sábado, 25 de julho de 2015

Efeito dos óleos vegetais de andiroba (Carapa sp.) e Copaíba (Copaifera sp.) sobre forídeo, pragas de colméias, (Diptera: Phoridae) na Amazônia Central

Artigo científico publicado na Scielo em 2006, mas muito relevante para os dias de hoje: 

Delci da Costa Brito FreireI; Carmina Rodrigues da Costa Brito-FilhaI; Gislene Almeida Carvalho-ZilseII
IE-mail: del7freire@gmail.com, Secretaria Municipal de Educação, Gerência Distrital Zona Rural. Rua Rio Içá 850, Vieiralves, Manaus, Amazonas, Brasil
IIGrupo de Pesquisas em Abelhas, Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Av. André Araújo 2936, Cx. Postal 478, CEP 69083-000, Manaus, Amazonas, Brasil

RESUMO
O conhecimento de substâncias repelentes para forídeos é um passo importante para a meliponicultura brasileira, pois esses insetos podem causar sérios danos às colméias de abelhas nativas. Os óleos de copaíba e andiroba, naturalmente encontrados na região amazônica, são muito utilizados pelos povos tradicionais da região como repelentes de insetos. Foi observado o efeito de dois óleos vegetais (andiroba e copaíba) sobre a postura de ovos por fêmeas de forídeos em condições de laboratório. A postura das fêmeas foi realizada preferencialmente no substrato pólen e diferiu estatisticamente dos substratos contendo óleo de andiroba ou copaíba, nos quais houve considerável diminuição (até nenhuma postura), e do substrato contendo mel. Esses óleos são uma boa alternativa no controle preventivo e curativo dessa praga em colônias de Meliponineos, devido ao seu efeito repelente, ao baixo custo e disponibilidade na Região Amazônica.

INTRODUÇÃO
A família Phoridae (Insecta: Diptera) possui cerca de 3.000 espécies, apresentando maior diversidade nos trópicos (Brown, 1995). Estes dípteros variam de 1 a 2 mm de tamanho, sendo facilmente reconhecidos pelo aspecto curvado e venação característica da asa com fortes veias longitudinais, cabeça pequena e coloração geralmente escura (Disney, 1994).
As larvas apresentam hábitos variados, ocorrendo na matéria em decomposição, fungos e parasitando ninhos de formigas (Feener & Brown, 1993; Embrapa, 2001), abelhas (Borgmeier, 1925, 1934; Nogueira-Neto, 1970; Portugal-Araújo, 1977; Kerr, 1996; Kerr et al., 1996) e cupins (Disney, 1994).
No Brasil, os forídeos causam grandes prejuízos à criação racional das abelhas indígenas sem ferrão, atividade denominada meliponicultura. De acordo com Nogueira-Neto (1953, 1970 e 1997) há quatro gêneros de forídeos que freqüentam as colônias de Meliponini: Pseudohypocera, Megaselia (Aphiochaeta), Melitophora e Melaloncha. A espécie Pseudohypocera kerteszi Enderlein, 1912, é citada como uma das principais inimigas dessas abelhas e também dos gêneros Trigona e Apis (Reyes, 1983).
Mesmo os forídeos sendo os principais causadores de danos para a criação de abelhas do Norte ao Sul do Brasil, estes indivíduos não são encontrados na Baixada Maranhense (São Luis) (Kerr, 1996) e em algumas épocas do ano desaparecem das colméias. E, na Amazônia pode se transformar em praga, principalmente no período das chuvas, aliado à falta de manejo adequado por parte dos criadores dessas abelhas (Portugal-Araújo, 1977).
O forídeo adulto praticamente não produz danos diretamente aos Meliponíneos, mas no estágio larval são comedores vorazes de pólen, podendo inclusive destruir os discos (ou favos em Apis) de cria e exterminar uma colônia, caso a infestação seja muito forte (Nogueira-Neto, 1997).
Considerando o grande potencial das abelhas do gênero Melipona Illiger, 1806, em relação à produção de mel e pólen para a subsistência, ou mesmo a produção em grande escala, a incidência do ataque de larvas de forídeos nestas abelhas acarreta perda de produção e conseqüente prejuízo para o produtor (Kerr et al., 1996).
O conhecimento de substâncias repelentes para forídeos, para impedir a infestação de colônias de abelhas, é um passo importante para os estudos que visem à proteção das colônias, como é o caso das propriedades encontradas nos óleos de copaíba e andiroba. Estes óleos, como produtos da natureza, são muito utilizados pelos povos tradicionais na Região Amazônica.
O óleo de copaíba é extraído do tronco de Copaifera sp. (Leguminosae), planta de ocorrência comum na floresta Amazônica (Ribeiro et al., 1999). Essa espécie vegetal é rica em diterpenóides, que são substâncias utilizadas como bálsamos (Veiga et al., 1997; Braga et al., 1998; Monti et al., 1999). Na medicina popular este óleo é utilizado como antiinflamatório, bactericida, diurético e expectorante e, sua madeira possui uma demanda maior devida a sua qualidade de repelir os insetos (Curupira, 2002).
O óleo de andiroba, Carapa sp. (Meliaceae) também é utilizado como repelente de insetos e apresenta propriedade antiinflamatória (Ribeiro et al., 1999). De acordo com Pinto (1963) algumas tribos indígenas e determinadas comunidades tradicionais vêm usando o óleo de andiroba como repelente de insetos. A Fundação Osvaldo Cruz desenvolveu e colocou no mercado a vela de andiroba para ser usada no combate de mosquitos que transmitem a dengue e a malária (Ferraz et al., 2002).
Neste sentido, este trabalho teve como objetivo verificar a influência desses óleos como repelentes naturais para os forídeos, em condições de laboratório como alternativa de controle da infestação natural em colônias de abelhas Melipona compressipes manaosensis Schwarz, 1932.

MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho foi conduzido no Laboratório do Grupo de Pesquisas em Abelhas – GPA (Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas – CPCA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA) por um período de 22 meses não consecutivos, entre os anos de 2002 a 2004.
Foram coletados indivíduos adultos de forídeos presentes em colméias de M. compressipes manaosensisinfestadas naturalmente. Estes exemplares foram mantidos em caixa de madeira (15x15x4cm) forrada com papel sulfite branco e tampada com filme plástico PVC com pequenos furos suficientes para permitir a ventilação, mas evitar a fuga de forídeos. A caixa foi mantida em laboratório, à temperatura ambiente, onde foram monitoradas até a morte desses indivíduos.
Os experimentos consistiram em monitorar, em cada caixa, a postura das fêmeas de forídeos sobre diferentes substratos disponíveis simultaneamente em potes plásticos recobertos com cera de abelha. Foram utilizadas seis caixas (repetições) para cada tipo de óleo (andiroba e copaíba). Em cada caixa foram oferecidos três substratos, sendo: a) pote contendo pólen (diluído em água 3:1), b) pote contendo mel e c) pote contendo pólen misturado a óleo de andiroba ou óleo de copaíba (60mL) (Figura 1). O pólen e mel utilizados foram retirados de colônias de Melipona seminigra merrillae Cockerell, 1919 do meliponário GPA.


As caixas foram monitoradas diariamente até a morte das fêmeas, sendo, em seguida, realizada a contagem das posturas por substrato.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi constatado que a duração média de vida das fêmeas adultas dos forídeos foi de 13 dias.
Foi observado que as fêmeas de forídeos realizaram postura em todos os tipos de substratos (Tabelas 1 e 2). Ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey, a quantidade de postura realizada nos substratos mel (M), pólen com copaíba (P+C) e pólen com andiroba (P+A) não diferiram entre si e os mesmos diferiram do substrato pólen (P), indicando que o substrato pólen foi preferencialmente utilizado para oviposição.




Entretanto, numa ocasião em que o pólen ressecou, as fêmeas de forídeos realizaram a oviposição nos potes com mel, e entre o filme plástico e a borda da caixa. Em ambos os casos os ovos não eclodiram, mas mesmo assim as fêmeas não utilizaram o pote com pólen misturado com andiroba para a postura. Em outra repetição, situação em que o pote com pólen ficou sem espaço para postura, devido ao grande número de larvas e ovos, as fêmeas continuaram a postura no pote com pólen misturado à copaíba, porém, a fizeram apenas nas bordas e por fora do pote.
Os ovos colocados sobre o substrato contendo pólen eclodiram normalmente e as larvas se deslocaram pela caixa, entraram nos potes e se alimentaram de pólen misturado aos óleos. No caso dos indivíduos adultos, estes evitavam o contato com as substâncias oleosas, e as fêmeas fizeram pouquíssimas posturas nos potes que continham andiroba ou copaíba.
O substrato pólen misturado aos óleos de andiroba (P+A) ou copaíba (P+C) apresentaram menor número de ovos em ambos os experimentos chegando a nenhuma postura realizada na maioria das repetições. Apesar de não diferirem estatisticamente do substrato mel é possível justificar a menor quantidade de ovos postos nestes substratos baseado na ação repelente desses óleos sobre insetos e no comportamento observado durante a realização das posturas pelas fêmeas (postura pelo lado externo dos potes contendo os óleos).
A partir destes resultados, os óleos de andiroba e copaíba foram testados em 25 colônias de abelhas M. compressipes manaosensis alojadas no meliponário do GPA/INPA que estavam naturalmente infestadas com forídeos. A infestação foi constatada pela abertura das colméias e imediata revoada de diversos forídeos adultos pela tampa das caixas e também pela presença de ovos e larvas nos potes de pólen. Com auxilio de papel absorvente, uma fina camada dos óleos foi passada nas paredes internas da lixeira e da tampa destas colméias assim como ao redor do orifício de entrada (Figura 2). Verificou-se que após três dias não mais foi verificada a presença de forideos adultos nem de larvas indicando a ação repelente dos óleos. Não foi observada nenhuma alteração no desenvolvimento das abelhas das colônias tratadas neste experimento.
Os resultados repelente dos óleos de copaíba e andiroba demonstraram ser boa alternativa para combater as infestações dos indivíduos adultos de forídeos, quando utilizados nas superfícies das colméias (tampa, lixeira e orifício de entrada) conforme observado em Melipona compressipes manaosensis.
Ainda assim, se recomenda a retirada de ovos, larvas e pupas de forídeos presentes nas colônias conjuntamente com o uso dos óleos (andiroba ou copaíba).

CONCLUSÕES
Em condições de laboratório, o substrato pólen foi preferencialmente utilizado para realização das posturas por fêmeas de forídeos em contraste com os substratos óleo de andiroba ou de copaíba misturado ao pólen que demonstraram efeito repelente, na maioria das repetições, levando a inibição de até 100% da postura.
Os óleos de andiroba ou copaíba podem ser utilizados como tratamento para colônias infestadas por forídeos ou ainda como preventivo antes que haja uma infestação. Vale ressaltar que para o sucesso destes óleos como repelente sobre os forídeos é necessário que se tenha certeza da procedência dos mesmos para se garantir que não estejam misturados a outras substâncias, alterando assim sua composição química e conseqüente perda de suas propriedades, ou mesmo, levando à intoxicação as abelhas e morte da colônia.

AGRADECIMENTOS
Ao Dr. Warwick E. Kerr pelas sugestões e incentivo. A MSc. Cristiane Dias pelas primeiras sugestões bibliográficas. Ao MSc. Carlos Gustavo Nunes pela tradução do abstract. A Dra. Suely Costa pelas análises estatísticas. E a todos os colegas de trabalho do GPA pelas amostras de forídeo. Ao CNPq pela bolsa PIBIC e auxilio financeiro, a SUFRAMA e FAPEAM pelo auxilio financeiro.

BIBLIOGRAFIA CITADA
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quinta-feira, 23 de julho de 2015

Análise aponta que 90% de uma população argentina estava contaminada pelo glifosato

90% dos participantes de um estudo tinham Glifosato na urina. O agrotóxico pode provocar diabete, Mal de Parkinson e até Alzheimer.

21 de julho de 2015 por mst.org.br

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Do Página/12*

Uma pesquisa realizada pela Associação Civil BIOS diagnosticou que 90% das pessoas que participaram do estudo realizado na comarca bonaerense de General Pueyrredó tinham glifosato ou seu metabólito na urina. Participaram do estudo tanto moradores da zona rural como da urbana. Tendo em conta que muitos alimentos industrializados contêm soja, o resultado é preocupante. Também foi demonstrado que os agrotóxicos evaporam e caem com a chuva. E de todos eles, o glifosato foi o herbicida mais encontrado. Em março, a OMS qualificou o glifosato como uma substância “provavelmente cancerígena”. Além disso, pode provocar diabete, Mal de Parkinson e até Alzheimer.

“Fizemos uma análise com amostras de urina de pessoas que vivem no campo ou na cidade, pensando que encontraríamos resultados diferentes. Não foi o que aconteceu: ambas as populações tinham glifosato ou seu metabólito, ou seja, o que se gera no corpo quando o glifosato se metaboliza, no seu corpo”, detalhou Silvana Buján, coordenadora da BIOS, uma ONG que trabalha em colaboração com o Instituto de Análises Fares Taie, que se ocupou da compra dos reagentes para este estudo.

“Do universo analisado, 70% tinha glifosato e 70% AMPA (ácido aminometilfosfônico), o metabólito do glifosato; muitos tinham ambas as substâncias, e apenas uma pessoa não tinha nenhuma. Foi uma revelação para nós. Investigamos e encontramos que a maioria dos alimentos industrializados contém produtos de soja, seja lecitina, farinha ou proteína. Por outro lado, a água e os solos, embora não sejam orvalhados com glifosato, recebem esta substância pelas chuvas”, descreveu Buján.

A análise de urina humana, que denominaram de Fora da Embalagem, é a terceira que a BIOS faz: primeiro fizeram uma análise da água e solo (Operação Espinafre) e depois, em 2013, uma campanha que chamaram de Mau Sangue, na qual buscaram a presença de agrotóxicos no sangue. “O que provamos com essa pesquisa foi que os agrotóxicos não ‘desaparecem’ após sua aplicação. Alguns se degradam em metabólitos que persistem no corpo humano; por exemplo, o DDT não é usado há anos, e, no entanto, temos DDD (seu metabólito) em nosso sangue”, descreveu. E acrescentou que “naquela campanha também encontramos endosulfan, um agrotóxico proibido; isto quer dizer que persiste um mercado negro que o segue comercializando”.

A coordenadora da BIOS assegurou que “o problema é que o nosso corpo recebe centenas de substâncias em diferentes níveis, e moléculas que sozinhas eram relativamente inócuas, mas combinadas, podem ser tóxicas. Por exemplo, em Sierra de los Padres não há grandes plantações e, no entanto, foram encontrados restos de órgãos clorados que simulam ser um hormônio, mas que na verdade desestabilizam o organismo. E não há herbicidas ‘menos danosos’: tudo o que termina com o sufixo ‘cida’, mata. Lamentavelmente, os proprietários de terras, até em períodos de alqueive (quando se deixa de semear em um ou vários ciclos vegetativos) passam glifosato”.

Buján citou um estudo realizado pelo Centro de Pesquisas do Meio Ambiente (CIMA), da Universidade de La Plata, com a assinatura de Lucas Alonso, Alicia Ronco e Damián Marino, no qual se demonstrou que os agrotóxicos também evaporam e depois caem com a chuva. “É como dizer que chove agrotóxicos. O glifosato é um ‘apaixonado evaporador’ e foi encontrado em todas as amostras de água de chuva, que por derivas atmosféricas pode atravessar longas distâncias”.

“Outro estudo anterior à nossa pesquisa foi aquele realizado pela organização espanhola Amigos da Terra em junho de 2013; ali, a análise da urina em laboratório diagnosticou que 45% da população analisada tinha glifosato”, descreveu. A particularidade deste estudo foi que todos os que participaram da amostra moravam em cidades e nenhum teve contato direto com o agrotóxico.

Buján destaca que “é inconcebível que o mundo siga mantendo este modelo de produção de alimentos. Diz-se que sem os agrotóxicos não seria possível manter a produção de alimentos e isso é falso: a maior parte da produção de soja, por exemplo, não é destinada ao consumo humano. É viável mudar o modelo de produção sem agrotóxicos. Há agrônomos que assessoram propriedades que cultivam trigo e pasto orgânicos, com o qual também se obtém carne orgânica. Não é inconcebível querer mudar este modelo; o que é inconcebível é aceitá-lo como está”, concluiu.

*A tradução é de André Langer.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Abelha sem ferrão é nova atração no Zoo

Bosque implanta viveiro de insetos para reforçar a polinização das plantas. Visitante pode tocar nas abelhas


O estudante Murilo Frutuoso e os colegas da escola municipal José Delibo foram os primeiros a conhecer o meliponário (Foto: F.L. Piton/A Cidade) 
O Bosque e Zoológico Fábio Barreto ganhou ontem um meliponário (viveiro de abelhas nativas sem ferrão) para intensificar a polinização das plantas. Quem passar pelo local poderá ver e tocar, sem medo, quatro espécies do inseto. São elas: Uruçu-Aramela, Iraí, Mandaçaia e Jataí.
O professor de biologia Osmar Malaspina, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), explica que, além de produzirem mel, as abelhas são imprescindíveis para a manutenção da biodiversidade. Isso porque elas realizam a polinização, que é a transferência do pólen de uma flor para outra, permitindo a reprodução das plantas.
“Para a produção de hortaliças, como pimentão, berinjela, morango, pepino, melancia e melão, essas abelhas são extremamente importantes. Elas dão mais variabilidade, quantidade e qualidade a esses produtos”, afirma.
Malaspina conta que existem 20 mil espécies de abelhas no mundo e, pelo menos, 3 mil no Brasil. As abelhas sem ferrão se reúnem em colmeias com, no máximo, 5 mil indivíduos e produzem de 500 a 4 mil mililitros de mel por ano, diferentemente das abelhas com ferrão, cujas colmeias chegam a 50 mil indivíduos, e produzem cerca de 20 quilos de mel por ano.
Segundo o chefe do bosque, Alexandre Gouvêa, o mel produzido pelas abelhas meliponini será utilizado para alimentar os animais do zoológico. “Além disso, as crianças vão ter a oportunidade de tocar nas abelhas. É uma experiência diferente, já que na escola, a gente aprende por meio de fotos”, destaca.
O meliponário agradou aos alunos da escola municipal José Delibo. “Aprendi muitas coisas sobre as abelhas. Nunca tinha tido a curiosidade de pesquisar sobre elas”, comenta Murilo Fruttuoso, 12 anos.
A estudante Vitória de Marco, 13 anos, conta que não sabia da existência das abelhas sem ferrão. “Achei bem interessante. Vou trazer a minha mãe”, diz.
O viveiro também chamou a atenção de Taís Prudêncio, 12, e Caio Leandro, 13. “Gostei, porque elas ficam soltas e não machucam”, observa Taís. “Acho que isso vai ajudar na escola”, pondera Caio.
Para o secretário do Meio Ambiente, Daniel Gobbi, o meliponário vai permitir que os alunos entendam a importância das abelhas na cadeia alimentar. “Sem elas, os outros seres vivos não teriam alimentos”, ressalta.
Multinacional fez doação de 16 mil abelhas
O meliponário do bosque é resultado de uma parceria entre a Secretaria do Meio Ambiente de Ribeirão Preto e a Syngenta, empresa especializada em sementes e produtos químicos voltados para o agronegócio. A multinacional doou as mais de 16 mil abelhas, distribuídas em oito colmeias, duas para cada espécie, buscando desenvolver uma agricultura sustentável.
“Temos o objetivo de promover o incremento da biodiversidade em, pelo menos, 5 milhões de hectares ao redor do mundo e a gente identificou nessas abelhas sem ferrão nativas do Brasil uma oportunidade muito grande de materializarmos isso”, frisa o gerente de segurança de produto, Luiz Dinnouti.
De acordo com o professor Malaspina, somente o grupo de abelhas sem ferrão poliniza até 90% das árvores nativas do Brasil. “Se a gente fosse pagar o serviço que as abelhas prestam para a gente em termos de produção de alimentos, teríamos que depositar € 150 bilhões por ano na conta delas”, salienta.


Por Micaela Lepera


Bom, apesar de haver um certo descompasso quanto ao doador das abelhas e seu foco produtivo serem produtos químicos para o agronegócio, este peso de consciência, ou estratégia comercial, de um modo geral beneficiou a meliponicultura e com certeza trará resultados positivos não só aos animais do zoológico como também ao meio ambiente e à sociedade.
Não deveríamos depender destes produtores para termos mais áreas públicas com estas estruturas e os "Secretários do Meio Ambiente" de cada município deveriam seguir este exemplo e implantar em suas cidades!! A Humanidade agradeceria!!

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Carta Sobre a Meliponicultura

Encontrei esta carta de Carlos Augusto Pantoja Ramos, consultor socioambiental, endereçada ao Sr. Richardson Frazão, coordenador do projeto Néctar da Amazônia, publicada no site Recanto das Letras.
Ela traduz a realidade e a atualidade da Meliponicultura, um texto muito interessante de ser lido!


Carta Sobre a Meliponicultura

Belém, 28 de junho de 2015.

Caro Richardson, mano velho,

Desde que conheci seus trabalhos sobre a criação de abelhas nativas para a produção de mel (de um nome complicado de decorar no início, confesso) ainda no Instituto Peabiru, percebi que ali estava uma antiga ciência socioambiental, decisiva para contribuirmos com a diminuição de nossas ações desmedidas à floresta. Assim, a Meliponicultura veio a mim como uma nova tecnologia social, mas besteira minha, é sabedoria indígena que temos subestimado, desde as décadas militares e mesmo no período de redemocratização brasileira. Ainda não se firmou como política Pública é bem verdade.


Albert Einstein ao falar das abelhas, acertou em cheio sobre a soberba da humanidade em atacar a biodiversidade, ganhar dinheiro e achar que não teríamos as reações da natureza. Mostra-se, pois, a diminuição da produção de frutas onde agem os agrotóxicos e agora plantios transgênicos, apesar da insistência de alguns em dizer que não há relação. O preocupante deste quadro é o efeito sobre as árvores de maneira geral. Contudo, apontas tu o caminho no seu Manual da Meliponilcultura: uma comunidade com 30 meliponicultores fixa 166 toneladas de carbono por ano e ajuda na conservação de 160 hectares de floresta pela simples ajuda na polinização das plantas! Bingo!


Como principais agentes polinizadoras das árvores amazônicas, abelhas sem ferrão como a uruçú e jandaíra (as mais conhecidas, do gênero Melipona sp), seu manejo somente agora começa a ter mais reconhecimento do público e das agências de apoio a projetos socioambientais. Essa vitória é sua e de todos aqueles que lutam por esta bandeira, agitada por muitos anos pacientemente até que fossem vistos como iniciativas de transformação social, econômica e de combate ao desmatamento.


E espalham-se os meliponários Amazônia afora. Sei que conheces e acompanhas os projetos junto às entidades indígenas do Amapá. Informo-te que existem pelo menos 10 projetos apoiados pelo Fundo Dema voltados para o desenvolvimento da meliponicultura em municípios das regiões Xingu e Baixo Amazonas que dariam por si só uma rede robusta de troca de experiências como forma de aprimorar esta ciência para torná-la mais disseminada. Eis a sugestão: Uma rede intercomunitária de meliponicultores.


Sobre esta possível rede, não poderia de deixar de mencionar o trabalho feito por vocês na comunidade Praia Verde, em Almeirim, que poderia ser incluída neste rol de entidades que defendem a criação de abelhas nativas. Estive lá no período de 19 a 21 de junho de 2015 e fiquei surpreendido com a desenvoltura dos comunitários locais em explicar as técnicas e com a pequena cidade das abelhas sem ferrão na posse de “seu Marabá”. Ainda não produzem a quantidade de mel que desejam, uma vez que estão em fase de consolidação das colmeias, mas um fato dito pelo senhor que nos acolheu nos deu dimensão da importância ambiental e econômica desta atividade: “a produção de frutos, principalmente de açaí aumentou muito depois que começamos a criação de abelha nativa”. Vejam só que interessante aliar abelha e açaí, então pronto: o manejo florestal de açaizais nativos se depender de mim andará junto com a meliponicultura, não somente por causa do açaí, mas para garantir a reprodução de outras plantas para o enriquecimento da flora que rebate na fauna que rebate nos olhos dos que virão amanhã.


No final das contas aprendi com sua arte (sim, pois acho uma arte) que deveríamos pensar como as abelhas: polinizar nas mentes que outro mundo é possível, diverso, equilibrado, mais justo e muito mais interessante.


Aos mestres, escrevi.
Pantoja Ramos
Enviado por Pantoja Ramos em 28/06/2015
Reeditado em 04/07/2015