segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Células do “coração” de abelhas podem mascarar efeitos de agrotóxicos nos insetos

19 de agosto de 2015 em Agência FAPESP

Abelhas do gênero Bombus – conhecidas popularmente como mamangavas ou mamamgabas – possuem um sistema celular integrado capaz de “compensar” os efeitos dos toxicantes (foto: Wikimedia Commons)

Elton Alisson | Agência FAPESP – O uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras e o descarte de toxicantes – como metais-traço em baixas concentrações – no solo e ar, além de rios e lagos, são apontados como alguns dos fatores responsáveis pela diminuição das populações e o desaparecimento de espécies de abelhas observado atualmente em diferentes partes do mundo.
Os reais efeitos dessas substâncias químicas nos insetos, contudo, ainda não estão muito bem esclarecidos, uma vez que estudos realizados nos últimos anos no Brasil e em outros países para diagnosticar se a exposição de abelhas a concentrações variáveis de determinados tipos de agrotóxicos alterava a taxa de mortalidade e sobrevivência, além do comportamento e órgãos internos do animal – como o cerébro –, não identificaram mudanças significativas.
“Às vezes, não é porque não se observam alterações na taxa de mortalidade e no comportamento, além de em órgãos internos específicos que podem ser impactados por um determinado agrotóxico, que o produto não está causando efeitos em abelhas”, disse Fábio Camargo Abdalla, professor do Departamento de Biologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), à Agência FAPESP.
O pesquisador e o estudante Caio Eduardo da Costa Domingues – que realiza mestrado no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia e Monitoramento Ambiental na UFSCar de Sorocaba com Bolsa da FAPESP – identificaram que abelhas do gêneroBombus – conhecidas popularmente como mamangavas ou mamamgabas – possuem um sistema celular integrado capaz de “compensar” os efeitos dos toxicantes e, ao combatê-los, “mascarar” seus reais impactos até uma determinada concentração e tempo de exposição.
A descoberta – resultado da pesquisa “Ação do cádmio e do Roundup® original em órgãos internos de Bombus morio e Bombus atratus (Hymenoptera: Bombini), apoiada pela FAPESP – foi relatada em um artigo publicado na revista PloS One.
Os resultados serão apresentados no próximo congresso latino-americano da Sociedade de Toxicologia Ambiental e Química (Setec, na sigla em inglês), previsto para ocorrer entre os dias 7 e 10 de setembro, em Buenos Aires, na Argentina.
“Os efeitos da exposição das abelhas a um determinado xenobiótico [substâncias químicas sintéticas que não ocorrem naturalmente no ambiente, como agrotóxicos e metais-traço] podem ser compensados por esse sistema celular integrado, que chamamos de hepatonefrocítico”, afirmou Abdalla.
De acordo com o pesquisador, o sistema hepatonefrocítico que identificaram por microcospia nas abelhas mamangavas é composto por células que integram o chamado corpo gorduroso do inseto – que têm função homóloga ao do fígado, em humanos –, além de células pericárdicas e células dos sistema imune (hemócitos) do animal.
Esse conjunto de células e tecidos está localizado e disposto, não por acaso, em camadas em uma região contrátil (miogênica) ao redor do vaso dorsal (o “coração) das abelhas – um tubo de fundo cego que se estende pelo abdômen e se abre no começo da cabeça do inseto – e funciona, de forma coordenada, como um filtro para o sangue (hemolinfa) das abelhas.
Quando as abelhas são expostas a xenobióticos, as células do corpo gorduroso são as primeiras a ser ativadas e representam a primeira barreira contra a agressão química.
Caso as células do corpo de gordura não consigam deter o “ataque” da substância química e forem atingidas ou destruídas, são convocadas as células pericárdicas.
Porém, a resposta celular imune acontece durante todo o processo de “combate”, revelado por meio da morfologia e da contagem de células do sangue durante todo o período de exposição ao agrotóxico e metais-traço.
As substâncias tóxicas neutralizadas pelas células pericárdicas são liberadas de volta para a hemolinfa e podem ser filtradas pelo túbulo de Malpighi – o órgão excretor do inseto.
As células imunes das abelhas, por sua vez, participam durante todo o processo, explicou Abdalla.
“Essa associação de células, juntamente com o túbulo de Malpighi, funciona em abelhas de forma análoga aos rins e fígado dos humanos e representam a linha de frente dos insetos para compensar os efeitos deletérios causados pela exposição a substâncias químicas”, afirmou.
Possível biomarcador
A fim de avaliar qual o limite de compensação dos efeitos de toxicantes pelo sistema hepatonefrocítico das abelhas, os pesquisadores realizaram experimentos em que expuseram abelhas mamangavas (Bombus morio) a doses de cádmio consideradas seguras para águas de classe I e II pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), além de doses subletais de tiametoxan – o agrotóxico mais usado no Brasil – e glifosato por períodos variáveis.
Os resultados das análises de resposta celular dos insetos – realizada por meio da contagem de células do sistema hepatonefrocítico na hemolinfa – revelaram que a exposição durante dois dias a uma parte por bilhão (ppb) de cádmio, diluído em 2 mililitros (ml) de água, provocou a morte de células do corpo gorduroso e uma intensa atividade das células pericárdicas, levando o sistema a entrar em colapso e à destruição do vaso dorsal dos animais.
“Estamos observando que isso também ocorre com diferentes espécies de abelhas que não somente a Bombus morio, como também Bombus atratusApis mellifera e em Xylocopa suspecta, que divide o mesmo nicho com a Bombus, com a diferença de que é uma abelha solitária, e não social”, explicou.
“Por isso, esse sistema hepatonefrocítico pode ser usado como um biomarcador morfológico para analisar o nível de estresse ambiental em abelhas”, indicou.
Segundo o pesquisador, a simples ativação das células que compõem esse sistema pelas abelhas ao serem expostas a um determinado tipo de xenobiótico já é um indicador do efeito nocivo da substância química, uma vez que o inseto estaria desviando metabolicamente energia que poderia ser usada para outras funções, como a atividade de coleta, para fazer todo esse sistema fisiológico funcionar.
“Isso poderia prejudicar uma colônia se extrapolado esse efeito de desvio energético para todas as espécies de abelhas campeiras expostas em campo”, afirmou Abdalla.
O sistema hepatonefrocítico também pode predizer, com bastante exatidão, quais órgãos do inseto podem ser afetados por um determinado agente toxicante ao avaliar quais os tipos de células estão sendo mais danificadas no sistema, uma vez que possuem diversas funções associadas a outros órgãos, apontou o pesquisador.
Além da desintoxicação e filtração, as células do sistema hepatonefrocítico estão envolvidas com o desenvolvimento ovariano, formação e manutenção da cutícula que recobre o corpo das abelhas (cuticulogênese), com hormônios reguladores de glândulas do cérebro dos insetos, explicou.
“Esse sistema poderia ser usado como um ponto de checagem. Ao estudar pelos métodos clássicos o efeito de um determinado inseticida neonitocinoide – que é extremamente deletério às células do sistema nervoso de abelhas – no inseto, pode ser que não sejam percebidas mudanças morfológicas no cérebro ou na taxa de mortalidade e sobrevivência do animal. Mas pode-se checar se esse sistema de desintoxicação e filtragem está sendo ativado”, apontou.
Os pesquisadores pretendem futuramente analisar por meio de técnicas de cromatografia gasosa e de espectrometria de massa as células do corpo gorduroso e pericárdicas que integram o sistema hepatonefrocítico de abelhas para estudar a dinâmica de metabolização dos xenobióticos pelos insetos.
À exemplo do que acontece no fígado humano, os agroquímicos, por exemplo, são “quebrados” pelo sistema metabólico das abelhas em moléculas menores, chamadas de segundos metabólitos.
Em determinados casos, esses segundos metabólitos são muito mais potentes e deletérios ao organismo do inseto do que a molécula original do agroquímico, disse Adballa.
“Isso acontece com o tiametoxan, que é um agroquímico intensamente estudado em nosso laboratório e, quando ingerido, seu potencial toxicante pode aumentar em até 300 vezes mais”, afirmou.
O artigo “Hepato-nephrocitic system: a novel model of biomarkers for analysis of the ecology of stress in environmental biomonitoring” (doi: 10.1371/journal.pone.0132349), de Abdalla e Domingues, pode ser lido na revista PLoS One emwww.plosone.org/article/related/info:doi/10.1371/journal.pone.0132349

domingo, 30 de agosto de 2015

Abelhas nativas sem ferrão ganham duas novas publicações

21/08/2015

Recentemente, o Projeto Taramandahy – Fase II lançou duas novas publicações sobre a meliponicultura - criação racional de abelhas nativas sem ferrão. O cartaz em tamanho A3 apresenta as principais espécies de meliponíneos nativos, com potencial para criação racional. São a jataí, manduri, mirim nigriceps, mirim-emerina, guiruçu, mirim-saiqui, tubuna, guaraipo, mirim-droriana e mirim-guaçu. As informações variam entre tamanho, distribuição, produção de mel, culturas polinizadas, tipos de ninhos, de entradas e mecanismos de defesa.

O folder, também em tamanho A3, possui duas dobras e informações mais completas das espécies com potencial para criação racional. Sua composição ressalta a caracterização do conceito de meliponíneos, bem como seus principais serviços ambientais, modelos de colmeias racionais, calendário de atividades das abelhas, materiais e ferramentas úteis, além de cuidados.

As publicações foram produzidas em parceria, sendo criação, fotografia e textos do ecólogo Dilton de Castro e do técnico em meliponicultura Rafael Gehrke, coordenador e instrutor do Taramandahy – Fase II, respectivamente. O folder contou com revisão técnica da Dra. Sidia Witter, da Fepagro e do Programa RS Biodiversidade. A arte final é de Samuel Guedes, da STA Studio.

O Projeto Taramandahy – Fase II é patrocinado pela Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental, cujas linhas de atuação visam, entre outros, colaborar com a promoção de ações para a proteção e a recuperação de espécies e habitats, bem como com os usos tradicionais associados, como forma de preservar e conservar a biodiversidade nos ecossistemas terrestres e aquáticos.

Os impressos estão sendo disponibilizados na sede do Projeto (Avenida General Osório, 318, Centro de Maquiné/RS), e distribuídos nas próximas atividades. Também, pode-se acessar o download dos arquivos por aqui:
- Folder



Anaiara Ventura - Assessoria de Imprensa
Jornalista MTB/RS: 15155

sábado, 29 de agosto de 2015

Assentados paraibanos concluem oficina sobre meliponicultura

Publicado dia 21/08/2015Fonte: INCRA
Agricultores dos assentamentos da reforma agrária Venâncio Tomé, Santa Cruz, José Antônio Eufrozino, Pequeno Richard e Vitória, na região da Borborema, na Paraíba, concluíram uma oficina sobre meliponicultura, que é a criação de abelhas sem ferrão. A oficina foi realizada no assentamento Cachoeira Grande, em Aroeiras, a 180 quilômetros da capital João Pessoa, no Agreste do estado, onde os assentados já desenvolvem a meliponicultura.
A ação foi promovida pela Cooperativa de Trabalho Múltiplo de Apoio às Organizações de Autopromoção (Coonap), contrata pelo Incra/PB para prestar assistência técnica aos assentamentos. Além de trazer novos conhecimentos para os assentados da região da Borborema, a atividade serviu para aprimorar a prática da meliponicultura no assentamento Cachoeira Grande.
De acordo com a engenheira florestal da Coonap, Aline Valéria, coordenadora da atividade, o objetivo maior da capacitação é fortalecer a atividade, possibilitando uma renda a mais aos assentados diversificando o sistema produtivo que já existe nas unidades de produção familiar.
Durante a oficina, os assentados tiveram a oportunidade de conhecer os diversos modelos de caixas para criação de abelhas sem ferrão, as vantagens e desvantagens de cada uma. Eles aprenderam também como manusear as caixas com as abelhas e conheceram o material higiênico que deve ser utilizado durante a coleta e a maneira correta para o armazenamento do mel.
O agricultor Celso Ferreira, do Assentamento Cachoeira Grande, disse que aprendeu a maneira correta de fazer a multiplicação e a transferência das abelhas de forma correta. “Eu só sabia criar abelhas nos trocos e hoje eu vi que não é correto, depois destas orientações eu mesmo vou fazer as transferências dos 11 troncos de abelhas que tenho para as caixas,” afirmou.
A engenheira Aline Valéria ressaltou que após este processo de capacitação, os assentados serão assessorados pela Coonap no processo de transferência. “Sabemos que existem muitos cortiços para transferir e nós estamos à disposição para acompanhar todo o processo de transferência. Realizaremos mais quatro oficinas onde abordaremos a temática de acordo com a necessidade dos meliponicultores”, informou.

Assessoria de Comunicação Social – Incra-PB
Jaimaci Martins (8121-3864) jaimaci.martins@jpa.incra.gov.br
kalyandra Vaz (8610-1118) kalyandra.vaz@jpa.incra.gov.br/
Ascom: 3049-9259
www.incra.gov.br imprensa@incra.gov.br

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Relatório sobre a meliponicultura em comunidades beneficiárias do Néctar da Amazônia

em 30 de julho de 2015

Fonte: Instituto Peabiru


meliponario_nectardaamazonia
Mãe meliponicultora incentivando o seu filho para a atividade na Comunidade de Santana, Monte Alegre, PA
O Projeto Néctar da Amazônia, do Instituto Peabiru, realizou detalhado levantamento sobre o estado atual da meliponicultura (criação de abelhas nativas sem ferrão) nas 30 comunidades envolvidas na iniciativa em Macapá e Oiapoque,  no Amapá e em Almeirim, Monte Alegre e Curuçá, no Pará. O diagnóstico é fundamental para compreender o desafio do projeto e planejar os próximos passos. Este se torna ainda mais essencial, na medida que houve um intervalo de quatro anos entre a elaboração da proposta e sua efetiva realização.
“Estamos lidando com um produto original da zona tropical das Américas (o Neotrópico) que jamais alcançou a escala comercial e carece de legislação própria. Se a cadeia de valor global da Apis melifera, abelha exótica, encontra-se plenamente organizada no Brasil, com a meliponicultura nos deparamos com um conjunto inédito de desafios”, comenta Richardson Frazão, coordenador do Néctar da Amazônia.
De acordo com o relatório, esta primeira avaliação orienta o desenho do plano de ampliação e consolidação dos meliponários, a ser implantado e consolidado pelo Projeto Néctar da Amazônia nos próximos 18 meses.
“Com este levantamento, sabemos que as primeiras ações de revitalização dos meliponários, deverão resultar em maior confiança por parte das famílias meliponicultoras no processo proposto. Mas, temos casos, como o do Polo Almeirim, em que as comunidades de Lago Branco e Praia Verde apresentaram resultados bastante satisfatórios de organização, após nossa visita técnica de retomada, ao demandar a implantação imediata dos padrões de meliponários e instalações, além de capacitações e assistência técnica periódica”, relata Richardson.
Ao buscar fortalecer o arranjo produtivo da meliponicultura, o Instituto Peabiru acredita que possa contribuir em prol da sustentabilidade da Amazônia. Afinal, é nesta região que está o maior conjunto contínuo de florestas tropicais e ecossistemas relacionados do planeta, atualmente protegidos por unidades de conservação. Os grupos tradicionais que vivem nestas regiões podem ter na meliponicultura um complemento de renda importante, além de contribuir para a segurança alimentar
Com o objetivo de fortalecer a cadeia de valor do mel de abelhas nativas em comunidades tradicionais, de modo a gerar renda complementar sustentável e enfrentar o desmatamento, o Projeto Néctar da Amazônia terá a duração de dois anos. Ao todo, 310 produtores de 30 comunidades rurais no Pará e Amapá serão beneficiárias. O projeto Néctar da Amazônia recebe recursos do Fundo Amazônia.
Saiba mais sobre o projeto no hotsite www.peabiru.org.br/nectardaamazonia

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Colmeia com rainha forasteira

Encontrei uma matéria muito curiosa... um pouco antiga, mas cabe perfeitamente nos dias de hoje! Segue abaixo:


18 de novembro de 2010

Por Fábio Reynol

Pesquisa feita no Instituto de Biociências da USP demonstra que algumas espécies de abelhas sem ferrão podem ter rainha de fora da colmeia (divulgação)

Agência FAPESP – Em uma colmeia, a sucessora da abelha-rainha será uma de suas descendentes. Pelo menos é o que se imaginava. No entanto, uma pesquisa feita com a Melipona scutellaris, uma espécie da tribo Meliponini que compreende as abelhas sem ferrão, mostra que isso pode não ocorrer.
O trabalho fez parte do doutorado da bióloga Denise de Araujo Alves, defendido e aprovado em agosto e publicado em outubro na revista Biology Letters.
Denise contou com Bolsa de Doutorado Direto da FAPESP e seu estudo esteve inserido no Projeto Temático “Biodiversidade e uso sustentável de polinizadores”, que se realizou no âmbito do Programa Biota-FAPESP e foi coordenado por Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, professora titular em Ecologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP).
“O resultado foi surpreendente. Verificamos que, nas colônias nas quais houve substituição natural de rainhas fecundadas, as rainhas substitutas, em alguns casos, não eram oriundas daquela colônia”, disse Vera Lúcia à Agência FAPESP.
A pesquisa trouxe as primeiras evidências de um parasitismo social intraespecífico para colônias de abelhas Meliponini. O primeiro a sugerir a ideia foi o pesquisador holandês Marinus Sommeijer. Em experimentos na Costa Rica e em Trinidad Tobago, chamou-lhe a atenção o elevado número de abelhas-rainhas que nasciam em uma colônia, o que o levou a lançar a hipótese de que algumas poderiam assumir um ninho órfão (sem rainha).
Mas Sommeijer, após um estudo baseado em observações que rainhas saiam vivas das colônias, não levou adiante a investigação e a hipótese ficou sem comprovação.
Denise começou seu trabalho em São Simão (SP), com abelhas do experimento do professor Paulo Nogueira Neto, também do IB-USP. Nessa fase, ela coletou pupas de favos dos ninhos amostrados em diferentes épocas do ano.
Esse material foi submetido a uma análise molecular na Bélgica pelo professor Tom Wenseleers, da Universidade de Leuven. Nos resultados, foram detectadas evidências da existência de rainhas oriundas de outras colmeias.
“Acreditava-se que uma rainha que não assumisse o ninho em que nasceu seria morta logo ao emergir ou sairia com parte das operárias para fundar um novo ninho. Mas o experimento apontou outra possibilidade: ela poderia assumir um ninho órfão”, disse Denise, destacando que a descoberta derrubou também a crença de que a abelha-rainha teria de ser uma descendente de sua antecessora.
Para dar suporte biológico à nova tese, a bióloga aprofundou a investigação. Retirou as rainhas de alguns ninhos mantidos no Laboratório de Abelhas da USP, em São Paulo, e observou-os para ver quem seria a nova rainha.
Primeiro, foi determinado o genótipo parental das pupas da colônia original por meio da técnica de marcadores moleculares de microssatélites. A seguir, após a fecundação da nova rainha, parte de sua asa foi retirada. O material foi submetido à análise de genótipos parentais para indicar o ninho de origem do inseto. Depois, a cria da nova rainha também foi genotipada.
O resultado foi que, em cerca de 25% das substituições das rainhas-mãe, o genótipo das novas crias não coincidiu com o das pupas originais da colmeia, confirmando o parasitismo social intraespecífico.
“Como esse fato foi observado em duas localidades diferentes, São Simão e São Paulo, acreditamos que se trata de um fenômeno comum a esse grupo”, disse Denise.
“No Brasil, relatos de criadores de abelhas sem ferrão também se referem a rainhas virgens andando nas proximidades dos meliponários, mas a sua importância para as colônias órfãs era desconhecida”, afirmou.
Parasitismo intraespecífico
Uma das consequências da descoberta atinge os criadores de abelhas sem ferrão. O protocolo atual de melhoramento genético não considera a possibilidade de uma interferência genética externa por meio da introdução de uma rainha estranha ao ninho.
“Descobrimos que não há como garantir que a linhagem obtida no melhoramento permanecerá constante ao longo das gerações”, observou Denise. Com isso, se um produtor adquiriu uma colmeia com uma linhagem de alta produção de mel, não há garantias de que esses resultados continuarão, pois a colônia está sujeita a receber uma rainha com genótipo diferente.
“Esse estudo abre uma nova linha de pesquisa acadêmica, a de parasitismo intraespecífico, e terá aplicações práticas na genética de populações”, disse Vera Lúcia. Segundo ela, as análises moleculares serão cada vez mais aplicadas na resolução de problemas comportamentais.
“Nossos próximos passos serão no sentido de verificar se esse fenômeno ocorre em todas as abelhas do gênero Melipona”, disse. As abelhas da tribo Meliponini, foco do Projeto Temático coordenado por Vera Lúcia, possuem o ferrão atrofiado. Apenas na região neotropical, que nas Américas vai do México até a Argentina, elas se dividem em mais de 400 espécies já descritas, mas se estima que o número seja bem maior.
“Além disso, essas abelhas são agentes polinizadores muito importantes tanto de espécies vegetais de áreas conservadas como de culturas agrícolas de interesse econômico”, disse.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Geoprópolis e seus benefícios

Encontrei mais um artigo científico, segue abaixo na íntegra!
Extraído de Scielo

Avaliação farmacognóstica de geoprópolis de Melipona fasciculata Smith da Baixada maranhense, Brasil

Pharmacognostic evaluation of geopropolis of Melipona fasciculata Smith from Baixada maranhense, Brazil


Richard Pereira DutraI; Alexandre Michel Costa NogueiraI; Rodrigo René de Oliveira MarquesI; Maria Célia Pires CostaII; Maria Nilce Sousa RibeiroI,*
ILaboratório Farmacognosia, Universidade Federal do Maranhão, Campus Bacanga, 65085-580 São Luís-MA, Brasil
IIDepartamento de Química e Biologia, Universidade Estadual do Maranhão, Campus Universitário Paulo VI, 65055-970 São Luís-MA, Brasil



RESUMO
Melipona fasciculata Smith é uma abelha nativa, social e sem ferrão que produz cera, mel e geoprópolis. O presente trabalho objetivou caracterizar, do ponto de vista farmacognóstico, o geoprópolis de Melipona fasciculata, coletado em meliponários nos municípios de Arari, São Bento e São João Batista, da Baixada maranhense, no Estado do Maranhão, visando estabelecer dados para o controle de qualidade e padronização do produto. A metodologia utilizada constou de análises sensoriais, abordagem química, perfis cromatográficos e determinação dos teores de flavonóides. Os resultados demonstram que o geoprópolis apresenta características sensoriais similares às encontradas para própolis de Apis mellifera, presença de compostos fenólicos em maior concentração, além de substâncias da classe dos terpenos e saponinas e ausência de alcalóides. Os perfis cromatográficos indicaram que a composição e concentração das substâncias químicas são diferentes entre as amostras. Os teores de flavonóides variaram de 0,17 - 2,6%, os quais para a maioria das amostras apresentaram valores acima do mínimo exigido pela legislação brasileira para própolis de Apis mellifera. Os dados encontrados sugerem que as variações qualitativa e quantitativa de flavonóides e outros constituintes químicos no geoprópolis são fortemente afetados pela flora visitada pelas abelhas, região geográfica e fatores ambientais.
Unitermos: Geoprópolis, Melipona fasciculata, Flavonóides, Controle de qualidade, Padronização.

ABSTRACT
Melipona fasciculata Smith is a native, social, stingless bee species that produces wax, honey and geopropolis. This work aimed to do a pharmacological evaluation of Melipona fasciculata geopropolis, collected in beehives in the municipal districts of Arari, São Bento and São João Batista, in Baixada maranhense, in the state of Maranhão, Brazil, seeking to obtain basis for the quality control and standardization of the product. The methodology used included the accomplishment of sensorial analyses, chemical approach, chromatographic profiles and determination of the flavonoids contents. The results demonstrate that the geopropolis have organoleptic characteristics similar to the ones found for the propolis of Apis mellifera, presence of phenolic compounds in larger concentration, besides substances of the class of the terpenes and saponins and absence of alkaloids. The chromatographic profiles indicated that the composition and concentration of the chemical substances are different among the samples. The flavonoids contents ranged between 0.17 - 2.6%. The content for most of the samples presented values above the minimum demanded by the Brazilian legislation for propolis of Apis mellifera. The found data suggest that the qualitative and quantitative variations of flavonoids and other chemical substances in geopropolis are strongly affected for the flora visited by the bees, geographical area and environmental factors.
Keywords: Geopropolis, Melipona fasciculata, Flavonoids, Control quality, Standartization.



INTRODUÇÃO
Os meliponíneos, abelhas nativas, sociais e sem ferrão, ocupam grande parte das regiões de clima tropical no planeta, especialmente na América do Sul. No Brasil são conhecidas mais de 400 espécies de abelhas nativas, as quais são responsáveis em 90% pela polinização de vegetais nativos. No estado do Maranhão, Melipona fasciculata Smith (tiúba) já vem sendo cultivada há séculos pela população indígena, para produção de mel. Atualmente são criadas comercialmente em agrupamentos de colônias, denominados meliponários, que constituem a meliponicultura (Kerr, 1987; Nogueira-Neto, 1997).
Melipona fasciculata Smith coleta material resinoso das plantas e traz para sua colméia, mistura com cera e barro ou terra formando o geoprópolis (Kerr, 1987), diferentemente da própolis produzida pela Apis mellifera,abelha introduzida no Brasil. Dentre os produtos apícolas a própolis vem se destacando tanto pelas suas propriedades terapêuticas como antimicrobiana, antiinflamatória, analgésica, cicatrizante, anticariogênica e anestésica, quanto pela possibilidade de aplicação na indústria alimentícia e farmacêutica (Ghisalberti, 1979; Bankova et al., 1989; Park et al., 1998a,b; Koo et al., 1999; Reis et al., 2000; Dos Santos et al., 2003; Soares et al., 2006; Longhini et al., 2007; Simões et al., 2008).
Os efeitos terapêuticos da própolis têm sido atribuídos aos diversos compostos polifenólicos que a compõem. Entre eles, os flavonóides e ácidos fenólicos podem ser considerados os principais compostos (Marcucci, 1995; Sousa et al., 2007; Lustosa et al., 2008; Nascimento et al., 2008). Silva et al. (2006) demonstraram a correlação entre os níveis de compostos fenólicos de extratos de própolis brasileiras e suas atividades antimicrobianas.
Estudos sobre composição química e ação farmacológica de geoprópolis tropical são excassos. Tomas-Barberan et al. (1993) descreveram compostos fenólicos de geoprópolis de cinco espécies de abelhas da Venezuela. Bankova et al. (1998) identificaram mais de cinqüenta compostos, principalmente fenólicos e terpênicos de geoprópolis brasileiro, produzido pelas abelhas Melipona compressipes, Melipona quadrifasciata anthidioides eTetragona clavipes.
O estado do Maranhão apresenta um forte potencial apícola e meliponícula mas, pesquisas científicas relacionadas aos temas são incipientes, o que justifica o estudo das características físico-químicas, químicas e farmacológicas do geoprópolis maranhense. Nogueira et al. (2004a,b) demonstraram que o geoprópolis maranhense tem cheiro, odor e sabor característico, é rico em substâncias químicas das classes dos compostos fenólicos e dos triterpenos. Gomes et al. (2003) demonstraram as atividades antiinflamatória e analgésica do extrato hidroalcoólico de geoprópolis da tiúba. Duailibe (2004) demonstrou que o uso de bochecho da solução do extrato alcoólico de geoprópolis da tiúba diminuiu em 48,5% o número de colônias de Streptococcus mutans, na saliva dos pacientes.
O governo do estado do Maranhão inseriu nos últimos anos a apicultura e a meliponicultura dentro dos arranjos produtivos como áreas estratégicas, para desenvolver e alavancar a agricultura familiar do estado (BNB, 2001). Essas atividades são consideradas, hoje, uma das grandes opções para a região nordestina, especialmente no estado do Maranhão, por sua posição geográfica, por possuir grande número de ecossistemas, por explorar o potencial nativo da flora e por gerar trabalho e renda ao homem do campo.
A caracterização e a padronização química do geoprópolis, levando em conta as condições ambientais em que são produzidos, são fundamentais para melhorar a qualidade desses produtos e dar garantia às pessoas que os compram e os consomem.
No presente trabalho objetivou-se caracterizar do ponto de vista farmacognóstico o geoprópolis de Melipona fasciculata (tiúba), coletados em meliponários nos municípios de Arari, São Bento e São João Batista, localizados na região da Baixada maranhense, procurando estabelecer parâmetros sensoriais, perfis cromatográficos e teores de flavonóides, como base para obtenção de dados para o controle de qualidade e padronização do produto.

MATERIAL E MÉTODOS
Coleta de material
As amostras de geoprópolis de Melipona fasciculata Smith, foram coletadas com auxílio de espátulas esterilizadas, diretamente em meliponários de diferentes localidades dos municípios de Arari, São João Batista e São Bento, da Baixada maranhense, Brasil, no final da estação chuvosa e início da estação seca, durante o mês de agosto de 2003. Foram acondicionados, isoladamente em frascos de vidro âmbar esterilizados e mantidos sob refrigeração, as quais foram denominadas 1-7 respectivamente.
Os municípios da Baixada maranhense são formados por diferentes ecossistemas, como manguezais, campos inundáveis, lagoas, babaçuais e florestas (Moura, 2004).
Análises sensoriais
As amostras de geoprópolis após coleta foram submetidas a análises sensoriais de: aroma, cor e sabor (Marcucci et al., 1998; Brasil, 2001).
Preparação dos extratos orgânicos de geoprópolis
Os geoprópolis de cada localidade separadamente foram triturados em turbolizador e macerados em etanol a 70%, por 24 h, filtrados para separação da parte inorgânica (terra), obtendo-se soluções hidroalcoólicas de geoprópolis, as quais foram concentradas em evaporador rotativo e seco até peso constante. Os extratos hidroalcoólicos de geoprópolis (EHAG) foram acondicionados em frascos âmbar e mantidos sob refrigeração para as posteriores análises.
Abordagem química dos EHAG
Os EHAG foram submetidos à abordagem química para verificação de compostos das classes dos compostos fenólicos, alcalóides, terpenos e saponinas (Matos, 1997).
Perfil cromatográfico dos EHAG
Os EHAG (5 µL) foram submetidos à cromatografia em camada delgada comparativa (CCDC), utilizando-se placas sílica gel 60GF254 + 366 (Merck), usando hexano-acetato de etila (60:40, v/v) como fase móvel. A visualização das manchas foi efetuada por exposição da placa à luz UV (254 e 366 nm). A revelação dos flavonóides, foi realizada através de borrificação com solução alcoólica de AlCl1% (Wagner & Bladt, 1996). As placas foram documentadas por fotografia digital.
Determinação da concentração total de flavonóides dos EHAG
A concentração de flavonóides foi determinada utilizando AlCl3 para formar o complexo, usando espectrofotômetro Cary 50 UV-VIS a 425 nm. Concentrações de quercetina (Merck) foram usadas como padrões e os resultados obtidos foram expressos como grama (g) de quercetina por 10 mL de extrato hidroalcoólico de geoprópolis (%) (Woisky & Salatino, 1998; Chaillou et al., 2004; Funari & Ferro, 2006).
Análise estatística
Todas as análises espectrofotométricas foram realizadas em triplicatas. Com esses resultados foi feita Análise de Variância (ANOVA) seguida do teste de comparações múltiplas (Newman-Keuls) utilizando o software Graph Pad Prism, versão 4.03, tomando-se o valor de < 0,05 como nível máximo de significância estatística (Sokal & Rohlf, 1996).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os geoprópolis apresentaram-se como fragmentos rígidos de diferentes tamanhos, com granulometria heterogênea (Figura 1), inodoros, coloração marrom escuro e sabor amargo, conforme dados da Tabela 1. Constatou-se que a predominância de terra nas amostras não permite uma diferenciação sensorial.


As análises sensoriais dos EHAG estão descritos na Tabela 2. As amostras 1-5 possuem cor marrom escuro, odor resinoso a adocicado e sabor insípido, enquanto as amostras 6-7 apresentam odor adocicado, sabor amargo e cor marrom escuro. Esses caracteres são similares aos encontrados para a própolis de Apis mellifera,coletadas em diferentes regiões brasileiras (Marcucci, 1995; Park et al., 2002; Franco et al., 2000; Funari & Ferro, 2006).
Os rendimentos dos processos extrativos das amostras de geoprópolis obtidos por maceração em etanol a 70% (v/v) variaram entre 1,10 - 5,83% (Tabela 3). Bankova et al. (1998) submeteram amostras de geoprópolis deMelipona compressipes coletadas no município de Picos-PI a maceração em etanol a 70% (v/v), obtendo rendimento de 5% de extrato seco, enquanto que amostras de geoprópolis de Melipona quadrifasciata anthidioides do município de Prudentópolis-PR, tiveram rendimento de 17%. Estudos realizados por Cunha et al. (2004) indicam que o maior rendimento nos processos de extração de própolis por maceração ocorre nos sistemas onde a proporção de etanol é igual ou superior a 70% (v/v).


A tiúba utiliza além do material retirado das plantas, terra para formar o geoprópolis, cujo teor variou aproximadamente entre 94-98% (Tabela 4), diferentemente de outras espécies de Apidae, como Apis mellifera, que utilizam material das plantas e adicionam cera e secreções salivares para formar a própolis.
A abordagem química dos extratos hidroalcoólicos de geoprópolis indicou a presença de substâncias das classes dos compostos fenólicos, dos triterpenos e das saponinas (Tabela 3) predominando maior concentração de compostos fenólicos nas amostras 1-3, diminuindo a concentração dos mesmos nas amostras 5-7. Substâncias fenólicas estão presentes em própolis de Apis mellifera européias e sul-americanas (Greenaway et al., 1990; Marcucci et al., 1998; Woisky & Salatino, 1998; Bankova et al., 2000) e em geoprópolis brasileiras das abelhasMelipona compressipes (Picos-PI), Tetragona clavipes Melipona quadrifasciata anthidioides (Prudentópolis-PR) (Tomas-Barberan et al., 1993; Bankova et al., 1998). Somente as amostras 1, 2, 5 e 6 apresentaram reação fracamente positiva para triterpenos e saponinas. Substâncias triterpênicas têm sido detectadas em própolis tropicais de Apis mellifera e geoprópolis (Bankova et al., 2000; Silva et al., 2005). Não foram detectados alcalóides nas amostras analisadas.
Na Figura 2 estão apresentados os perfis cromatográficos dos EHAG. As amostras 1-7 analisadas por CCDC e reveladas com lâmpadas UV indicaram presença de manchas fluorescentes em cada amostra. A intensificação das fluorescências nas manchas, após borrificação com AlCl3 1%, comprova a presença de substâncias flavonoídicas. A presença dos flavonóides foi confirmada pelo doseamento dos mesmos utilizando ensaios espectrofotométricos.


Os teores de flavonóides encontrados nas amostras variaram entre 0,17 - 2,67% (Tabela 6). Constatou-se que a amostra 2 apresenta o maior teor de flavonóides (2,67%), que de acordo com a legislação brasileira para classificação de própolis de Apis mellifera, pode ser considerada como de alto teor de flavonóides. As amostras 1 (1,77%), 5 (1,12%), 6 e 7 (0,61%), apresentaram valores acima do teor médio exigido pela legislação. Enquanto as amostras 3 e 4 apresentaram 0,17% de flavonóides, podendo ser classificadas de própolis de baixo teor, conforme exigido pela referida legislação (Brasil, 2001; Funari & Ferro, 2006). Ressalta-se a falta de legislação para produtos de outras espécies de abelhas.




Os resultados da análise estatística, evidenciaram diferenças significativas entre os EHAG 1, 2, 5, 6 e 7 para o teor de flavonóides (p < 0,001), entretanto entre os EHAG 3 e 4 a diferença não foi significativa (> 0,05).
A variação qualitativa e quantitativa de flavonóides e outros constituintes químicos em própolis e geoprópolis é fortemente afetadas pela flora visitada pelas abelhas, região geográfica e fatores climáticos (Teixeira et al., 2003; Bankova, 2005; Gomes-Caravaca et al., 2006). Considerando que a região da Baixada maranhense é formada por ecossistemas heterogêneos, constituindo-se de litoral atlântico, reentrâncias e manguezais, lagoas e terras alagadas, terrenos altos com capoeiras, babaçuais e mata (Moura, 2004), é justificada a variação destes constituintes químicos.
Os resultados obtidos permitem obter parâmetros de controle qualidade para o geoprópolis e seus derivados da Baixada maranhense. Considerando que a região é uma grande produtora de mel, produto base do negócio apícola e meliponícula, o conhecimento do perfil de qualidade agrega valores a mais um produto deste setor, contribuindo para o desenvolvimento do agronegócio no estado do Maranhão.

AGRADECIMENTOS
Ao CNPq pelo auxílio financeiro (Proc nº CNPq/UEMA 5507387/01-0) e bolsa de Iniciação Cientifica para Alexandre M. C. Nogueira. À FAPEMA pela bolsa de mestrado de Richard Pereira Dutra. A Central Analítica do Departamento de Química - UFMA pelo uso do espectrofotômetro UV-VIS.

REFERÊNCIAS
Bankova V, Popov S, Marekov NL 1989. Isopentenyl cinnamates from poplar buds and propolis. Phytochemistry 28:871-873.         [ Links ]
Bankova V, Christov R, Marcucci MC, Popov S 1998. Constituents of brazilian geopropolis. Z Naturforschung 53c:402-406.         [ Links ]
Bankova V, Castro SL, Marcucci MC 2000. Propolis: recent advances in chemistry and plant origin. Apidologie 31:3-15.         [ Links ]
Bankova V 2005. Chemical diversity of propolis and the problem of standardization. J Ethnopharmacol 100:114-117.         [ Links ]
BNB 2001. Diversificação da produção Apícola. Palestra proferida no lançamento do programa de desenvolvimento da apicultura do Estado do Maranhão. Banco do Nordeste, São Luís, Brasil.         [ Links ]
Brasil 2001. Ministério de Agricultura e do Abastecimento. Instrução normativa nº 3 - Anexo VI - Regulamento técnico para fixação de identidade e qualidade de própolis. Diário Oficial da Republica Federativa do Brasil. Brasília, Brasil.         [ Links ]
Chaillou LL, Herrera HA, Maidana JF 2004. Estudo de própolis de Santiago Del Estero, Argentina. Cien Tecnol Aliment 24:11-15.         [ Links ]
Cunha IBS, Sawaya ACHF, Caetano FM, Shimizu MT, Marcucci MC, Drezza FT, Povia GS, Carvalho PO 2004. Factors that influence the yield and composition of Brazilian propolis extracts. J Braz Chem Soc 15:964-970.         [ Links ]
Dos Santos CR, Arcenio F, Carvalho ES, Lúcio EMRA, Araújo GL, Teixeira LA, Sharapin N, Rocha L 2003. Otimização do processo de extração de própolis através da verificação da atividade antimicrobiana. Rev Bras Farmacogn 13:71-74.         [ Links ]
Duailibe SAC 2004. Efeito do extrato de própolis na contagem de Streptococcus mutans da cavidade oral. São Luís, 73p. Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal do Maranhão.         [ Links ]
Franco SL, Bruschi ML, Moura LPP, Bueno JHF 2000. Avaliação farmacognóstica da própolis da região de Maringá. Rev Bras Farmacogn 9/10:1-10.         [ Links ]
Funari CS, FerroVO 2006. Análise de própolis. Cien Tecnol Aliment 26:171-178.         [ Links ]
Ghisalberti EL 1979. Propolis: A review. Bee World 60:59-84.         [ Links ]
Gomes VA, Nogueira AMC, Marques EC, Santana ER, Barros FER, Borges MOR, Borges ACR, Ribeiro MNS 2003. Estudos das atividades antiinflamatórias e antinociceptiva da própolis de Melipona compressipes fasciculataSmith (tiúba). XV Seminário de Iniciação Científica. São Luís, Brasil.         [ Links ]
Gómez-Caravaca AM, Gómez-Romero M, Arráez-Román D, Segura-Carretero A, Fernández-Gutiérrez A 2006. Advances in the analysis of phenolic compounds in products derived from bees. J Pharmacol Biom Anal 41:1220-1234.         [ Links ]
Greenaway W, Scaysbrook T, Whatley FR 1990. The composition and plant origins of propolis. Bee World 71:107-118.         [ Links ]
Kerr W 1987. Abelhas indígenas brasileiras (meliponíneos) na polinização e na produção de mel, pólen, geoprópolis e cera. Inf Agropec 13:15-27.         [ Links ]
Koo H, Park YK, Ikegaki M, Cury JA, Rosalen PL 1999. Effect of Apis mellifera propolis from two Brazilian regions on caries development in desalivated rats. Caries Res 33:393-400.         [ Links ]
Longhini R, Raksa SM, Oliveira ACP, Svidzinski TIE, Franco SL 2007. Obtenção de extratos de própolis sob diferentes condições e avaliação de sua atividade antifúngica. Rev Bras Farmacogn 17:388-395.         [ Links ]
Lustosa SR, Galindo AB, Nunes LCC, Randau KP, Rolim Neto PJ 2008. Própolis: atualizações sobre a química e a farmacologia. Rev Bras Farmacogn 18:447-454.         [ Links ]
Marcucci MC 1995. Própolis: a chemical composition, biological properties and therapeutic activity. Apidologie 26:83-99.         [ Links ]
Marcucci MC, Rodriguez J, Ferreres F, Bankova V, Groto R, Popov S 1998. Chemical composition of Brazilian propolis from São Paulo State. Z Naturforsch 53c:117-119.         [ Links ]
Matos FJA 1997. Introdução à Fitoquímica Experimental. Fortaleza: Edições UFC.         [ Links ]
Moura EG 2004. Agroambientes de Transição: entre o trópico úmido e o semi-árido do Brasil. São Luís: UEMA.         [ Links ]
Nascimento EA, Chang R, Morais SAL, Piló-Veloso D, Reis DC 2008. Um marcador químico de fácil detecção para a própolis de Alecrim-do-Campo (Baccharis dracunculifolia). Rev Bras Farmacogn 18:379-386.         [ Links ]
Nogueira AMC, Matos RRO, Costa MCP, Ribeiro MNS 2004a. Própolis da tiúba (Melipona compressipes fasciculataSmith): aspectos químicos e físico-químicos. LVI Reunião Anual da Sociedade Brasileira Progresso da Ciência. Brasília, Brasil.         [ Links ]
Nogueira, AMC, Matos RRO, Gomes VA, Ribeiro MNS, Borges MO R, Borges ACR, Costa MCP 2004b. Química e farmacologia de geoprópolis da tiúba. IV Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. São Luís, Brasil.         [ Links ]
Nogueira-Neto P 1997. A vida e criação de abelhas indígenas sem ferrão (Meliponinae). São Paulo: Nogueirapes.         [ Links ]
Park YK, Koo H, Ikegaki M, Cury JA, Rosalen PL, Abreu JAS 1998a. Antimicrobial activity of propolis on oral microorganisms. Cur Microbiol 34:24-28.         [ Links ]
Park YK, Koo H, Ikegaki M, Cury JA, Rosalen PL, Abreu JAS 1998b. Effect of propolis on Streptococcus mutans, Actinomyces naeslundii and Staphylococcus aureus. Rev Microbiol 29:143-148.         [ Links ]
Park YK, Alencar SM, Aguiar CL 2002. Botanical origin and chemical composition of Brasilian propolis. J Agric Food Chem 50:2502-2506.         [ Links ]
Reis CMF, Carvalho JCT, Caputo LRG, Patrício KCM, Barbosa MVJ, Chieff AL, Bastos JV 2000. Atividade antiinflamatória, antiúlcera gástrica e toxicidade subcrônica do extrato etanólico de própolis. Rev Bras Farmacogn 9/10:43-52.         [ Links ]
Silva MSS, Cito AMGL, Chaves MH, Lopes JAD 2005. Triterpenóides tipo cicloartano de própolis de Teresina - PI.Quim Nova 28:801-804.         [ Links ]
Silva JFM, Souza MC, Matta SR, Andrade MR, Vidal FVN 2006. Correlation analysis between phenolic levels of Brazilian propolis extracts and their antimicrobial and antioxidant activities. Food Chem 99:431-435.         [ Links ]
Simões CC, Araújo DB, Araújo RPC 2008. Estudo in vitro e ex vivo da ação de diferentes concentrações de extratos de própolis frente aos microrganismos presentes na saliva de humanos. Rev Bras Farmacogn 18:84-89.         [ Links ]
Soares AKA, Carmo GC, Quental DP, Nascimento DF, Bezerra FAF, Moraes MO, Moraes MEA 2006. Avaliação da segurança clínica de um fitoterápico contendo Mikania glomerata, Grindelia robusta, Copaifera officinalis, Myroxylon toluifera, Nasturtium officinale, própolis e mel em voluntários saudáveis. Rev Bras Farmacogn 16:447-454.         [ Links ]
Sokal RR, Rohlf FJ 1996. Biometry: The principle and practice of statistics. Biological Research. 2 ed. New York: W.H. Freeman and company.         [ Links ]
Sousa JPB, Furtado NAJC, Jorge R, Soares AEE, Bastos JK 2007. Perfis físico-químico e cromatográfico de amostras de própolis produzidas nas microrregiões de Franca (SP) e Passos (MG), Brasil. Rev Bras Farmacogn 17:85-93.         [ Links ]
Teixeira EW, Message D, Meira RMSA, Salatino A 2003. Indicadores da origem botânica da própolis: Importância e perspectivas. Boletim da Industria Animal, Nova Odessa 60:83-106.         [ Links ]
Tomas-Barberan FA, Garcia-Viguera C, Vit-Olivier P, Ferreres F, Tomas-Lorente F 1993. Phytochemical evidence for the botanical origin of tropical from Venezuela. Phytochemistry 34:191-196.         [ Links ]
Wagner H, Bladt S 1996. Plant drug analysis: a thin layer chromatography atlas. Berlin: Springer.         [ Links ]
Woisky RGR, Salatino A 1998. Analysis of propolis: some parameters and procedures for chemical quality control. J Apic Res 37:99-105.         [ Links ]


Received 4 September 2008; Accepted 4 October 2008

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Como criar abelhas sem ferrão

07 de Janeiro de 2014 por Revista GloboRural

Elas não oferecem risco à população e podem ser manejadas em áreas urbanas. Atividade rende mel saboroso e com menos açúcar

POR JOÃO MATHIAS


como_criar_abelha_ferrao (Foto: Gilvan Barreto/Ed. Globo)

Se o receio de levar ferroadas é o que impede de se colocar em prática o interesse pela produção de mel, alimento com demanda certa, por ser um produto saudável e delicioso, uma boa alternativa é o manejo de abelhas sem ferrão. Impossibilitadas de dar doloridas picadas, elas não precisam de fumaça para ser acalmadas nem que o apicultor use equipamentos de proteção individual (EPIs), como macacão com máscara conjugada, botas de borracha e luvas de nitrila.

Atrofiado ao longo da evolução das espécies desse grupo, o ferrão não oferece risco à população, permitindo que essas abelhas possam ser criadas em áreas próximas de pessoas e animais, inclusive em ambientes urbanos. Mas vale ressaltar que, quando se sentem ameaçadas, elas se defendem mordendo geralmente olho, orelha, nariz e cabelo do invasor. O uso de um véu, no entanto, é o suficiente para proteger o rosto de algum ataque.

Formão, fita adesiva e alimentadores são os materiais de manejo para iniciar a criação que, junto com o véu, custam cerca de R$ 100. São necessários mais R$ 500 para a estrutura e cobertura das colônias, as quais variam de R$ 100 a R$ 300 dependendo da espécie e da região do país.

Há centenas de espécies de abelhas sem ferrão em regiões tropicais e subtropicais do mundo. Possuem grande diversidade de formas, cores e tamanhos, com exemplares medindo de 0,2 centímetro de comprimento até próximo de 2 centímetros. Aqui, são conhecidas cerca de 200 delas, destacando-se a jataí, a arapuá e a tiúba.
Também chamadas de meliponíneos, as abelhas sem ferrão formam colônias perenes habitadas tanto por algumas dezenas quanto por vários milhares de indivíduos. Em geral, constroem os ninhos dentro de cavidades já existentes, sendo que a maioria vive dentro de ocos de árvores. Algumas espécies gostam de instalar seus ninhos no solo, em cupinzeiros e em lugares altos.

Em cativeiro, as abelhas sem ferrão são criadas em caixas pequenas, que não exigem esforço físico e ocupam menos espaço. Por outro lado, com uma população reduzida, a produtividade da colônia da maioria das espécies, de 1 a 4 litros de mel por ano, é menor se comparada com a das abelhas com ferrão, que registra de 20 a 40 litros por ano.
Contudo, além de ter 10% menos de açúcar, o mel de abelha sem ferrão apresenta tipos diferentes de acordo com cada espécie produtora, ampliando o leque de opções para o mercado e agregando valor ao alimento, cujos preços no varejo variam de R$ 30 a R$ 100 por litro. Enquanto alguns são mais viscosos e doces, outros são mais líquidos e azedos.

como_criar_abelha_ferrao (Foto: Amilton Vieira/Ed. Globo)
Mãos à obra
>>> INÍCIO 
Embora comprar de outros criadores seja mais prático, é possível capturar abelhas sem ferrão da natureza por meio de ninhos-armadilhas ou outros métodos que não prejudiquem o meio ambiente. Para isso, é necessário obter permissão do órgão ambiental competente da região. Meliponários com menos de 50 colônias precisam se inscrever no Cadastro Técnico Federal do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Além do cadastro, meliponários com 50 ou mais colônias devem solicitar autorização em órgãos ambientais estaduais.
>>> EXPANSÃO  Para aumentar o plantel, o criador pode optar pela divisão de uma colônia forte em duas novas. Para receber as abelhas que estão voando, basta colocar a metade dos favos da criação em uma caixa vazia e instalá-la no lugar onde está a caixa-mãe. Enquanto a rainha que está botando permanece na colônia-mãe, uma nova nascerá na colônia-filha. Acompanhe e alimente ambas a cada semana até que se fortaleçam novamente.
>>> INSTALAÇÕES Os ninhos são feitos com caixas rústicas de madeira e em vários tamanhos. Cabaças, cortiços e outros materiais também podem ser usados. Em prateleiras, mantenha cada unidade distante 0,5 metro entre si e, em cavaletes individuais, 1,5 metro. Para atrair as abelhas, acomode dentro dos ninhos um pouco de cerume e resina extraídos de outras colônias.
>>> AMBIENTE É importante ter plantas no entorno da criação, pois os produtos que fabricam dependem da disponibilidade de flores na vizinhança. Apesar de as abelhas serem resistentes às oscilações de temperatura, proteja os ninhos da exposição ao sol, à chuva e de ventos fortes. Certifique-se de que haja água limpa nas proximidades.
>>> CUIDADOS Com óleo queimado, graxa ou outros produtos, pincele o suporte das colônias recém-formadas, ou fracas, para impedir o acesso de formigas. Pequenas moscas ligeiras (forídeos), que botam ovos nos potes de pólen, enfraquecendo os enxames, podem ser evitadas vedando as colônias com fita adesiva.
>>> ALIMENTAÇÃO Oferecidos pelas flores, o néctar, fonte de açúcares, e o pólen, de proteína, vitaminas e minerais, são os principais alimentos das abelhas. Em época de pouca florada, forneça, de uma a duas vezes por semana, uma mistura de açúcar com água na proporção de um para um, fervida ou batida no liquidificador. Coloque em copinhos de café com alguns palitos de picolé para que não se afoguem.
>>> COLETA A primeira coleta poderá ser feita em menos de um ano após o início da atividade. Com 20 colônias, é possível produzir de 20 a 80 litros de mel por ano, dependendo da espécie e da disponibilidade de flores no entorno.
RAIO X
Criação mínima:
 20 colônias
Custo: de R$ 2 mil a R$ 6 mil para comprar 20 colônias, mais R$ 600 para adquirir estrutura, cobertura e materiais de manejo
Retorno: o mel pode ser coletado antes de se completarem 12 meses
de atividade
Reprodução: a expansão do plantel é feita com a divisão de uma colônia forte em duas novas
*Cristiano Menezes é pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Trav. Dr. Enéas Pinheiro, s/no, Caixa Postal 48, Belém (PA), CEP 66095-100, tel. (91) 3204-1063, cristiano.menezes@embrapa.br
Onde adquirir: de criadores idôneos ou capturadas na natureza
Mais informações: podem ser obtidas na página da Empresa de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na internet (mel.cpatu.embrapa.br); e no livro Vida e criação de abelhas indígenas sem ferrão, de Paulo Nogueira Neto, disponível gratuitamente no site webbee.org.br