quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Uso incorreto de agrotóxicos é a principal causa da morte de abelhas

Fonte: G1

Conclusão vem de mapeamento sobre mortandade de abelhas em SP.
Estudo é realizado por pesquisadores da Unesp de Rio Claro e da UFSCar.


(Para ver o vídeo da reportagem, acesse globo.com)

Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) divulgaram o primeiro resultado do mapeamento sobre mortandade de abelhasno Estado de São Paulo.
De junho de 2015 até maio deste ano, as equipes analisaram 13 apiários em cidades como Araras, Rio Claro, Leme, Mogi-MirimArtur Nogueira e Santa Rosa de Viterbo e concluíram que a principal causa da morte desses insetos é o uso incorreto de agrotóxicos.
"Nós observamos que 70% dos casos estavam relacionados com os defensivos agrícolas. Eles usam, por exemplo, acima do recomendado, eles usam em locais em que não deveria ser usado, eles misturam muito os produtos e toda vez que você vai fazer uma aplicação você não pode misturar o produto", explicou o biólogo Osmar Malaspina, que integra o estudo financiado pelo Sindicato Nacional dos Produtores de Defensivos Agrícolas.
João Franco, de Araras, perdeu milhares de
abelhas neste ano (Foto: Ely Venâncio/EPTV)
Perdas
De seis anos para cá, os relatos de perda de colmeias se tornaram mais comuns. Há 4 anos, 5 milhões de abelhas morreram em Santa Cruz da Conceição. Entre 2012 e 2013, o mesmo aconteceu em Gavião Peixoto e, em 2014, dez apicultores de Leme perderam centenas de colmeias.

Neste ano, em Araras, mais de cem mil insetos do apicultor João Franco morreram. Agora, só 14 das 30 colmeias continuam ativas.
"Eu calculo [um prejuízo] de R$ 3 mil a R$ 4 mil entre as abelhas que morreram, material que eu perdi e não posso por mais abelha nesse material porque ficou contaminado e o preço do mel todo que eu deixei de tirar por causa da mortalidade", disse Franco.
A morte das abelhas não traz prejuízo só para apicultores. Segundo o pesquisador, esses insetos são responsáveis por mais de 70% da polinização de várias culturas e garantem quase a metade da produção de alimentos no mundo.
Nova fase
A conclusão final do estudo vai ser divulgada em 2018 e agora que a primeira fase do mapeamento está pronta, Malaspina diz que a ideia é conscientizar apicultores e agricultores.
"Se ele começar a usar mais corretamente, nós vamos evitar outros tipos de contaminação também, não só para as abelhas como outras espécies e a própria saúde do homem", afirmou.
É o que também espera Franco. "Se o pessoal respeitasse as regras do agrotóxico, acho que dava para a gente trabalhar com a abelha e eles com a lavoura".
Contato 
Apicultores e agricultores que encontrarem abelhas mortas podem ligar para o telefone 0800 771 8000. Uma equipe de pesquisadores vai ao local indicado para obter amostras e os insetos recolhidos ajudarão no mapeamento.
Segundo apicultores, abelhas morreram após fumacê (Foto: Eduardo Perez/Arquivo Pessoal)
São Carlos
Além das perdas no campo analisadas pelos pesquisadores, apicultores de São Carlos relataram neste ano perdas na área urbana. Nesses casos, como os insetor morreram após ações de nebulização, os produtores acreditam que o problema está no produto usado para pulverizar o ambiente e combater o Aedes aegypti.
O veterinário e apicultor Eduardo Constantino Perez contou que não foi orientado a retirar as abelhas que mantinha em sua clínica antes da pulverização e cerca de 90% dos insetos morreram. 
Veterinário perdeu cerca de 90% de seu apiário
(Foto: Eduardo Constantino Perez/Arquivo Pessoal)
“No dia em que passaram o veneno onde eu tinha as abelhas, morreram quase todos os enxames e, além disso, também notei que atingiu outros insetos que ficavam perto daquele espaço, então acreditamos que o problema tenha acontecido por conta desse veneno”, afirmou.
“Não é possível que elas tenham morrido do nada. Agora, todas as minhas abelhas rainhas se foram e a gente tem outros relatos de que outros apicultores também estão passando pelo mesmo problema”, disse apicultor Paulo de Chico após o fumacê em seu bairro.
Composição
De acordo com o Ministério da Saúde, os produtos utilizados no fumacê são o Malathion diluído em água, para as aplicações espaciais a Ultra Baixo Volume, e o Bendiocarb, usado em locais onde há concentração de depósitos preferenciais para a desova da fêmea do Aedes aegypti, como cemitérios, borracharias e depósitos de sucatas.
Para Malaspina, o Bendiocarb pode ter contribuído para a mortandade, já que tem alto grau de toxicidade para insetos. "Quando aplicado, esse produto permanece durante bastante tempo em plantas e é bastante utilizado para matar o mosquito do Aedes aegypti", afirmou.
Ele explicou que o produto "atua sobre o sistema nervoso do inseto, inibindo a acetilcolinesterase, impedindo a hidrólise de acetilcolina e matando o inseto por hiperexcitação". "É altamente prejudicial à saúde dos insetos", disse.
Prefeitura e Ministério da Saúde
Em nota, a Prefeitura de São Carlos afirmou que o produto usado nas nebulizações é aplicado somente no entorno de residências com casos confirmados de dengue, vírus da zika e chikungunya e que é repassado pela Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), vinculada ao Ministério da Saúde.
O ministério, por sua vez, afirmou que a aplicação de inseticidas a Ultra Baixo Volume (UBV) para uso em saúde pública é preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e obedece recomendações técnicas de dosagem e metodologias de aplicação.
"Essa técnica tem sido aprimorada com o desenvolvimento de inseticidas e equipamentos mais eficientes, permitindo o uso de quantidades menores de ingrediente ativo por hectare. Ou seja, aplicações a UBV permitem a fragmentação de uma pequena quantidade de ingrediente ativo, que será aplicado em um volume de ar infinitamente maior no espaço tratado. Estas gotas devido ao seu tamanho podem permanecer flutuando no ar por um período de tempo suficiente para entrar em contato com o vetor. É importante considerar que o uso desta medida, pelas suas características técnicas, não tem um impacto que possa ser classificado como duradouro e permanente e, conseqüentemente, possa ocasionar sérios prejuízos à fauna não alvo da operação, portanto com impacto bastante limitado", disse a pasta.
Apicultores de São Carlos perderam centenas de
abelhas (Foto: Eduardo Perez/Arquivo Pessoal)
O ministério informou ainda que, antes da OMS indicar os princípios ativos a serem utilizados no controle de vetores, eles são submetidos a uma rigorosa revisão bibliográfica, considendo aspectos relacionados à saúde humana e possíveis impactos ambientais. "Além disso, a OMS adota periódica ou excepcionalmente, se necessário, procedimentos para revisões da literatura, uma vez que novas informações sobre a molécula podem ter surgido no período. Este procedimento agrega segurança nestas indicações, uma vez que os ingredientes ativos estão sendo analisados e avaliados constantemente".
Abelhas mantidas em área urbana morreram (Foto: Eduardo Perez/Arquivo Pessoal)

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