostas (mães e filhas no caso) trabalham em conjunto no cuidado com as crias, estas produzidas por uma única (ou em alguns casos algumas poucas) fêmeas (rainha), e os indivíduos restantes estéreis (operárias). O mais incrível da socialidade, e que permite essa grande abundância, é a capacidade das colônias em realizar simultaneamente diferentes tarefas. Imagine que uma abelha solitária é capaz de realizar a termorregulação de uma cria, criando condições ideais para o seu desenvolvimento. Em algum momento ela terá que deixar de realizar esta função para coletar alimento (forragear), pois tanto ela como suas próximas crias necessitarão de alimento. Em uma colônia, a divisão de trabalho entre as operárias permite a realização da termorregulação e do forrageamento simultaneamente! Assim, as colônias atingem populações extremamente grandes.

A divisão de trabalho entre as operárias de meliponineos é determinada pela idade da operária, sistema chamado de polietismo etário. Assim que a operária nasce, ela segue uma sequência de tarefas conforme sua idade vai aumentando. Isto varia muio de espécie para espécie, e também operárias podem "pular" tarefas, ou mesmo se especializar em algumas.

A regra geral é que as primeiras tarefas são dentro do ninho, para que a partir de uma idade avançada a operária passa a exercer as tarefas que exigem o vôo, externamente ao ninho. Em geral, as primeiras tarefas são os trabalhos com o cerume, seguidas pelos cuidados com a cria. Seguem então a recepção do néctar, guarda do ninho e finalmente o forrageamento (coleta de recursos). O forrageamento é a tarefa mais arriscada para uma operária. Neste processo ela está sujeita a predadores e aos fatores climáticos, fazendo com que a mortalidade aumente muito. Provavelmente é por este motivo que o forrageamento é a última das tarefas, aumentando a expectativa de vida da operária e permitindo que ela realize todas as outras tarefas.

As operárias que forrageiam (campeiras) coletam, na maioria das espécies, 3 principais recursos: néctar, pólen e resina. As resinas são utilizadas principalmente na construção do ninho, misturadas em proporções diversas com cera pura, produzida pelas operárias jovens, formando o "cerume". Em algumas espécies ocorre a coleta de outros materiais para construção e estruturas no ninho, como materiais vegetais (polpa de frutos, sementes), barro, e em algumas espécies, dependendo da situação elas coletam fezes.

Operárias de Jataí (Tetragonisca angustula) realizando as tarefas mais tardias durante seu período de vida. Pode-se observar uma forrageira com cargas polínicas em suas corbículas chegando no ninho, enquanto as outras fazem a função de guarda, ao redor da entrada.
Néctar e pólen fazem parte da dieta da grande maioria das espécies. O néctar encontrado nas flores é a fonte de energia (carboidratos). Para estocá-lo as abelhas o desidratam, ou seja, retiram a água, deixando muito mais concentrados os açucares, produzindo o mel. O néctar é coletado e transportado pelas abelhas em uma estrutura interna de armazenamento, chamada de papo.

O pólen é principalmente fonte de proteínas. Também é encontrado nas flores e quando coletado pelas abelhas é carregado nas "corbículas", expansões das pernas traseiras com pelos que permitem a fixação do pólen. Algumas raras exceções, como a Trigona hipógea, por exemplo, utilizam tecidos animais (carne) como fonte de proteína. O alimento é armazenado em potes de cerume, separadamente, em potes de pólen e potes de mel. Algumas espécies armazenam resinas, porém não colocam em potes.

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