Centenas de espécies de flores desenvolveram a capacidade de projetar halos de luz azul invisíveis para os humanos para atrair abelhas polinizadoras, revelaram cientistas em um estudo publicado.
Em experimentos de laboratório, mamangavas (abelhas do gênero bombus) foram atraídas por flores sintéticas projetadas para gerar o mesmo tipo de anéis ultravioleta, segundo a pesquisa publicada na revista científica Nature.
"O efeito ocorre na parte ultravioleta do espectro óptico que não podemos ver", disse à AFP o coautor do estudo, Ullrich Steiner, pesquisador do Instituto Adolphe Merkle em Friburgo, na Suíça. "Mas as abelhas podem".
Os pesquisadores ficaram surpresos com os resultados.
Para começar, a arquitetura em nanoescala da planta produzindo esses halos azuis parece desordenada e varia significativamente de flor para flor.
"Nós sempre presumimos que a desordem que observamos nas superfícies de pétalas era apenas um subproduto acidental da vida - que as flores não podiam fazer melhor que isso", disse o autor sênior Beverly Glover, diretor do Jardim Botânico da Universidade de Cambridge.
"Mas a desordem que vemos na nanoestrutura de pétalas parece ter sido aproveitada pela evolução e acaba ajudando a comunicação floral com as abelhas".
A parceria entre os insetos e as plantas com flores começou mais de 100 milhões de anos atrás.
O mecanismo de reprodução dos animais funciona através da atração sexual. Mas as plantas, enraizadas no chão, tiveram que encontrar outra estratégia para se reproduzir. Elas precisavam de intermediários.
- Mistério resolvido -
Aí entram os pássaros e as abelhas, junto com o vento e qualquer veículo que possa transportar o pólen de uma flor para outra.
Estudos anteriores mostraram que as abelhas em busca de plantas que fornecem néctar são atraídas por odores, mas na maioria das vezes sua escolha é influenciada pelas cores e formatos das pétalas.
As abelhas são especialmente sensíveis à banda de cores no espectro de luz onde o azul se gradua em ultravioleta.
De alguma forma, algumas plantas são geneticamente programadas para "saber" disso. E, no entanto, paradoxalmente, o azul é uma cor relativamente incomum em flores.
"Muitas flores carecem da capacidade genética e bioquímica para manipular a química do pigmento no espectro azul para ultravioleta", disse a coautora Silvia Vignolini, bioquímica da Universidade de Cambridge.
Então, arrumar as moléculas nas pétalas de modo que a luz solar refletida produza um halo azul surgiu como uma estratégia evolutiva para atrair polinizadores.
Esse mecanismo evoluiu "muitas vezes em diferentes linhagens de flores, convergindo, em todos os casos, para esse sinal óptico para polinizadores", disse Glover.
Cientistas não envolvidos no estudo disseram que este respondeu algumas perguntas de longa data.
"Os dados fornecem provas abrangentes de que o halo azul é o sinal visual-chave que atrai abelhas", disse Dimitri Deheyn, cientista da Instituição Scripps de Oceanografia da Universidade da Califórnia, em San Diego.
"Um mistério foi resolvido", comentou no jornal Nature.