segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Aberta consulta pública para mudança nas normas de pequenas agroindústrias de mel

Fonte: AMA Mogiana

Mapa vai adequar a legislação para atender à realidade de pequenos produtores



O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) abriu nesta quinta-feira (25) consulta pública de 60 dias para que a sociedade envie sugestões ou comentários à proposta que altera normas exigidas a pequenas agroindústrias de mel, ovos de galinha e de codorna e derivados. A pasta vai adequar a legislação atual para dar segurança jurídica aos pequenos agricultores e, ao mesmo tempo, garantir segurança e inocuidade aos alimentos.
As consultas públicas foram publicadas na edição desta quinta-feira do Diário Oficial da União, que também traz as propostas de Instrução Normativa (IN) elaboradas pelo Mapa. O documento estabelece os requisitos de equivalência ao Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) relativos a estrutura física, dependências e equipamentos das pequenas agroindústrias de mel e ovos.
O principal objetivo é reduzir cobranças incompatíveis com o tamanho da atividade dos estabelecimentos. Hoje, grande parte desses agricultores desenvolve suas atividades informalmente porque as regras levam em conta apenas a realidade das agroindústrias de maior porte.
Todas as pessoas, órgãos e entidades interessadas têm 60 dias para enviar sugestões ou comentários aos canais de comunicação do Mapa (veja abaixo os endereços). Ao fim do período, a proposta do ministério poderá ser alterada de acordo com as necessidades apontadas pela sociedade.
As mudanças nos requisitos das pequenas agroindústrias de mel e ovos faz parte de uma política do Mapa de desburocratizar e facilitar o trabalho do produtor rural. Outros produtos de origem animal também estão no foco. A consulta pública para os estabelecimentos produtores de leite e derivados se encerrou no último dia 18 e, para os próximos meses, o Mapa planeja contemplar ainda pescados, embutidos e aves.
Requisitos
A proposta do Mapa define como pequeno estabelecimento aquele que recebe para processamento no máximo 2.400 ovos de galinha ou 12 mil ovos de codorna por dia. Para o mel, o limite é de 40 toneladas de mel processados por ano. Em ambos os casos, a agroindústria deve possuir área útil construída de até 250 metros quadrados.
As instruções normativas propostas não abrem mão do rigor sanitário, mas flexibilizam algumas normas para atender à realidade dos pequenos produtores. Determina que os estabelecimentos tenham condições higiênico-sanitárias compatíveis com trabalhos de inspeção sanitária, manipulação de matérias-primas, elaboração de produtos e subprodutos e higienização. Traz ainda, de forma detalhada, exigências em relação às características físicas, condições de temperatura e ventilação e material a ser utilizado em paredes, tetos e pisos.
Contato
Sugestões ou comentários sobre as instruções normativas relativas às pequenas agroindústrias de mel e ovos devem ser enviadas para o endereço eletrônico dnt.dipoa@agricultura.gov.br ou para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Divisão de Normas Técnicas da Coordenação-Geral de Programas Especiais, do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, da Secretaria de Defesa Agropecuária - DNT/CGI/DIPOA, Esplanada dos Ministérios - Bloco D - Anexo A - Sala 414 A - CEP 70.043-900 - Brasília - DF.

Link para o DOU: http://www.jusbrasil.com.br/diarios/109734474/dou-secao-1-25-02-2016-pg-8

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Insetos elevam produtividade agrícola

Fonte: Pesquisa FAPESP

CARLOS FIORAVANTI | Edição Online 23:29 21 de janeiro de 2016

Estudo em 12 países indica que abelhas e outros polinizadores respondem por 24% do ganho em pequenas propriedades

© A,B E C - THIAGO MAHLMANN | D - JULIANA HIPÓLITO

Visitantes da flor de café na Chapada Diamantina baiana: (A) besouro, (B) vespa, (C) abelha e (D) borboletaVisitantes da flor de café na Chapada Diamantina baiana: A) besouro, B) vespa, C) abelha e D) borboleta


Embora estejam mais escassos no campo, por causa da redução da área das matas e do uso intensivo de fertilizantes químicos, as abelhas e outros insetos polinizadores respondem em média por 24% do ganho em produtividade agrícola em pequenas propriedades rurais (até 2 hectares). Os outros 76% estão associados à irrigação e a nutrientes e técnicas de cultivo, de acordo com estudo publicado na revistaScience no dia 22 de janeiro. Segundo esse trabalho, quanto maior o número de polinizadores, maior tende a ser a produtividade agrícola, principalmente nas pequenas propriedades.

A pesquisa foi financiada pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), integra-se ao Projeto Polinizadores do Brasil, do Ministério do Meio Ambiente e foi coordenado por Lucas Garibaldi, da Universidade Nacional de Rio Negro e diretor do Instituto de Investigaciones en Recursos Naturales, Agroecología y Desarrollo Rural, da Argentina, com a participação de 35 pesquisadores de 18 países, incluindo o Brasil, por meio de 12 instituições de pesquisa de oito estados.

Estudos anteriores já haviam ressaltado a importância dos polinizadores para a agricultura (ver Pesquisa FAPESP nº 171) e fornecido uma estimativa dos ganhos de produtividade com polinização por abelhas, equivalente a 10% do valor da produção agrícola mundial (ver Pesquisa FAPESP nº 218). Não existiam, no entanto, análises numéricas tão detalhadas sobre os benefícios econômicos dos polinizadores auferidas pelos mesmos critérios em escala mundial.

Nesse trabalho, os pesquisadores analisaram o número de polinizadores, a biodiversidade e o rendimento de 33 cultivos dependentes de polinizadores (maçã, pepino, caju, café, feijão, algodão e canola, entre outras) em 334 propriedades pequenas e grandes da África, Ásia e América do Sul durante cinco anos (2010-2014), por meio de métodos padronizados e uniformes. Nos 12 países analisados, o rendimento agrícola cresceu de acordo com a densidade de polinizadores, indicando que, inversamente, populações reduzidas de abelhas e outros insetos poderia ser parcialmente responsável pela queda de produtividade.

“Demonstramos o potencial do aumento da densidade de polinizadores como forma de aumentar a produtividade agrícola”, disse Antonio Mauro Saraiva, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade e Computação (Biocomp) e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), que participou do trabalho de organização, registro e análise dos bancos de dados. “Nesse trabalho testamos duas hipóteses, o efeito do aumento da densidade de polinizadores e da riqueza de espécies”, disse ele. Para as pequenas propriedades, o ganho de produtividade dependeu da quantidade de polinizadores e não esteve ligado à diversidade desses animais na propriedade. Para as grandes fazendas, em contrapartida, a única forma de se tornarem mais produtivas seria aumentar tanto a quantidade de polinizadores quanto a diversidade de plantas e animais na área cultivada.

© THIAGO MAHLMANN

 A) a beetle (Coleoptera); B) wasp (Hymenoptera); C) bee (Hymenoptera); and D) a butterfly (Lepidoptera).

Visitantes de flores de maçã na Chapada Diamantina: A) besouro, B) vespa, C) abelha e D) borboleta

“O que mais contribuiu para a diferença entre as taxas de produção mais altas e mais baixas foi o aumento na densidade de polinizadores”, disse Leandro Freitas, pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e um dos autores do trabalho. “O incremento no uso de técnicas convencionais de intensificação agrícola, como o uso de fertilizantes sintéticos e monoculturas, apresentou uma contribuição equivalente à dos polinizadores.”

Freitas examinou o cultivo de tomates no norte do estado do Rio de Janeiro com a equipe de Maria Cristina Gaglianone, da Universidade Estadual do Norte Fluminense. “O grau de informação técnica dos produtores era muito baixo”, ele observou. “Muitos não sabiam que a visitação das flores por abelhas estava relacionada à produção dos tomates.”  Um estudo recente da equipe de Breno Freitas, professor da Universidade Federal do Ceará e também coautor do estudo da Science, indicou que a soja, como o tomate e outros cultivos, não depende de polinizadores, mas pode aumentar sua produtividade com eles.

Garibaldi, o coordenador do trabalho, percorreu as plantações de framboesa da Patagônia e observou: “A visão dos agricultores tem mudado nos últimos anos, mas ainda não dão muita importância aos polinizadores. A prioridade é o retorno econômico de curto prazo, sem uma visão de longo prazo.” Ele ressaltou: “Existem alternativas ao modelo mais adotado de produção agrícola, com base em monocultura e fertilizantes”.

Os autores do artigo da Science ressaltam o conceito de intensificação ecológica, que consiste em adotar medidas de promoção da biodiversidade capazes de aumentar a produtividade agrícola, sem abandonar as práticas convencionais. Essas medidas podem oferecer condições de vida mais amigáveis aos polinizadores, como o plantio de plantas com flores em faixas dos terrenos ou à margem das estradas, a construção de cercas-vivas, a redução do uso de pesticidas e a recuperação das matas nativas próximas aos cultivos. Em um artigo de 2014 naFrontiers in Ecology and the Environment, Garibaldi e sua equipe detalham as possibilidades de implantar essas e outras medidas para ampliar a densidade de polinizadores nas propriedades rurais.

“O próximo passo é implementar essas práticas agroecológicas”, disse Garibaldi. “Aproveitamos todas as oportunidades para apresentar essas possibilidades, para escutar e aprender.” A próxima oportunidade será na quarta reunião da Plataforma Internacional para Biodiversidade e Serviços Ambientais (IPBES), um órgão intergovenamenal criado em 2012 e aberto a todos os países membros das Nações Unidas, marcada para os dias 22 a 28 de fevereiro em Kuala Lumpur, Malásia.

Artigos
GARIBALDI, L. A. ​et alMutually beneficial pollinator diversity and crop yield outcomes in small and large farmsScience, v. 351, n. 6271, 22 jan. 2016, p. 388-391.

GARIBALDI, L. et alFrom research to action: enhancing crop yield through wild pollinators.Frontiers in Ecology and the Environment, v. 12, n. 8, p. 439–447, 2014.

MILFONT, M. de O et alHigher soybean production using honeybee and wild pollinators, a sustainable alternative to pesticides and autopollinationEnvironmental Chemistry Letters, v. 11, n. 4, p. 335-341, 2013.

Conheça as abelhas raras que constroem ninhos individuais com pétalas de flores

Fonte: Pensamento Verde (09/03/2015)

Encontradas na Turquia e Irlanda, espécies Osmia avosetta e Osmia tergestensis utilizam três camadas intercalando pétalas e barro

Duas espécies raras de abelhas têm chamado a atenção por construírem seus ninhos de uma forma diferente. Encontradas na Turquia e Irlanda, a Osmia avosetta e Osmia tergestensis constroem seus ninhos com camadas de pétalas de flores, sendo assim chamados de “sanduíche de flor”.

Ao todo são três camadas intercaladas. A mais externa é feita de pétalas de flores coloridas seguida de uma camada de barro para manter a umidade e finalmente outra camada de pétalas que reveste o interior da câmara.

Apenas um ovo é depositado no interior deste sanduíche, e, depois, na fase larva, se alimenta de néctar e pólen depositado no interior pelo pai. Estas espécies de abelhas vivem por um ano, mas passam cerca de 10 meses dentro do ninho de pétalas e sua vida adulta dura apenas 2 meses.

Fonte: National Geographic

Fonte: National Geographic

Fonte: National Geographic

Fonte: National Geographic

Fonte: National Geographic

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Vida de abelha

Não é só mel que esse inseto oferece: de flor em flor, as abelhas fazem 
a polinização e aumentam o rendimento 
dos produtos agrícolas

 
Abelha polinizando florO mel é um poderoso adoçante natural, conhecido pela humanidade desde a pré-história. Não é, porém, a única contribuição das abelhas à nossa alimentação. Tão pouco a mais importante, se comparada a outro serviço prestado por esses insetos: a polinização.

A produção mundial de alimentos depende desse importante serviço prestado pelas abelhas. No texto a seguir, vamos entender quais as contribuições para a biodiversidade desses pequenos polinizadores e conhecer um pouco mais de suas características.

Entre as mais de 350 mil espécies de plantas com flores, uma avaliação recente estimou que 87,5% delas se beneficiam pela polinização com animais. Assim, beija-flores e outras aves, morcegos e pequenos mamíferos, alguns lagartos e muitos insetos são importantes polinizadores. Para viver, eles dependem de um lugar para morar, alimento, proteção contra os inimigos e parceiros para a cópula.

Recentemente, ficou bem estabelecido que o principal produto do trabalho das abelhas para o homem é o que elas realizam voando de flor em flor. Em busca de alimento, elas fertilizam as flores. O corpo das abelhas tem muitos pelos e os grãos de pólen liberados pelas anteras ficam presos a eles. Na visita às flores, as abelhas, entre outros insetos, transportam os grãos de pólen (com gametas masculinos) de uma flor para o estigma (parte feminina) de outra flor. Assim se dá o processo da polinização.

Vamos ver, na prática, alguns exemplos de alimentos que precisam de polinizadores: o mamão é polinizado por mariposas; o cupuaçu por abelhas sem ferrão muito pequenas; o açaí, por várias espécies de abelha. O melão precisa muito das abelhas para desenvolver o seu fruto com qualidade, assim como as maçãs, o morango, o abacate, o pimentão, a berinjela, as várias pimentas, o tomate e o café, entre muitas outras culturas.

Por isso, a polinização é utilizada na agricultura para aumentar o rendimento dos produtos agrícolas: produzimos maior quantidade dos melhores frutos por área quando os polinizadores estão presentes.  O valor econômico deste serviço dos polinizadores na agricultura foi calculado como, em média, 10% do rendimento agrícola.

O homem utiliza apenas 0,1% das espécies de plantas conhecidas na agricultura. Como podemos calcular o valor dos polinizadores na manutenção da biodiversidade terrestre? É aqui que o serviço ecossistêmico da polinização tem o seu maior valor, inestimável até o momento.

Com seu corpo cheio de pelos e dependência total dos recursos florais (néctar, pólen e em alguns casos óleos florais) para a alimentação dos adultos e da cria, as abelhas são muito importantes para a polinização cruzada das plantas. São conhecidas aproximadamente 20 mil espécies de abelhas no mundo, cerca de 2 mil no Brasil, já descritas pelos cientistas. Saber o nome da abelha que estamos estudando ou observando é muito importante, porque assim buscamos informações sobre elas na literatura.

Quando falamos em abelhas, pensamos geralmente nas abelhas domésticas, chamadas de europeias ou africanizadas. Os cientistas a chamam de Apis mellifera. É uma abelha muito abundante no campo e nas cidades, nativa na África, Europa e parte da Ásia e introduzida pelos colonizadores nos outros continentes. No Brasil, veio após a chegada da família real, pelo padre Antonio Carneiro, em 1839, com o objetivo de fornecer cera para a confecção de velas usadas nos ofícios religiosos (naquele época, as abelhas Apis eram consideradas o símbolo da pureza e do trabalho).

As Apis vivem em colônias grandes, com um ninho de arquitetura muito simples: são favos verticais, compostos de células hexagonais justapostas umas às outras, que servem tanto para abrigar a cria quanto para guardar o alimento coletado.

Os indivíduos da colônia têm dois sexos, feminino (rainha e operárias) e masculino (o zangão). As fêmeas das colônias pertencem a duas castas, uma reprodutiva, a rainha, que é a fêmea que bota os ovos; outra estéril, as operárias, que são filhas da rainha e que fazem todo o trabalho da colônia (cuidado com a prole, limpeza, coleta de alimento, produção de cera, guarda, entre outras atividades).

A função da rainha no ninho é botar ovos, que se desenvolvem em larvas, pré-pupas, pupas e finalmente adultos (o desenvolvimento completo demora 20 dias para as operárias e 15 para as rainhas). As colônias de abelhas, consideradas verdadeiramente sociais, apresentam cuidado com a prole, sobreposição de gerações e uma casta reprodutiva.

As abelhas começaram a ser criadas pelo homem há muito tempo. Esta criação chama-se apicultura. Hoje ela é praticada no mundo todo, e a principal atividade apícola é o mel. Há outros produtos, como a cera, a própolis, o pólen e até o veneno das abelhas, todos com propriedades medicinais e valor no mercado.

O valor das abelhas na produção de alimentos utilizados pelo homem é muito maior do que o valor do mel produzido por elas. Já vimos um pouco da biologia das abelhas domésticas, as Apis mellifera. Como elas são criadas há muito tempo para a coleta do mel, são utilizadas também como polinizadoras de vários cultivos agrícolas no mundo todo.

Outras espécies de abelhas
Embora tenhamos como ponto de partida para explicar a vida das abelhas a Apis mellifera, com uma socialidade avançada, a maioria das espécies de abelhas encontradas nas flores tem hábitos solitários. Essas abelhas fazem ninhos em orifícios no solo ou em troncos e outros locais abrigados. Logo que nascem são fecundadas e vão procurar alimento nas flores e um lugar para construir os seus ninhos. Uma vez encontrado o local adequado, fazem uma cavidade e depois de preparada ali colocam o alimento, geralmente uma massa de pólen (fonte de proteínas) e néctar de flores. Sobre essa massa colocam o seu ovo. A seguir, fecham a célula e iniciam a construção de outra célula.  Nas abelhas solitárias, maioria entre as espécies conhecidas, a mãe nunca vai encontrar os seus filhos.

Vamos falar agora das abelhas nativas sociais do Brasil, conhecidas como abelhas indígenas sem ferrão ou meliponíneos.  Com certeza nas escolas, nos muros de pedras ou em ocos variados há umas abelhas geralmente pequenas e que nos dias quentes voam muito. Vamos escolher como exemplo uma espécie de abelha muito comum nas cidades, a abelha jataí.

Há mais de 400 espécies de abelhas sem ferrão descritas que vivem nas Américas. São abelhas sociais, tropicais ou subtropicais, que formam colônias de tamanhos e populações variáveis. Uma de suas características principais é a entrada do ninho, com forma típica para cada espécie de abelha.

A característica comum é a alimentação maciça da cria. Assim, as células de cria são construídas e quando estiverem prontas serão aprovisionadas pelas operárias, que regurgitam nelas um alimento larval líquido, composto de mel, pólen e secreções das glândulas hipofaringeanas das abelhas (conhecida como geleia real nas Apis).  A rainha aproxima-se das células com alimento e ali bota o seu ovo.

A célula a seguir é fechada pelas operárias. Após cerca de 40 dias nasce a abelha adulta, e o restante da célula de cria é desmanchado e jogado fora. Várias células de cria justapostas formam um favo de cria. Já o alimento coletado por essas abelhas é colocado em potes especiais, construídos sempre que há alimento disponível na natureza.

Numa colônia de jataí temos muitas operárias com função de guarda que defendem o ninho contra os inimigos (geralmente outros insetos).  Nas abelhas verdadeiramente sociais, como é o caso dos meliponíneos e das abelhas Apis, a rainha não funda mais o seu ninho sozinha, mas precisa do auxílio das operárias, processo conhecido como enxameação.

O processo de enxameagem dos meliponíneos é em etapas, e geralmente demorar alguns dias. Inicialmente as abelhas acham a nova cavidade e constroem a entrada do ninho. Depois limpam o seu interior e vão construindo o ninho aos poucos, até a transferência do enxame para este novo ninho.  A criação das abelhas sem ferrão é chamada de meliponicultura.

*Publicado originalmente em Carta Fundamental


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O que abelhas e o Waze têm em comum?

Fonte: fmk agro (http://www.fmkagro.com/news/2016/1/o-que-abelhas-e-o-waze-tm-em-comum)

"Uber, a maior companhia de taxi do mundo, não possuí veículos.
Facebook, a mais popular rede social, não cria conteúdo.
AirBnB, a maior rede de hospedagem, não é dona de nenhum imóvel.
Alibaba, a maior rede varejista do planeta, não possuí estoque.

O mantra acima é frequentemente entoado pelos entusiastas da "economia compartilhada”. E celebra o nascimento de um novo modelo econômico, onde dividir é multiplicar.

Os participantes dessa nova onda - e aqui referimos as companhias - possuem alguns traços em comum: i) são tão melhores quanto maior for sua comunidade; ii) confiam seu funcionamento quase que cegamente em um algoritmo; e iii) são ricas em propósito e pobres em ativos, vide mantra.

O surgimento da economia compartilhada só foi possível com a popularização da internet e barateamento de processadores e outros aparatos tecnológicos que permitiram às ideias ganharem forma. Sendo mais prático do que preciso - e homenageando quem “put a dent in the universe” -, nasceu em 29/junho/2007, quando Steve Jobs apresentou o primeiro iPhone.

O que é um fenômeno recente para o homem é desenvolvido há milhões de anos pela Mãe Natureza. Especificamente, há 50 milhões de anos para a principal das companhias, a qual comumente chamamos de abelhas.

A comparação me veio à tona depois que o EPA (Agência de Proteção Ambiental, dos EUA) divulgou relatório recente admitindo que os inseticidas mais empregados em grandes culturas, os neonicotinóides, são prejudiciais às abelhas.

Que inseticidas matam insetos é óbvio. O que o relatório apontou é que eles são responsáveis pela redução na polinização e produção de mel, ao colocar em risco também a saúde das abelhas. O contra-argumento da indústria é que em dosagens e aplicação recomendadas os químicos não geram desordem do colapso de colônias - o apocalipse das abelhas.

Independente de quem tenha mais razão (ou pesquisas), estamos mal aproveitando um dos maiores cases de sucesso de economia compartilhada da história.

Existem mais de 20.000 espécies de abelhas no mundo, as quais respondem pela polinização de 1/3 dos alimentos que consumimos. Reduzir o número desses indivíduos é produzir uma trágica ironia.

Toda abelha precisa comer. A proteína que precisam para sua dieta provém do pólen e o carboidrato do néctar. A medida que movem-se de flor em flor, acabam polinizando-as, produzindo o nosso alimento. Cada colônia poliniza uma área de 4.000 metros quadrados.

Pois bem… Por que não compartilhar a economia com essa numerosa comunidade, detentora de um algoritmo desenvolvido e melhorado por 50 milhões de anos, ao invés de subjugá-la?

Uma empresa canadense está há 19 anos respondendo essa pergunta. A Bee Vectoring Technology utiliza desse valioso serviço de polinização para aplicarprodutos nas plantas. Quando as abelhas saem da colmeia caminham por uma bandeja-labirinto onde aderem-se a um “pó”, que contém promotores de crescimento, patogênicos e biopesticidas.

Trata-se de uma relação similar ao Waze. Milhões de abelhas trabalham transportando o produto gratuitamente, do mesmo jeito que avisamos sobre radares e acidentes, e se beneficiam, pois o produtor tem um incentivo para mantê-las o mais saudável possível.

A destruição criativa é essencial para manter as criaturas vivas.