sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Agricultores baianos já são remunerados por serviços ambientais

Por   no  em 

O Carbono Neutro Pratigi, dentro do Programa de Serviços Ambientais, compensa quem adota práticas que contribuem para preservar os recursos naturais e para reduzir emissões de gases do efeito estufa, na região sul do estado 
Cristina Rappa
Depois de constatar a perda de quase 36 mil hectares de floresta na Área de Preservação Ambiental (APA) do Pratigi, no Baixo Sul da Bahia, o que levou à redução de 30% da vazão do principal rio da região, o Juliana, a Organização de Conservação da Terra (OCT), OCIP que conta com o apoio da Fundação Odebrecht, criou, em 2012, o Programa de Serviços Ambientais, que remunera produtores que adotam boas práticas ambientais, mitigando os gases de efeito estufa, responsáveis pelas mudanças climáticas.
A região, de 171 mil hectares, é rica em biodiversidade, mas seus cinco municípios estão entre os cem mais baixos do Brasil em termos de índices de desenvolvimento econômico-social. Capacitar e remunerar os agricultores locais foi a forma encontrada pela entidade para recuperar e conservar o ambiente.
O programa já beneficia 46 agricultores, que recebem os recursos durante três anos. Para participar, os produtores têm que adotar boas práticas, como plantar uma cobertura adequada para proteger o solo da erosão, promover o correto descarte do lixo e das embalagens de agrotóxicos, e deixar de colocar fogo em pastos e matos, entre outras.
“O PSA é uma forma justa de compensar quem conserva nossos recursos naturais. É focado na efetivação de uma economia de baixo impacto, que permitirá que toda propriedade seja geradora de serviços ambientais”, afirma Volney Fernandes, diretor executivo da OCT, explicando que os recursos usados para restaurar nascentes e remunerar os agricultores pelos serviços ambientais são captados via neutralização das emissões.
Além de receberem pelos serviços ambientais prestados, os agricultores locais são fornecedores das sementes utilizadas na produção das mudas distribuídas nas áreas de reflorestamento. Isso porque a iniciativa busca prioritariamente restaurar nascentes degradadas, para recuperar o potencial hídrico da região.
Certificações
Para tornar a APA do Pratingi uma área atrativa para projetos de carbono e poder comercializar os créditos gerados nos projetos de restauração, investiu-se em certificações, como a CCB (Climate Community and Biodiversity) e a VCS (Voluntary Carbon Standard). Além disso, os agricultores familiares locais obtiveram recentemente o selo Rainforest Alliance Certified, de agricultura sustentável.
“A nossa proposta é definir novos modelos que possam influenciar políticas públicas ou, até mesmo, otimizar as existentes, para ganharmos escala na efetivação de estratégias que promovam o desenvolvimento em bases sustentáveis, por meio da convivência harmônica do homem e seus negócios com os ativos naturais. Nossa convergência está no novo desafio de aliar sustentabilidade ambiental à viabilidade econômica, sempre pensando em inovação”, afirma Fernandes. O executivo da OCT comemora o fato de os municípios de Ibirapitanga e Ituberá, da região, terem sido os primeiros da Bahia a aprovarem leis de pagamento por serviços ambientais, sendo que o primeiro já previu recursos em seu orçamento para atender mais 50 agricultores a partir de 2016, além dos 46 atendidos pelo programa da OCT.
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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Projeto de lei na Câmara dificulta criação de abelhas, critica CNA

Stênio Ribeiro – Repórter da Agência Brasil
em 26/10/2015

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou hoje (26) parecer técnico com críticas ao Projeto de Lei 7.948/2014, do deputado Danrlei de Deus (PSD-RS), que cobra formação específica para os criadores de abelha.
De acordo com o presidente da Comissão Nacional dos Empreendedores Familiares Rurais da CNA, Júlio da Silva Rocha Júnior, o projeto do deputado gaúcho deixa clara a intenção de criar barreiras ao exercício da apicultura, exigindo requisitos ao seu exercício.
Nova Russas - Moradores convivem com período de seca na comunidade rural de Irapuá em Nova Russas. O apicultor Vicente Neto nas caixas de abelhas africanizadas (Fernando Frazão/Agência Brasil)
O Brasil é o sexto maior produtor mundial de melFernando Frazão/Agência Brasil
Segundo Rocha Júnior, existem no Brasil mais de 300 mil apicultores e uma centena de unidades de processamento de mel de abelha que empregam quase 500 mil pessoas. São pessoas que sempre exerceram a atividade milenar de forma artesanal ou tecnificada, sem necessidade de diploma.
O parecer da CNA ressalta que o projeto institui “reserva de mercado”, restringindo a apicultura somente aos que tenham diploma de cursos de formação específica. “É um absurdo”, disse ele, criticando a indisponibilidade de cursos que garantam que todos estejam devidamente qualificados no prazo proposto de 720 dias após a regulamentação da lei.
Rocha Junior destaca a importância da otimização da atividade pela difusão do conhecimento, treinamento e capacitação. “Mas não se pode criar barreiras ao exercício da atividade, embora seja desejável que as mesmas ocorram dentro das boas práticas, o que garantirá sustentabilidade em todos os seus aspectos”,
O projeto de lei já tramitou nas comissões de Trabalho, Administração e Serviço Público (CTAS) e na de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados. Vai passar, ainda, pela Comissão de Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Casa. Segundo a justificativa do projeto, "poucos produtores de diferentes regiões do país já adotam a apicultura como sua principal fonte de renda familiar" e a capacitação requerida no projeto "se refere à profissionalização do pequeno produtor, pois a qualificação e especialização é fundamental, para que seu produto torne competitivo no mercado nacional e internacional."
Dados da Confederação Brasileira de Apicultura mostram que o Brasil é o sexto maior produtor mundial de mel – atrás da China, dos Estados Unidos, da Argentina, do México e do Canadá. A produção anual do país ultrapassa 40 mil toneladas de mel por ano, com maiores volumes no Sul (49%), Sudeste (24%) e Nordeste (18%).
O deputado Danrlei não foi localizado para comentar a posição da CNA. Na Justificativa do projeto, ele destacou que a atividade exige "ampliação do nível de profissionalização em todas as etapas da cadeia de produção e de comercialização". Ressaltou que "a ocupação na apicultura deve ser exercida como atividade econômica principal do indivíduo", uma vez que "ainda é vista por muitos como atividade secundária e paralela à suas atividades profissionais.
Em vista disso, ele conclui a justificativa dizendo que “três medidas são prementes e urgentes: abertura de linhas de crédito, elaboração de programas de manejo e reconhecimento das profissões de apicultor e meliponicultor”. Providências que, no seu entender, vão gerar qualificação da mão-de-obra, controle da produção e reconhecimento da categoria.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Estudo pioneiro pode evitar extinção da abelha jandaíra

Fernando Sinimbu (MTb 654/PI)
Embrapa Meio Norte
meio-norte.imprensa@embrapa.br
Telefone: (86) 3198-0518


A ciência está a um passo de traçar o zoneamento genético das populações da abelha jandaíra, uma das mais importantes produtoras de mel e pólen e com uma ativa ação de polinizar as plantas no Nordeste brasileiro. A Embrapa e a Universidade de Dalhousie, no Canadá, realizaram, neste ano, o sequenciamento do genoma da espécie, gerando os primeiros marcadores moleculares para a abelha jandaíra. O estudo foi publicado pelo jornal científico Conservation Genetics Resources. 

Pioneiro em todo o mundo, o zoneamento vai permitir, com mais segurança, a construção de estratégias de gestão e manejo da espécie, buscando sua conservação e seu uso sustentável em toda a cadeia produtiva. Vítima da ação predatória do homem, a jandaíra é uma das espécies ameaçadas de extinção. O trabalho será concluído em 2016.

Com os marcadores moleculares definidos, o trabalho do pesquisador Fábio Diniz, da Embrapa Meio-Norte (PI), está avançando para a montagem dos genomas nuclear e mitocondrial por completo. Quando essa etapa for concluída, segundo ele, abre-se uma porta para o melhoramento genético e novos estudos evolutivos da espécie. "O caminho agora é buscar uma plataforma para o equilíbrio populacional da jandaíra", sentencia o pesquisador.

Abelhas sem ferrão, como a jandaíra, são responsáveis pela polinização de 30 a 60% das plantas da Caatinga, do Pantanal e de manchas da Mata Atlântica, importantes ecossistemas brasileiros. No entanto, segundo a pesquisadora Fábia Pereira, da Embrapa Meio-Norte, cerca de um terço das espécies dessas abelhas está em risco. O motivo é a degradação dos ecossistemas. "A conservação dessas espécies é uma necessidade, já que elas executam uma importante função na perpetuação da floresta e sua biodiversidade, como polinizadoras e parte integrante da teia alimentar", argumenta.   


O extrativismo predatório e o desmatamento sem controle, garante Fábia Pereira, têm levado à redução no número de colônias silvestres da espécie. Pequenas populações de abelhas sem ferrão, de acordo com a pesquisadora, "podem sofrer declínio gradual, resultando em sua extinção local". A determinação da diversidade genética presente nas populações dessas abelhas é um pré-requisito para o estabelecimento de programas de manejo e conservação eficientes, como os cientistas buscam com o zoneamento do genoma da jandaíra, por exemplo.

As etapas do sequenciamento 

O trabalho pioneiro de sequenciamento do genoma da abelha jandaíra, no laboratório de biotecnologia da Universidade de Dalhousie, levou sete meses e contou com o professor e pesquisador Paul Bentzen na orientação da doutoranda Isis Gomes, que participa do programa de pós-graduação da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio). Em todas as fases, o estudo foi minucioso.

A primeira fase, como revela a bióloga Isis Gomes, foi a mais simples. O DNA genômico total, segundo ela, foi extraído a partir do tórax de cinco abelhas coletadas no Nordeste brasileiro. As amostras foram então sujeitas a eletroforese, técnica de separação de moléculas em gel de agarose a 0,8%, para testar a quantidade e a qualidade do DNA. Nessa etapa, um único indivíduo com maior rendimento e qualidade de DNA foi selecionado para o sequenciamento. A partir daí foi criada uma biblioteca genômica, etapa mais complexa e que exigiu mais empenho.

O passo seguinte foi o sequenciamento de DNA, realizado com um sequenciador de última geração, a tecnologia NGS - Next Generation Sequencing - MiSeq, da empresa norte-americana Illumina. Foram criados então 141.412 contigs, um conjunto de segmentos de DNA que, sobrepostos, representam uma região genômica de consenso a partir das 1.995.104 sequências curtas resultantes do sequenciamento (veja infográfico abaixo). A partir desses dados, foram identificados 6.422 locos microssatélites, que são regiões de repetição nucleotídica em blocos. Inicialmente, 52 locos foram testados para validação como marcadores moleculares.  

Nos marcadores polimórficos, segundo a bióloga, foi usado um conjunto de 56 abelhas de três populações nativas dos estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte para mais testes, buscando as estimativas de estatísticas básicas em nível de população. De 52 locos testados, apenas 17 foram identificados como polimórficos, apresentando várias formas (alelos), e seis como monomórficos, com apenas uma forma de apresentação.  

A análise de dados resultantes do sequenciamento do genoma da abelha jandaíra aponta para duas direções: a descoberta de populações geneticamente distintas da espécie em todo o Nordeste brasileiro; e a redução da variabilidade genética em algumas áreas da região, que é um forte indicativo de como a degradação ambiental, causada pelo desmatamento e o extrativismo predatório, afeta diretamente a espécie. Esse estudo pôde revelar também mais um avanço da ciência quanto ao tempo e ao custo de se trabalhar o sequenciamento de um genoma.

Hoje, com toda a tecnologia disponível, usando o NGS - Sequência de Última Geração - por exemplo, um genoma pode ser sequenciado no período de quatro a dez dias. Antes, segundo Fábio Diniz, os cientistas levavam até 15 anos para realizar esse trabalho, como foi com o projeto genoma humano. O custo também reduziu muito. Há 10 anos, o sequenciamento de um genoma, em milhões de bases sequenciadas - Mb - não saía por menos de US$ 5 mil. Hoje, usando a tecnologia NGS, o valor não ultrapassa US$ 0.39 por Mb.

Jandaíra, a "rainha do sertão" 

Apresentando coloração escura com listas amarelas no abdômen e medindo entre seis e sete milímetros, a abelha jandaíra é típica do sertão nordestino. É uma das mais conhecidas, por ser encontrada em todos os estados da região, do Semiárido ao litoral, e em áreas de restinga dos estados do Piauí e Maranhão. Por ser uma grande produtora de mel, além de ter importância ecológica como polinizadora, a espécie é conhecida entre os apicultores como a "rainha do sertão".

Todo o Nordeste brasileiro reúne as características de clima e flora favoráveis à atividade apícola. "A produção de mel do Piauí, por exemplo, é baseada na flora nativa, que é rica e diversificada, propiciando a produção de méis com características diferenciadas", ressalta a pesquisadora Maria Teresa Rêgo, também da Embrapa Meio-Norte. Segundo ela, um ponto que eleva ainda mais as condições favoráveis da região à produção de mel é a sustentabilidade.

As floradas das espécies nativas, de acordo com a pesquisadora,  "são livres de agrotóxicos, propiciando um mel puro, livre de resíduos de produtos químicos, o que favorece a produção de mel orgânico". A flora nordestina é rica em espécies importantes como marmeleiro, mofumbo, angico-de-bezerro, bamburral, jurema e jitirana, encontradas em todos os estados da região. A flora nativa e diversificada é o grande trunfo do Nordeste. 

"Com esse ambiente diversificado e favorável, o apicultor tem condições de migrar internamente com as colmeias, tendo um menor custo", destaca Paulo José da Silva, presidente da Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes, a segunda maior do Piauí e uma das mais importantes da região. Este ano, a cooperativa deve exportar 950 toneladas de mel, faturando cerca de seis milhões de dólares. Os Estados Unidos são o destino de praticamente toda a produção. 


O monitoramento das abelhas nas colmeias 

O comportamento das abelhas nas colmeias, de acordo com o clima e a época do ano, terá também um monitoramento efetivo pela Embrapa ainda em 2014. Um equipamento desenvolvido em parceira com a Universidade Estadual do Piauí vai permitir que cientistas conheçam as condições de temperatura que as espécies enfrentam e que influem no comportamento delas e na produção de mel no dia a dia.

 Esse equipamento, que ainda não foi batizado, é um dispositivo de monitoramento formado por sensores de temperatura, baterias, rádio de comunicação, um cartão de memória e um fio conectado à colmeia. O tráfego de informações obedece a um rito simples: os dados são coletados na colmeia, em meio à vegetação; em seguida, repassados via rádio para uma central instalada na Embrapa Meio-Norte e conectada à internet. De lá, as informações ficam armazenadas em um site que funcionará com um banco de dados.

 A construção do dispositivo, estruturado numa caixa de plástico medindo 11 centímetros de largura por 16 centímetros de comprimento, teve um custo estimado de R$ 200,00. O aparelho entra em operação até o final deste ano, para testes, durante 24 horas por dia. A ideia do professor Carlos Giovanni Nunes de Carvalho, que coordena o projeto, é substituir o manejo executado pelos pesquisadores, como, por exemplo, a instalação manual de termômetros nas colmeias, para que eles possam acompanhar o nível de estresse das abelhas sem a ameaça de um acidente.

 Carlos Giovanni, que trabalha com uma equipe de cinco bolsistas em nível de graduação, mestrado e doutorado, no laboratório Opala, do campus Torquato Neto, da Universidade Estadual do Piauí, em Teresina, quer avançar ainda mais no estudo. Ele quer captar também a umidade no interior das colmeias, o gás carbônico, para medir o nível de poluição, e todos os sons gerados pela movimentação das abelhas. "No futuro, queremos ainda colocar no dispositivo um vídeo infravermelho para melhorar o monitoramento nas colmeias", projeta o professor. 

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Abelha sem ferrão nativa do Brasil cultiva fungo para sobreviver

23 de outubro de 2015 em Agência FAPESP

Pupa de rainha com fungo ao redor (foto: Cristiano Menezes)

Elton Alisson | Agência FAPESP – Pesquisadores descobriram que uma espécie de abelha sem ferrão nativa do Brasil – a mandaguari (Scaptotrigona depilis) – cultiva um fungo, semelhante ao usado durante séculos por povos asiáticos para conservar alimentos, para sobreviver.

A descoberta foi descrita em um artigo publicado na quinta-feira (22/10) na edição on-line da revista Current Biology e é resultado de um estudo de doutorado realizado com Bolsa da FAPESP
“É o primeiro registro de simbiose entre uma espécie de abelha social e um fungo cultivado”, disse Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, no Pará, e primeiro autor do trabalho, à Agência FAPESP.
“Embora já se saiba que existe simbiose entre espécies de formigas e de cupins com fungos cultivados em seus próprios ninhos – esses microrganismos fornecem aos seus hospedeiros nutrientes e proteção contra patógenos –, em abelhas essa relação ainda é desconhecida”, afirmou Menezes.
O estudo integra o Projeto Temático "Biodiversidade e uso sustentável de polinizadores, com ênfase em abelhas Meliponini", coordenado pela professora Vera Lucia Imperatriz-Fonseca, do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável e do Instituto de Biociências da USP. 
Os pesquisadores constataram que, ao nascer, as larvas da abelha mandaguari se alimentam de filamentos do fungo do gênero Monascus (Ascomycotina) encontrados em seus próprios ninhos.
Sem esse microrganismo – que produz diversos metabólitos secundários com atividade antimicrobiana, antitumoral e imunológica –, poucas larvas de mandaguari sobrevivem, destacam os autores do estudo.
“Ainda não sabemos, exatamente, qual é a função desse fungo para a larva. A possibilidade que achamos mais plausível é que o microrganismo ajuda a proteger o alimento da larva de patógenos, uma vez que é usado por chineses e outros povos asiáticos como corante para conservar alimentos”, afirmou Menezes.
O estudo foi noticiado no exterior, em veículos como a revista Newsweek
Transmitido por gerações
De acordo com Menezes, o fungo se origina e está presente em uma estrutura, chamada cerume – composta por uma mistura de cera de abelhas operárias com resinas de plantas –, que as abelhas sem ferrão usam como material de construção para suas células de cria (ninhos).
Ao terminar de construir as células de cria, as abelhas operárias enchem o invólucro de um alimento líquido. Em seguida, a abelha rainha coloca um ovo sobre o alimento e a célula de cria é fechada pelas abelhas operárias e aberta somente cerca de três dias depois, quando a larva eclode do ovo.
Nessa fase, o fungo começa a emergir a partir do cerume, se prolifera sobre a superfície do alimento líquido e é devorado pelas larvas, desaparecendo completamente até o sexto dia de nascimento das abelhas.
“Gravamos o comportamento de larvas com três dias de nascimento e observamos que elas cortavam os filamentos dos fungos com a mandíbula e ingeriam o microrganismo”, disse Menezes.
Segundo o pesquisador, o fungo é transmitido a outras gerações de abelhas mandaguari por meio de cerume “contaminado”.
Após as larvas deixarem as células de cria, as abelhas operárias começam a raspar o cerume e reutilizam o material para construir um novo ninho.
Além disso, quando vão construir uma nova colmeia, as abelhas levam o cerume da colmeia-mãe para a colmeia-filha para construir células de cria, transmitindo o fungo de um ninho para o outro, que só começa a crescer em contato com o alimento larval depositado pelas abelhas operárias.
“Também ainda não sabemos se são esporos ou partes dormentes do próprio micélio [hifas emaranhadas, como fios] do fungo que estão presentes no cerume e transportados de uma célula de cria para outra”, disse Menezes.
O pesquisador observou a mesma relação de dependência de fungos para completar o ciclo de nascimento em outras espécies de abelhas sem ferrão do gênero Scaptotrigona e também de Tetragona, Melipona e Frieseomelitta.
“Essas descoberta de simbiose entre abelhas e microrganismos parece ser muito mais frequente do que imaginamos e aumenta a preocupação sobre o uso de fungicidas na agricultura”, apontou Menezes.
Estudos realizados nos últimos anos nos Estados Unidos e Europa identificaram que os fungicidas estão entre os pesticidas mais encontrados no pólen das abelhas, indicou.
“A preocupação é em relação aos efeitos que esses fungicidas podem ter sobre microrganismos benéficos às abelhas, como o fungo identificado no ninho de mandaguari. Se esses produtos químicos estão presentes no pólen de abelhas, inevitavelmente chegarão até as células de cria”, estimou.
Descoberta acidental
O pesquisador fez a descoberta da simbiose entre a mandaguari e o fungo Monascus acidentalmente.
Durante sua pesquisa de doutorado em entomologia na Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto, realizado com bolsa da FAPESP, Menezes tentou produzir em laboratório rainhas de mandaguari com o intuito de aumentar o número de colônias dessa espécie polinizadora de diversas culturas para atender à demanda dos agricultores.
Para produzir rainhas, o pesquisador suplementou a alimentação de larvas fêmeas de mandaguari, uma vez que o que determina se uma larva fêmea dessa espécie de abelha sem ferrão vai se tornar operária ou rainha é a quantidade de alimentos que ela ingere durante a fase larval (leia mais em: agencia.fapesp.br/18371)
Ao manter células artificiais com larvas fêmeas de mandaguari e com grandes quantidades de alimento em uma câmara úmida, Menezes percebeu que, após alguns dias, um fungo branco começou a crescer rapidamente e todas as larvas morriam.
“Em um primeiro momento eu achei que o fungo estava causando alguma doença para as abelhas e tentei exterminá-lo, ao aplicar produtos químicos, e removê-lo mecanicamente, mas nada funcionou”, relembrou Menezes.
Algum tempo depois, contudo, o pesquisador começou a observar o fungo em células de crias naturais, crescendo de forma menos intensa. “Parecia que algo no ambiente natural das abelhas estava mantendo o fungo sob controle”, disse.
Ao tentar criar as larvas fêmeas da abelha em um ambiente menos úmido, o pesquisador observou que o fungo cresceu intensamente por alguns dias e depois desapareceu.
Com isso, mais de 90% das abelhas sobreviveram. “Suspeitei que as larvas fêmeas estava se alimentando do fungo e dependiam dele para sobreviver”, disse Menezes.
A fim de testar essa hipótese, os pesquisadores realizaram experimentos em que criaram em laboratório um grupo de larvas de abelha mandaguari suplementadas só com alimento estéril e outro com alimento estéril suplementado com filamentos do fungo.
O grupo de larvas de abelha criada com alimento estéril suplementado com filamentos do fungo teve um índice de sobrevivência de 76%.
Já as que foram criadas nas mesmas condições, mas sem o fungo, apenas 8% completaram o ciclo de desenvolvimento.
“Isso mostra que há uma relação de dependência muito forte das abelhas pelo fungo”, afirmou Menezes.
Em contrapartida, para o fungo a vantagem de ser cultivado no ninho dessa espécie de abelha sem ferrão é garantir sua multiplicação ao longo de gerações, ponderou o pesquisador.
“Aparentemente, o benefício maior dessa simbiose é para as abelhas. Mas o fungo também depende delas para se reproduzir”, avaliou.
O artigo A brazilian social bee must cultivate fungus to survive (doi: 10.1016/j.cub.2015.09.028), de Menezes e outros, pode ser lido na Current Biology em www.cell.com/current-biology/abstract/S0960-9822(15)01108-2
 

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domingo, 25 de outubro de 2015

Flores com cafeína 'viciam' abelhas para polinização, diz pesquisa

De Notícias Uol em 20/10/2015 por
Victoria Gill
Repórter de Ciência da BBC News

  • A equipe de pesquisadores usou néctar com cafeína para testar seus efeitos nas abelhas
    A equipe de pesquisadores usou néctar com cafeína para testar seus efeitos nas abelhas
Pesquisadores britânicos descobriram que algumas plantas conseguem atrair abelhas mais vezes para coletar néctar tornando-as "viciadas" em cafeína.
Os cientistas, da Universidade de Sussex, descobriram que as abelhas acham o efeito da cafeína irresistível e acabam escolhendo néctar com cafeína ao invés do néctar de outras plantas.
Muitas plantas produzem cafeína naturalmente com o objetivo primário de espantar insetos que poderiam devorá-las, como lagartas.
Mas, a experiência dos britânicos, divulgada na revista especializada Current Biology, mostrou que as abelhas são "aliciadas" pelo néctar com cafeína.
Margaret Couvillon, que liderou a pesquisa, disse que a imagem mais tradicional que temos do processo de polinização é a de um "relacionamento caloroso, de benefício mútuo", no qual o polinizador recebe uma recompensa da planta. Mas a experiência na Universidade de Sussex mostrou que não é bem assim.
"Estamos mostrando que a planta consegue exercer um tipo de dominação sobre a abelha, através de uma ação que é semelhante a de drogar (o inseto)", afirmou.
Francis Ratnieks, um dos membros da equipe da Universidade de Sussex, disse à BBC que outras pesquisas já haviam mostrado que a cafeína do néctar de algumas plantas melhorava a memória das abelhas para localizar uma flor.
Para descobrir até onde iam os efeitos da percepção desse néctar cafeinado, a equipe colocou duas flores artificiais para abelhas se alimentarem: uma contendo néctar doce sem cafeína e outra com uma concentração do composto parecida com a encontrada em muitas plantas.
E eles grudaram também uma placa minúscula com um número nas costas das abelhas para conseguir acompanhar e registrar o comportamento de cada uma.

Retorno rápido

As abelhas retornavam para o néctar com cafeína mais rapidamente, fazendo mais viagens para coletar o composto. Mas a descoberta mais marcante foi que a cafeína fazia com que as abelhas "dançassem" muito mais.
Depois da visita ao néctar com cafeína, as abelhas mostravam probabilidade maior de fazer a dança -- movimentos que geralmente fazem para comunicar a localização de uma fonte de néctar para outras abelhas.
"A grande maioria das abelhas não dança -- elas fazem isto apenas para comunicar um lugar particularmente bom (para encontrar comida)", afirmou.
Os cientistas concluíram que a cafeína teve um efeito nos insetos "semelhante a de uma pessoa drogada", levando eles a se comportarem como se a fonte de néctar fosse de mais qualidade e mais rica em açúcar.
"E presumimos que seja mais 'barato' para a planta produzir uma pequena quantidade de cafeína do que uma quantidade maior de açúcar", acrescentou.
Margaret Couvillon disse à BBC que os efeitos depois da exposição à cafeína também foram surpreendentes.
"As abelhas que recolheram (o néctar com) cafeína continuavam visitando o comedouro (por muitos dias) depois de ele ter esvaziado", disse a pesquisadora à BBC.
"Então os efeitos desta experiência de três horas (com a cafeína) se prolongou por muitos dias."

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Outubro Rosa


Mais comum entre as mulheres, a maioria dos casos de câncer de mama tem sido diagnosticados em estágios avançados. No Brasil, as taxas de mortalidade pela enfermidade continuam elevadas, exigindo cada vez mais atenção à necessidade do diagnóstico precoce. Em caso de alterações, procure uma unidade de saúde.


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

SUPORTE PARA TRANSFERÊNCIA DE GARRAFA PET

Navegando pelos confins da internet, eis que encontro uma bela engenhoca que com certeza evitará muitas das atrapalhadas na hora de transferir um enxame capturado em garrafa PET para uma caixa racional.
Este invento é bem simples e parece ser muito prático! (ainda não o testei) Mesmo porque foi elaborado por um Meliponicultor, o Biólogo Paulo Sirks, do Meliponário Senhor da Mata, e por isso deve ser muito útil e funcional!
"Assistindo vídeos de transferências verifiquei que todos apanham um pouco com o manuseio das iscas. Para se trabalhar mais á vontade e com segurança criei esse suporte que compartilho com vocês." Disse Paulo Sirks.

Explicações nas fotos:







domingo, 4 de outubro de 2015

6 formas de ter mais abelhas polinizadoras em sua horta ou jardim

de Cidades Verdes

Elas são extremamente benéficas para as plantas e alguns frutos só se desenvolvem com o seu trabalho; veja quais espécies de flores e ervas aromáticas elas adoram

POR TERESA RAQUEL BASTOS

abelha-flor-inseto-mel-colmeia (Foto: Pierre Guezingar/CCommons)
Dia 3 de outubro é comemorado nacionalmente o Dia da Abelha. Ela está entre os 6 insetos amigos da horta. Mas muitas vezes são esquecidas ou até exterminadas devido às picadas que podem dar quando se sentem ameaçadas em seu habitat. Entretanto, ter abelhas por perto é extremamente benéfico para a agricultura, pois elas são responsáveis pela polinização de plantas e, com isso, podem aumentar a produtividade, como no caso do açaí, melhorar a formação de frutos, como no caso do morango, e deixar os jardins mais floridos.
Especialistas da fundação A.B.E.L.H.A. listaram seis formas fáceis de trazer as abelhas para perto da sua horta ou jardim.Em alguns lugares do planeta, as abelhas têm sumido e gerado um colapso na produção de alguns frutos. De forma direta ou indireta, mais de 70% da alimentação humana dependem diretamente da polinização e, logo, das abelhinhas. Por isso, respeitá-las e preservá-las é dever de todos. Caso contrário, a população mundial morrerá de fome ou perderá a grandediversidade de alimentos.
1- Flores coloridas e plantas aromáticas
As abelhas são atraídas pelas flores e plantas aromáticas, especialmente as pequenas, de cores mais claras (branca e amarela - as flores vermelhas como a rosa, são mais atrativas para pássaros) e  com floração em massa, ou seja, que floresce tudo de uma só vez e não gradativamente.
Ter opções coloridas atraem os insetos, além de deixar o jardim bem mais bonito. As favoritas delas são manjericãofunchomalvamanjeronaoréganoalecrimdente de leãotomilhohortelãmargaridasgirassóis, entre outras; 
2- Plantas apícolas
Invista em espécies que atraem as abelhas. Malícia, sapateira e urucu são alguns exemplos.
3- Plantas nativas
Complemente o seu jardim com plantas nativas, pois as abelhas se sentem atraídas pelas espécies entre as quais sempre viveu cercada;
4- Água e abrigo
Além de plantar flores silvestres, frutas e vegetais, é necessário lhes fornecer água e abrigo, e também, permitir que os jardins locais detenham uma pequena fauna. Galhos caídos, árvores, etc, podem ajudar as abelhas a fazerem as colmeias.
As abelhas preferem árvores de pequeno porte, como as da família  Myrtaceae: goiabeira, jabuticabeira, pitangueira. Já das árvores de porte grande são preferíveis as de abacate e lichia, por exemplo.
Palmeiras em geral também são bem atrativas para as polinizadoras, o que é uma vantagem para os que gostam de jardinagem;
5- Gentileza gera gentileza
Se você respeitar o espaço das abelhas, mesmo as com ferrão (como a espécie  mais comum no Brasil, a apis mellifera, ou africanizada, como é conhecida) não trarão problemas. Se algum morador da casa ou apartamento for alérgico, há diversas espécies sem ferrão que são gentis e procuram os jardim apenas para água e alimento;
6- Não use fumo na horta
As abelhas fogem de produtos à base de neonicotinóides, ou seja, com fumo na composição. Elas podem morrer ou deixar o espaço por causa desse químico;

Agora é só compartilhar essas informações com seus vizinhos para que eles também permitam que as abelhas polinizem plantas e flores! A vida agradece!

sábado, 3 de outubro de 2015

Edital FNMA 01/2015 - Recuperação de Áreas de Preservação Permamente para Produção de Água

Fonte: Ministério do Meio Ambiente

banner edital fnma300x160O Fundo Nacional do Meio Ambiente lançou o Edital FNMA 01/2015 – Recuperação de Áreas de Preservação Permanente para a Produção de Água, em 22 de setembro de 2015. O edital tem como o objetivo promover a seleção de propostas que receberão recursos financeiros, não reembolsáveis, para realização de ações de recuperação florestal em áreas de preservação permanente localizadas em bacias hidrográficas cujos mananciais de superfície contribuem direta ou indiretamente para o abastecimento de reservatórios de regiões metropolitanas com alto índice de criticidade hídrica.


Os recursos do edital, no valor total de R$ 45 milhões, resultam da parceria entre o Ministério do Meio Ambiente, o Ministério da Justiça e a Caixa Econômica Federal, por intermédio de seus órgãos de fomento e de apoio à gestão dos recursos hídricos no país. São eles:

Fundo Nacional do Meio Ambiente/MMA

Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal/SFB

Fundo Nacional sobre Mudança do Clima/MMA

Fundo de Defesa de Direitos Difusos/Ministério da Justiça

Fundo Socioambiental Caixa/CEF

Agência Nacional das Águas


As propostas deverão ser apresentadas no Sistema de Convênios do Governo Federal – SICONV, até 08/11/2015. 

As seguintes instituições poderão apresentar propostas em atendimento ao Edital FNMA 01/2015: 

- Instituições públicas municipais;

- Instituições públicas estaduais;

- Instituições privadas sem fins lucrativos, conforme informações no edital;

- Concessionárias de abastecimento de água, conforme informações no edital.


Para mais informações, confira o texto do editalEdital FNMA 01/2015

O FNMA realizará um evento de capacitação sobre o edital em Brasília em outubro. Maiores informações serão publicadas nesta página em breve. Poderão participar até duas pessoas de cada instituição proponente.  

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03 DE OUTUBRO — DIA DA ABELHA

No dia 03 de outubro comemora-se o Dia da Abelha, um inseto que se destaca pela sua capacidade de produzir o mel.



No dia 03 de outubro é comemorado o Dia da Abelha, um inseto de extrema importância econômica e ecológica. Existem aproximadamente 20 mil espécies diferentes de abelhas no mundo. No Brasil, a mais conhecida é a abelha africana (Apis mellifera).
Uma das características mais marcantes das abelhas é a sua organização em sociedade, na qual três indivíduos diferentes podem ser observados: as rainhas, as operárias e os machos. As rainhas realizam a postura dos ovos e organizam a colmeia pela produção de um feromônio. Uma abelha-rainha pode ser considerada como a mãe de todos os indivíduos da sociedade.
Geralmente cada sociedade apresenta apenas uma rainha, mas existem relatos da existência de colmeias com mais de uma. Na espécie Apis mellifera, a rainha pode viver até cinco anos e, em condições de grande florada, podem pôr cerca de 3000 ovos diariamente.
As operárias são abelhas fêmeas responsáveis pelo trabalho da colmeia, e as suas atividades dependem de sua idade. São elas as responsáveis pela defesa da sociedade, conseguir alimento e também pela manipulação dos materiais para a construção da colmeia, tais como barro e cera. Normalmente, esse grupo representa cerca de 80% de todos os indivíduos de um enxame.
Os machos, também chamados de zangões, são indivíduos responsáveis pela reprodução, atuando, em algumas espécies, apenas no acasalamento. Em outras espécies, no entanto, podem atuar em algumas tarefas da colmeia, como a manipulação da cera. Após a fecundação, o macho morre por perder uma parte dos seus órgãos sexuais.
As abelhas são importantes economicamente por fornecerem mel, além de serem responsáveis pela fabricação de outros produtos, tais como cera,própolis, pólen apícola, geleia real, entre outros. Além disso, por ajudarem na polinização – transporte de células reprodutivas masculinas da planta até a parte feminina da flor –, estão relacionadas com a sobrevivência de várias espécies de plantas, sendo fundamentais para o aumento da produtividade agrícola.
Algumas espécies de abelhas são criadas pelo homem, uma atividade denominada de apicultura. Essa produção surgiu com a inserção das abelhasApis mellifera em 1839. Essa prática, todavia, só se tornou amplamente difundida pelo país a partir da década de 70.
O avanço da apicultura está relacionado principalmente com as descobertas das várias propriedades do mel, um produto natural extremamente admirado ao redor do mundo. Esse produto tem sido usado na indústria alimentícia, para fabricação de cosméticos e fins terapêuticos. Nesse último caso, destaca-se sua importância como repositor de glicose, reparação da mucosa intestinal, agente anti-inflamatório e cicatrizante, tratamento de úlceras gástricas, entre várias outras aplicabilidades.
Diante da importância tanto econômica quanto ecológica, fica clara a importância de se ter um dia dedicado a esse importante inseto.

Por Ma. Vanessa dos Santos em Brasil Escola