terça-feira, 31 de março de 2015

Odor específico funciona como "RG" para abelhas, vespas e formigas

31 de março de 2015

Elton Alisson | Agência FAPESP – Assim como os vinhos, as flores e os perfumes, os insetos sociais – abelhas, vespas e formigas – possuem um buquê aromático específico, que varia de acordo com a espécie, o sexo, a idade e a função desempenhada na colônia.
Esse odor particular funciona como um “RG químico” desses animais, facilitando a identificação por seus companheiros. Com ele, é possível saber se pertencem ou não à colônia, se são macho ou fêmea, novos ou velhos, rainhas ou operárias.
Sexo, idade e função desempenhada na colônia são algumas das informações passadas pelo aroma dos insetos sociais, aponta estudo feito na USP (foto:divulgação)
As descobertas foram feitas por pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), durante uma série de estudos realizados no âmbito do projeto “Mediação comportamental, sinalização química e aspectos fisiológicos reguladores da organização social em himenópteros”, apoiado pela FAPESP no âmbito do Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.
“Constatamos que cada inseto tem um odor específico e isso funciona como uma espécie de código de barras químico”, disse Fábio Santos do Nascimento, professor da FFCLRP-USP, à Agência FAPESP. “Ao ler esse código de barras químico, é possível identificar a espécie, o gênero, a idade e a função desempenhada pelo inseto na colônia”, afirmou o pesquisador, que é coordenador do projeto.
De acordo com Nascimento, o que confere essa identidade química para os insetos sociais é uma classe de compostos químicos, chamados hidrocarbonetos cuticulares, formados por cadeias de carbonos lineares e moléculas de hidrogênio (alcanos, alcenos e alcanos metilados).
Encontrados sobre a última camada do revestimento externo (cutícula) que recobre o corpo de insetos sociais, esses compostos químicos, na forma de cera, têm a função primária de evitar a perda de água e, consequentemente, a desidratação desses animais, além de servir de barreira protetora contra microrganismos.
Ao analisar a composição química dos hidrocarbonetos cuticulares de diferentes espécies de formigas, vespas e abelhas, os pesquisadores constataram, contudo, que a composição química dos hidrocarbonetos cuticulares varia de acordo com a espécie, o sexo e a função do inseto na colônia e que essa variabilidade química auxilia na comunicação entre esses animais.
Em um estudo publicado na revista Apidologie com abelhas Melipona marginata – conhecidas popularmente como manduri –, os pesquisadores observaram que os machos mais velhos, as rainhas e as operárias dessa espécie brasileira de abelha sem ferrão, encontrada nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Bahia, têm diferentes perfis de hidrocarbonetos cutilares que podem ser percebidos pelos membros.
As operárias – normalmente estéreis e incapazes de se tornar rainhas – apresentaram menor porcentagem de alcanos (ceras saturadas), como hentriacontanes e tetratriacontanes, em comparação com machos, rainhas e as abelhas da casta destinada à realeza.
“Apesar de a estrutura química dos hidrocarbonetos cuticulares ser bastante estável, a sua composição nos insetos sociais varia também de acordo com a função que eles ocupam na colônia”, disse Nascimento. “Cada colônia também apresenta um perfil químico diferente”, afirmou.
Reconhecimento
A fim de avaliar a capacidade de insetos sociais reconhecerem os membros de suas colônias pelo odor, os pesquisadores fizeram um experimento com abelhas sem ferrão Melipona asilvai. Foram colocadas operárias e forrageiras dessa espécie – conhecida popularmente como uruçu-mirim ou rajada – na entrada de uma colônia à qual não pertenciam para verificar a reação das abelhas guardiãs do ninho.
Os resultados do experimento, descrito em um artigo publicado no Journal of Chemical Ecology, indicaram que as abelhas guardiãs exibiram um comportamento flexível de acordo com o grau de semelhança da identidade química com as abelhas “intrusas”.
Elas foram mais permissivas e barraram muito menos a entrada na colônia de abelhas intrusas com perfis químicos altamente semelhantes aos delas – o que, de acordo com os pesquisadores, deve-se ao fato de, provavelmente, as terem confundido com suas “companheiras”.
Em contrapartida, foram seletivas e restringiram muito mais a passagem de abelhas com perfis químicos diferentes dos seus.
“Uma colmeia possui muitos recursos, como néctar na forma de mel, o pólen e as crias. Se o sistema de reconhecimento das abelhas guardiãs for falho, isso pode possibilitar a pilhagem desses recursos por abelhas de colônias vizinhas”, disse Nascimento.
Os pesquisadores fizeram um experimento semelhante com formigas da espécie Dinoponera quadriceps: colocaram operárias forrageiras e enfermeiras (que cuidam de ovos) dessa espécie de formiga – conhecida popularmente no Brasil como falsa-tocandira – na entrada de uma colônia diferente das suas para avaliar quanto tempo demoravam para ser reconhecidas como intrusas por formigas guardiãs.
Os resultados do estudo, publicados no Journal of Insect Behavior, demonstraram que as formigas guardiãs demoraram mais tempo para reconhecer as formigas enfermeiras como “usurpadoras” do que as operárias.
As operárias receberam significativamente mais mordidas e outros golpes violentos das formigas guardiãs do que as enfermeiras. Além disso, as formigas guardiãs levaram mais tempo para reagir contra as enfermeiras do que contra as operárias forrageiras.
Uma das hipóteses para explicar essas diferenças de comportamento, corroborada com análises da composição de hidrocarbonetos dos insetos utilizados no estudo, é que as formigas enfermeiras da mesma espécie e de colônias distintas podem compartilhar uma maior quantidade de compostos químicos.
“As antenas dos insetos possuem receptores específicos, na forma de pequenos pelos, por meio dos quais captam os sinais químicos desses hidrocarbonetos cuticulares – que nós chamamos de feromônios de contato – de outros insetos”, disse Nascimento.
“No contato com outro inseto da mesma espécie, eles conseguem identificar a composição cuticular dos hidrocarbonetos e de outros compostos químicos e reconhecer se ele faz ou não parte da colônia”, explicou.
Mudança de perfil
Os pesquisadores também descobriram que os insetos sociais podem mudar o perfil de seus buquês aromáticos de acordo com a alimentação, o que pode dificultar o reconhecimento pelos outros membros de sua colônia.
Em um estudo publicado na revista Insects, eles realizam um experimento em laboratório em que alimentaram um grupo de formigas saúva (Atta sexdens) operárias com folhas e pétalas de rosa e outro grupo de formigas da mesma colônia com folhas de extremosa ou resedá (Lagerstroemia sp.).
Ao juntar as formigas, as que foram alimentadas com extremosa ou resedá passaram a rejeitar e agredir as companheiras alimentadas com folhas e pétalas de rosa por causa da mudança do odor.
“O ditado que diz que somos o que comemos também parece ser válido para os insetos sociais”, avaliou Nascimento. 

quinta-feira, 26 de março de 2015

Inseminação artificial de abelhas sem ferrão

Reportagem sobre inseminação artificial de abelhas sem ferrão exibida pelo programa Sementes, da TV Cultura do Pará. A pesquisa é desenvolvida na Embrapa Amazônia Oriental.


terça-feira, 24 de março de 2015

Correios lança, em Poços de Caldas, série de selos sobre abelhas

19 DE MARÇO DE 2015

Poços de Caldas será o único município do interior do Brasil incluído nessas cerimônias
Poços de Caldas será o único município do interior do Brasil incluído nessas cerimônias
No dia 22 de maio deste ano, Poços de Caldas se junta a quatro capitais brasileiras para participar de evento conjunto entre o Ministério das Comunicações, através da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), o Clube Filatélico e Numismático de Poços de Caldas, a Associação dos Apicultores do Planalto de Poços de Caldas e Região (APIS-Poços), a Prefeitura de Poços de Caldas e a Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas (FJBPC) para o lançamento nacional de Emissão Especial dos Selos de Abelhas Brasileiras Melíponas.
Poços de Caldas será o único município do interior do Brasil incluído nessas cerimônias dos Correios, em função da idealização da série de selos de abelhas sem ferrão proposta pelo engenheiro agrônomo Ednan Dias Neto, que é integrante do clube filatelista local e vice-presidente da APIS-Poços, justificando, para a edição ser acolhida pela Diretoria da ECT, o fato de nunca ter havido tal retratação no país.
Estes detalhes foram apresentados durante a manhã da última quarta, 18, em encontro realizado com o vice-prefeito Nizar El-Khatib, no gabinete do prefeito Eloísio do Carmo Lourenço que estava em viagem à Brasília. Participaram ainda da reunião Lúcius de Oliveira, da Secretaria Estadual da Fazenda e presidente do Conselho Fiscal do Clube de Filatelistas; Fernando Aparecido Albino, gerente da Agência dos Correios em Poços de Caldas; o engenheiro Ednan Dias Neto; Maria Lúcia Mesquita, integrante do Conselho Fiscal do Clube Filatélico; Jorge Jabur, presidente da FJBPC; Rômulo Vilela Filho, secretário Municipal de Turismo e Cultura; Elke Junqueira Da Ré, representante da Secretaria Municipal de Educação; Ulisses Ferreira de Oliveira, representante da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet); e William Rayel, presidente do Clube de Filatélico e Numismático de Poços de Caldas.
Dentre as várias abordagens sobre o evento, o gerente dos Correios da cidade destacou o motivo de orgulho que a cerimônia irá representar para todo o município, sendo palco para o lançamento nacional de Emissão Especial da série de selos com motivo de abelhas indígenas nativas.
Além do lançamento dos selos, uma semana antes da cerimônia, será realizado, nas instalações da FJBPC, um curso de manejo das abelhas melíponas, conforme ressaltado por Ednan Dias, cujas inscrições devem ser abertas em breve.
No encontro, também foi apresentado como se dará todo o cerimonial do evento que acontece no dia 22 de maio, às 15h, no auditório da FJBPC, sendo restrito a convidados e comandado sob a chancela da ECT.
Por fim, o presidente do clube de filatelia discutiu com os demais envolvidos, a realização de uma mostra de selos sobre trens e ferrovias, devendo, ainda, envolver cédulas, moedas e escripofilias que retratem o tema, sendo definido o envolvimento da Secretaria Municipal de Educação, para realização de um concurso de desenho com os alunos da rede municipal, e a Secretaria Municipal de Turismo e Cultura, no apoio logístico e divulgação.
Este evento está agendado para ser aberto às 10h do dia 27 de junho na sede dos Correios em Poços de Caldas, à Rua Prefeito Chagas, 221, Centro, permanecendo aberto à visitação até o dia 30 de setembro.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Abelhas realizam tarefas complexas, como reconhecer o rosto humano

Por Constance DE CAMBIAIRE | AFP – qua, 18 de mar de 2015


As abelhas têm uma grande capacidade de realizar tarefas complexas, como contar ou reconhecer um rosto humano. Esta observação foi feita por uma jovem pesquisadora francesa, que recebeu nesta quarta-feira um prêmio por seu trabalho, oferecido pela fundação L'Oréal-Unesco "Para as Mulheres e a Ciência".
Após estudos brilhantes, Aurore Avargues-Weber, de 31 anos, pesquisadora da Universidade de Ciências Toulouse (sudoeste) descobriu por acaso o mundo das abelhas durante um estágio.
O estalo foi imediato: "Percebi que esses insetos eram capazes de realizar tarefas complexas", diz com entusiasmo. "E os resultados podem ser percebidos muito mais rapidamente do que em macacos".
O trabalho realizado como parte de sua tese demonstra empiricamente "a grande capacidade de abstração das abelhas: elas sabem contar e reconhecer um rosto", explica Avargues-Weber.
Colocadas na entrada de um labirinto, as abelhas identificaram vários sinais representados em um mapa e, depois de um rápido aprendizado, elas escolhiam regularmente a saída cujo sinal levava a uma recompensa.
Apesar do cérebro do tamanho de uma cabeça de alfinete, as abelhas possuem uma "boa visão e uma grande memória", diz a pesquisadora.
Ela também provou que estes insetos não são guiados apenas por seu instinto. Mediante um teste realizado ao ar livre, a jovem mostrou a capacidade deste animal de "adaptar o seu comportamento ao ambiente e às experiências vividas".
Até então, essa capacidade de relacionar elementos era considerada pela comunidade científica como própria dos seres humanos e de alguns macacos. "Muitas vezes pensamos que só os grandes macacos são inteligentes, mas isto está errado", insiste Avargues-Weber.
Compreender a abelha para entender o Homem
A jovem quer agora entender como as abelhas executam tarefas desta complexidade com tão poucos neurônios (um milhão, contra 100 bilhões para um ser humano).
Ela trabalha com várias linhas de pensamento: o cérebro das abelhas possui um método mais eficaz do que o do Homem para processar informações? Ou seria possível que um mesmo neurônio fosse usado para diferentes funções?
Para tentar resolver este enigma, Avargues-Weber conduzirá estudos em laboratório. Sensores serão ligados às abelhas a fim de medir a atividade cerebral, enquanto elas evoluem em um ambiente virtual usando um simulador.
Para além do mundo animal, suas observações sobre o funcionamento cognitivo das abelhas poderiam ajudar a compreender melhor o cérebro humano, o que poderia contribuir para o desenvolvimento da inteligência artificial.
Ainda que o trabalho da jovem não lide diretamente com a proteção desta espécie cada vez mais ameaçada, ela espera, no entanto, "educar mais pessoas para a proteção das abelhas, mostrando o quão inteligentes são esses insetos".
Segundo ela, as moléculas tóxicas de pesticidas "não matam diretamente as abelhas, mas perturbam seu o sistema nervoso". "Sua memória diminui, elas se perdem e confundem os odores", avisa.
Os primeiros estudos sobre este inseto remonta ao início do século passado. O austríaco Karl Von Frisch descriptografou "a linguagem das abelhas": para indicar uma fonte de alimento para os seus pares, as abelhas executam uma dança sutil. Ele também demonstrou a capacidade das abelhas para distinguir cores.
Por seu trabalho, Aurore Avarguès-Weber irá receber uma bolsa de 20.000 euros da fundação criada em 2007 para encorajar as jovens mulheres talentosas "a prosseguir com sua carreira científica".

quinta-feira, 19 de março de 2015

Dia Nacional do Mel

Caramba, pela distração acabei deixando passar... agora já coloquei na Agenda Melipônica para não acontecer novamente! 


"O Dia Nacional do Mel é celebrado em 17 de março, em todo o Brasil.
Produzido pelas abelhas, o mel é criado a partir do néctar que elas recolhem das flores e processam pelas enzimas digestivas, que são em seguida armazenado em favos nas colmeias.
Antigamente, o homem consumia o mel de forma extrativa, geralmente causando danos para as colmeias. Porém, com o passar do tempo, ele aprimorou as suas técnicas, e hoje em dia é possível abrigar abelhas "domesticadas" em colmeias artificiais, podendo assim aumentar a produção do alimento.
Ele é considerado o único alimento doce que possui sais minerais e vitaminas que são essenciais para a saúde do ser humano. Suas propriedades medicinais podem também oferecer uma ação antibacteriana."

por Antonio Carlos

quarta-feira, 18 de março de 2015

Registro e exportação do mel das abelhas sem ferrão

Os produtos de abelhas nativas já são previstos no Artigo 828 do Decreto n° 30.691/52 (RIISPOA) com a denominação de mel de abelhas indígenas, já existindo SIF’s, como exemplo no Paraná (SIF 4609 e SIF 4672), no Amazonas (SIF 731)... com registro de rótulo de Mel de abelhas Indígenas aprovados pelo SIF/DIPOA.

SIF (Serviço de Inspeção Federal): Todos os produtos de origem animal sob responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) são registrados e aprovados pelo S.I.F. visando garantir produtos com certificação sanitária e tecnológica para o consumidor brasileiro, respeitando as legislações nacionais e internacionais vigentes.

DIPOA: O Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) é a instância central e competente pela inspeção de produtos de origem animal no país, sendo subordinado administrativamente à Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA). O Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) é responsável pela elaboração das diretrizes de ação governamental para a inspeção e fiscalização de produtos de origem animal, contribuindo assim com a formulação da política agrícola do Brasil.
Visando a promoção do agronegócio brasileiro, o DIPOA promove articulações com as unidades organizacionais do órgão competente do MAPA, para elaboração de propostas para subsidiar a posição brasileira nos fóruns do MERCOSUL, no Comitê de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias,(SPS) da Organização Mundial do Comércio (OMC) e no Codex Alimentarius-da FAO/ junto à Organação Mundial da Saúde (OMS). O DIPOA também possui um importante papel na conquista de novos parceiros comerciais identificando pontos de interesse para a abertura de mercado proporcionada por atos internacionais, acordos bilaterais regionais e birregionais sobre questões sanitárias de produtos de origem animal e seus derivados, junto aos órgãos da administração pública, entidades representativas do agronegócio brasileiro e às representações estrangeiras no Brasil.

A ausência de regulamento técnico estabelecendo padrões para o produto não impede o registro do mesmo no SIF, o qual é realizado com base na Art. 901 do RIISPOA. Os estabelecimentos sob SIF interessadas em obter o registro devem cumprir, além do previsto no artigo 901 do RIISPOA, apresentar análises microbiológicas e físico-químicas que garantam a inocuidade do produto e os critérios de padronização, indicando referencia de bibliografia científica que respaldem esses padrões físico-químicos e microbiológico adotados pela empresa.
Ressalto que NÃO é exigido que o mel de abelhas indígenas atenda os mesmos padrões do mel (de abelhas Apis melifera) definido na Instrução Normativa n° 11/2000. Assim, realizar a desumidificação do mel de abelhas indígenas NÃO é obrigatório para registro no SIF/DIPOA.
Mas pode ser aceita desumidificação, bem como outros tratamentos térmicos (ex: pasteurização), desde que seja informada referencia de literatura sobre a metodologia para realização desta operação sem prejudicar a qualidade do produto.
No caso de produtos com umidade acima de 20%, que é comum em mel de abelhas indígenas, devem ser estabelecido o modo de conservação que garanta a qualidade e inocuidade do produto (ex: sob refrigeração).
A denominação de venda deve seguir o definido no art. 828 item 4 do RIISPOA, que é mel de abelhas indígenas, podendo ser indicado o tipo de abelhas sem ferrão no rótulo (ex: jataí).

Quanto aos estabelecimentos que estão trabalhando com estes produtos, estes são entreposto de mel e cera de abelhas com SIF para mel (de Apis melifera), com as instalações e equipamentos adaptados para esta finalidade, se for o caso. Sendo assim, se a empresa possui SIF(registro no Serviço de Inspeção Federal que é concedido pelo Ministério da Agricultura), o produto pode ser comercializado em todo território Nacional conforme Lei n° 1283/50 e Lei n° 7.889/90.

Para exportação de produtos, estes devem ser registrados no SIF/DIPOA e atender ao critério de certificação para o país ao qual se destina. Como o número de registro do produto é concedido à empresa que já possui registro no SIF, é esta empresa que solicita ao MAPA o registro do produto, bem como a habilitação do estabelecimento para exportar o produto para determinado país.

Assim, o que recomendo é que o interessado entre em contato com alguma empresa de mel que já possui SIF, para ver a possibilidade de beneficiamento e envase de tais produtos na empresa, a qual providenciará o registro do produto no SIF. Mas se há uma demanda de registro de estabelecimento próprio destinado exclusivamente para o beneficiamento de mel de abelhas sem ferrão, o contato inicial deve ser com a SFA (superintendência federal de agricultura, pecuária e abastecimento) da UF onde o estabelecimento estará localizado.(consultar contatos em: http://www.agricultura.gov.br/ministerio/quem-e-quem)

Lembrando que uma empresa só consegue o registro de produto, após o registro das suas instalações de beneficiamento e fracionamento. Daí a sugestão de entrar em contato primeiro com uma empresa que já possui SIF. Assim a obtenção do registro do produto no MAPA poderia ser mais rápido, pois o estabelecimento já está registrado no SIF, faltando apenas o registro do produto o qual por meio de acordo comercial entre a empresa e o produtor/interessados poderia ser concedido com a marca de terceiros (produtor/interessado).

Segue endereços eletrônicos onde podem ser obtidas informações sobre o registro de estabelecimento no SIF/MAPA e de produtos no SIF.
http://www.agricultura.gov.br/animal/dipoa/dipoa-empresario/registro-estabelecimento
http://www.agricultura.gov.br/animal/dipoa/dipoa-empresario/registro-produtos-rotulagem

terça-feira, 17 de março de 2015

Moção Abelhas Nativas

Segue abaixo documento final de uma conferência em Turim no contexto de Terra Madre 2014. Foi o resultado de uma mobilização da Slow Food no Brasil a partir de 2004 (na época atuando numa relação de colaboração muito estreita com o MDA) e que hoje se institucionaliza como Grupo de Trabalho a nível latinoamericano.


Categoria: Campanhas

Considerando que as abelhas nativas neotropicais sem ferrão (Meliponini) sempre foram elementos importantes e característicos da cultura e da história dos povos latinoamericanos;
Considerando a enorme diversidade de espécies de abelhas nativas sem ferrão existentes na América Latina e a extrema importância destas na polinização das plantas, na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas naturais e produtividade de diversas culturas agrícolas;
Considerando que essas abelhas produzem uma substância genericamente denominada de mel, porém com características fisico-químicas, microbiológicas, organolépticas, farmacológicas e gastronômicas peculiares e muito diferentes do produto das abelhas Apis mellifera;
Considerando a diversidade tecnológica e cultural existente para obtenção do mel e outros produtos das abelhas nativas sem ferrão;
Considerando o potencial produtivo da meliponicultura na América Latina para promoção da segurança alimentar, inclusão socioprodutiva e geração de renda para Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais e Agricultura Familiar;
Considerando o crescente interesse do mercado pelos diversos tipos de méis e outros produtos das abelhas nativas sem ferrão, em especial dos mercados diferenciados que valorizam o saber fazer associado ao processo de produção;
Considerando a ausência de regulamentação específica em todos os países da América Latina e no Mercosul para a atividade de criação das abelhas nativas sem ferrão, beneficiamento e controle de qualidade de seus produtos, como mel, própolis, cera e pólen, bem como de seus serviços ambientais;
Considerando o crescimento da meliponicultura comercial na América Latina e os esforços empenhados por diferentes correntes técnicas e culturais de produtores atuando no sentido de influir a regulamentação de forma independente;
Reconhecendo e valorizando a diversidade de espécies, técnicas e tradições ligadas a meliponicultura, nós, participantes do Terra Madre 2014, reiteramos a moção elaborada no Terra Madre Brasil 2010 e resolvemos instituir o Grupo de Trabalho sobre Abelhas Nativas Slow Food América Latina com a participação de produtores, pesquisadores e organizações da sociedade civil que se propõe a:
  • Promover a interação entre o saber tradicional e conhecimento científico;
  • Acompanhar e influir no processo de regulamentação/normatização da atividade para que contemple a diversidade produtiva e não homogeneíze a forma de se produzir e extinguindo o vasto conhecimento tradicional adquirido ao longo de séculos e colocando na marginalidade diversas comunidades produtivas que praticam a meliponicultura;
  • Promover uma rotina de encontros entre comunidades produtoras, pesquisadores, sociedade civil organizada e poder público para troca de experiências e aprofundar o debate sobre técnicas de produção, beneficiamento e conservação do mel das abelhas nativas sem ferrão, entender suas peculiaridades e limitações;
  • Apoiar a sistematização e o desenvolvimento de cadeias produtivas locais;
  • Apoiar a busca por estratégias de comércio justo dos produtos da meliponicultura;
  • Promover os produtos de excelência gastronômica das abelhas nativas sem ferrão e suas formas tradicionais de produção;
Ao mesmo tempo, preocupados em manter a diversidade biológica e cultural associada à meliponicultura, nós, participantes do Terra Madre 2014, solicitamos das autoridades dos países latinoamericanos que:
Os órgãos competentes busquem a participação ampla da comunidade  científica que estuda as abelhas nativas sem ferrão e de organizações de agricultores que praticam a meliponicultura, no estabelecimento do marco regulatório específico para a atividade;
O marco regulatório específico seja apropriado à escala do agricultor familiar e que contemple a diversidade de processos de obtenção e tratamento do mel, geoprópolis, cera e pólen das abelhas nativas, sem prejuízo à qualidade dos produtos, segurança para os produtores e consumidores;
Turim, 25 de outubro de 2014.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Abelhas meliponas ajudam no reflorestamento de parques

Excelente matéria em vídeo publicada no UOL em 17/08/2013, é um pouco antiga, mas vale muito a pena assistir, veja abaixo (1º Parte):


Conhecidas como 'operárias das matas', as abelhas meliponas são responsáveis pela germinação de quase 90% das flores e são essenciais no processo de reflorestamento de parques e corredores verdes do Rio de Janeiro. Além disso, o mel produzido por elas ajuda a gerar renda para famílias de comunidades carentes.

(2º Parte):


As colônias de abelhas são exemplos de organização. Uma única rainha comanda um exército formado por até 80 mil operárias, cada uma com um papel muito bem delimitado.

domingo, 15 de março de 2015

Em SP, nova técnica de polinização ajuda os produtores de morango

Abelha mandaguarí é a principal responsável pela polinização.
Fruta ideal para o mercado é resultado da visita permanente da abelha.



Uma técnica desenvolvida por pesquisadores da Embrapa vem ajudando os produtores de morangode São Paulo. Eles criam abelhas sem ferrão em laboratório para reforçar a polinização das flores nas lavouras.
A abelha mandaguarí, espécie encontrada com mais facilidade na região Sudeste do país é a principal responsável pela polinização nas plantações de morango. A fruta vermelhinha e no formato ideal para o mercado é resultado da visita permanente da abelha: sem o grão de pólen, os frutos ficam bem diferentes.
Esta nova técnica foi criada por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal do Semiárido. Desde dezembro do ano passado, eles estão criando abelhas sem ferrão para polinizar as flores nos pés de morango na região de Jarinu e Atibaia, uma das maiores produtoras da fruta no país.
Segundo os pesquisadores, para polinizar toda a área plantada com morangos no Brasil, aproximadamente 3 mil hectares, seriam necessárias 50 mil colmeias da abelha mandaguarí, mas atualmente existem pouco mais de mil.
Para ajudar os agricultores, os pesquisadores estão produzindo colmeias em larga escala. Por ano serão três mil.
Na plantação de Osvaldo Mazziero, as colmeias já foram colocadas bem próximas aos pés de morango. Cada colônia tem de 10 a 15 mil abelhas. Elas vão ficar ali durante toda a safra, depois disso, serão encaminhadas para uma empresa privada, onde serão alimentadas e depois retornarão para as plantações.
Os pesquisadores já constataram que as perdas dos agricultores que participam do estudo diminuíram. Com o reforço na polinização, a quantidade de frutos deformados caiu bastante.
Agora, a Embrapa vai testar como as abelhas reagem aos efeitos dos agrotóxicos usados no cultivo do morango com o objetivo de oferecer para o produtor uma oportunidade de manter a colheita em alta, com pouco prejuízo.

sábado, 14 de março de 2015

Votação sobre eucalipto transgênico é adiada

Notícia - 6 - mar - 2015
Após protestos de camponeses, CTNBio adia decisão sobre eucalipto geneticamente modificado; milho resistente ao agrotóxico 2,4-D foi aprovado

Camponeses protestam contra liberação de transgênicos (Divulgação MST)
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou ontem duas novas variedades de milho transgênico, uma delas resistente ao agrotóxico 2,4-D, conhecido mundialmente por ser um dos ingredientes da arma química Agente Laranja usada na Guerra do Vietnã. A votação da liberação comercial do eucalipto transgênico foi adiada após protestos, e será retomada no próximo mês.
Cerca de 300 camponeses da Via Campesina ocuparam a sala na qual acontecia a reunião da CTNBio, em Brasília, para protestar contra a aprovação das novas espécies de organismos geneticamente modificados. No momento da ocupação, os dois pedidos de liberação comercial de milho transgênico já tinham sido aprovados. A polícia foi chamada, mas não houve confronto. Diante do impasse, a reunião foi cancelada e a decisão sobre o eucalipto transgênico foi adiada para abril.
Leia mais:
Mais cedo na manhã de ontem, cerca de mil mulheres do MST (Movimento Sem Terra) dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais ocuparam uma fábrica da FuturaGene Brasil / Suzano no município de Itapetininga, em São Paulo. O objetivo da ocupação também era protestar contra a possível liberação da árvore geneticamente modificada.
Veja o vídeo da ocupação:

“O eucalipto transgênico da FuturaGene / Suzano não foi totalmente estudado e seus impactos no meio ambiente são ainda desconhecidos. Camponeses e consumidores estão preocupados e a sociedade está mobilizada para pedir que essa liberação não aconteça”, disse Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de agricultura e alimentação do Greenpeace. “Resta saber se a CTNBio vai ouvir os pedidos da sociedade ou se vai priorizar os interesses de uma única empresa”, completou ela.
Embora o adiamento da decisão sobre o eucalipto transgênico seja uma boa notícia, a aprovação das duas novas variedades de milho é preocupante por seu alto potencial de danos à saúde e ao meio ambiente. Em março de 2014, o Ministério Público pediu a suspensão de diversos tipos de agrotóxicos usados no Brasil, dentre eles o 2,4-D e o glifosato, amplamente usados em culturas transgênicas.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Mel brasileiro sob ameaça de contaminação transgênica

Alimentos02 Mar 2015

Idec e demais organizações da sociedade civil alertam, em manifesto, sobre risco de cultivo de eucalipto transgênico no país. Espécie é capaz de prejudicar desde a produção de mel até plantações de alimentos. Proposta será votada dia 5/3 e pode afetar mercado e consumidores que serão expostos a um produto potencialmente inseguro 


Foi encaminhado hoje (02/03) ao Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo e à Presidente substituta da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) Maria Lucia Zaidan Zagli, um manifesto contra a liberação da comercialização de eucalipto transgênico (variedade H421) no Brasil, considerando os grandes riscos relacionados à contaminação genética de plantações convencionais, perdas econômicas na produção de mel, ameaças à saúde e comprometimento de recursos naturais. 
O pedido de autorização de plantio da espécie geneticamente modificada foi feito à CTNBio pela empresa FuturaGene/Suzano, com objetivo de aumento da produtividade do eucalipto para a indústria de papel e celulose. A autorização será votada em reunião da CTNBio em 05/03 e, se aprovada, levará ao descumprimento da legislação brasileira e de acordos internacionais, como a CBD (Convenção da Biodiversidade), que pede a realização de análises de riscos rigorosas quanto à liberação de OGMs (Organismos Geneticamente Modificados), como os transgênicos, no país e o estabelecimento de regras rigorosas que inviabilizem a contaminação genética de outras culturas pelos mesmos. 
Confira o manifesto, com a assinatura de várias organizações, AQUI.
Um dos grandes riscos da variedade transgênica em questão é a contaminação de plantios convencionais de eucalipto que subsidiam, seja em maior ou menor grau, praticamente toda a produção de mel no Brasil, com efeitos que a CTNBio alegou não serem possíveis de serem estudados. Segundo análise do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) apresentada durante uma Audiência Pública promovida pela CTNBio, os documentos fornecidos pela FuturaGene apresentam falhas que não permitem que se conclua se a planta modificada em questão é ou não segura para as abelhas. Um dos genes inseridos no DNA deste transgênico produz uma substância antibiótica e a presença desta substância nas colmeias poderá selecionar bactérias que causam doenças resistentes a antibióticos e que poderão causar a longo prazo doenças de difícil controle nas abelhas.
Além disso, o pólen produzido pelas árvores transgênicas, ao ser consumido e processado pelas abelhas pode vir a causar efeitos indesejáveis nestas e possivelmente nos seres humanos que se alimentarem de seus produtos, pois os genes inseridos artificialmente podem se expressar com erros, produzindo moléculas que o organismo não faz em condições naturais, inclusive toxinas e substâncias alergênicas. A ausência de certeza científica sobre efeitos do consumo de néctares, pólen e produtos semelhantes sob estas condições e a incapacidade de resguardar o mel de contaminação transgênica, portanto, agravam a possibilidade de riscos para a saúde humana e de organismos diversos no ambiente onde se plantará esta variedade.
O impacto na produção
O eucalipto é a principal fonte de néctar e pólen para a apicultura (produção de mel) no Brasil, principalmente nos Estados do Sul, Sudeste e Nordeste (Sul da Bahia). O mel contém cerca 1% de pólen e estima-se que quase todo o mel produzido possui pólen de eucalipto como dominante em sua origem. 
A apicultura é uma atividade econômica expressiva no Brasil, que consta como o décimo maior produtor de mel do mundo. Segundo o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), metade da produção brasileira de mel é em grande parte vinda da agricultura familiar, envolvendo cerca de 500 mil apicultores, e destinada à exportação. Portanto, sua exposição à contaminação - que resultaria na necessidade de rotulagem do mesmo com o selo de transgênico ou a retirada dos mesmos da categoria de mel orgânico ou agroecológico - e a consequente desvalorização do produto, representaria um grande prejuízo para o país, produtores e também consumidores, que terão acesso a um produto de pior qualidade e potencialmente inseguro. 
Tendo em vista o conjunto de incertezas que a liberação representa à saúde dos consumidores, ao equilíbrio ambiental e possibilidade de ocorrência de sobreposição de  interesses comerciais aos direitos dos consumidores, à proteção do meio ambiente e da saúde da população, o Idec entende que, no caso em questão, deva prevalecer o princípio da precaução, previsto na Constituição Federal, para análise desses casos de liberação comercial e ainda de garantia a produtos seguros como disposto no Código de Defesa do Consumidor.
Problemas aumentados
A cultura de eucalipto admite o uso de agrotóxicos em grande quantidade, como os à base de glifosato e de sulfluramida (cancerígeno), ambos alvo de acordo na Convenção de Estocolmo, da qual o Brasil é signatário, e que dispõe sobre os riscos da utilização e comercialização dos mesmos no país. Sabe-se que as abelhas são especialmente sensíveis aos efeitos de agrotóxicos durante o processo de polinização, levando ao declínio de enxames e da polinização natural em culturas que não só as produtoras de mel, como a produção agrícola de alimentos (feijão, abóbora, pepino, tomate e outros) e flora silvestre em geral, que dependem das mesmas para sua reprodução. 
Além disso, o cultivo de eucalipto, em especial desta variedade transgênica, promove um alto consumo de água, o que pode alterar o balanço hídrico da microbacia na região onde se realizar o plantio, fato que chama a atenção para o incentivo à expansão de um cultivo voltado para indústria em cenário de crise hídrica e possível escassez de água para consumo humano.
Mobilização no Brasil sobre o caso
Foi feito no mês passado pelo Idec, em conjunto com especialistas em biotecnologia consultados, um alerta em relação aos riscos ambientais, biológicos e econômicos do plantio do eucalipto geneticamente modificado do tipo H421. A solicitação - encaminhada por carta às empresas FuturaGene, ArborGen Tecnologia Florestal Ltda., International Paper do Brasil Ltda. e Fibria Celulose S. A.; e ao Ministério da Casa Civil (MCC), Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e à diretora executiva do Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (FSC) - pediu que todos os pedidos de liberação da espécie feitos junto à CTNBio fossem retirados, em especial o de liberação comercial. As empresas FuturaGene e Fibria responderam de forma evasiva, enquanto as empresas ArborGen e International Paper do Brasil sequer se pronunciaram.

Essa mobilização do Instituto, em oposição aos eucaliptos transgênicos, foi motivada após a visita do maior especialista em OGM da atualidade, o americano Jeffrey Smith, ao Idec no final do ano passado.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Doenças, contaminações, morte de abelhas: dossiê denuncia impacto dos agrotóxicos no RS

10/mar/2015, 19h36min


José Mariano Stuck, de Encruzilhada do Sul: "Estou aqui pedindo socorro. Preciso fazer cirurgias e até os remédios que eu ganhava pararam de me dar. Não consigo trabalhar por que sinto dor."  Foto: Guilherme Santos/Sul21
José Mariano Stuck, vítima de deformações causadas por contaminação: “Preciso fazer cirurgias e até os remédios que eu ganhava pararam de me dar. Não consigo trabalhar porque sinto dor.”
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Marco Weissheimer
“2015 será o ano da batalha das ideias e da guerra contra os agrotóxicos. Começamos essa guerra no dia de hoje.” O anúncio feito por Salete Carollo, da coordenação estadual da Via Campesina, deu o tom do ato sobre o impacto do uso de agrotóxicos no Rio Grande do Sul que lotou o auditório Dante Barone, da Assembleia Legislativa, na tarde desta terça-feira (10). “Os venenos estão nos matando. É nosso dever de mulheres, mães e defensoras da vida denunciar esse mal que vem destruindo a possibilidade de um futuro digno para todas as pessoas”, disse Carollo no início do ato que contou com a presença de mais de 800 militantes da Via Campesina, da Marcha Mundial das Mulheres, MST, Movimento dos Atingidos por Barragens, CPERS, entre outras entidades. Uma encenação teatral da morte que acompanha a contaminação por agrotóxicos e da luta pela vida empreendida diariamente pelas agricultoras antecedeu a apresentação das denúncias.
Uma encenação teatral da morte que acompanha a contaminação por agrotóxicos e da luta pela vida empreendida diariamente pelas agricultoras antecedeu a apresentação das denúncias. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Uma encenação teatral da morte que acompanha a contaminação por agrotóxicos e da luta pela vida empreendida diariamente pelas agricultoras antecedeu a apresentação das denúncias.
Foto: Guilherme Santos/Sul21
Pela manhã, centenas de mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) ocuparam a sede da empresa multinacional israelense Adama, em Taquari. Uma das maiores empresas de agroquímicos do Sul do País, a Adama, segundo o MST e o MAB, é responsável pela produção de princípios ativos de agrotóxicos para sementes, incluindo o 2,4-D, que estava proibido no Brasil por ser cancerígeno. O 2,4-D, destacaram os promotores da ocupação, é um dos principais componentes do agente laranja, usado como arma química pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã.
“O dia que estou sem dor é o dia mais feliz da minha vida”
O ponto alto do ato no Dante Barone foi a entrega de um dossiê com um conjunto de denúncias de danos provocados pelo uso de agrotóxicos no Rio Grande do Sul. Na abertura do encontro foi exibido um vídeo com uma série de relatos de agricultores que tiveram suas vidas afetadas pelos agrotóxicos. O mais marcante deles foi o do agricultor José Mariano Stuck, de Encruzilhada do Sul, que sofreu graves demarcações nos braços e nas pernas causadas pelo contato com agrotóxicos. “Estou aqui pedindo socorro. Preciso fazer cirurgias e até os remédios que eu ganhava pararam de me dar. Não consigo trabalhar por que sinto dor. O dia que estou sem dor é o dia mais feliz da minha vida”, relatou.
Além do caso de José Mariano, o vídeo-denúncia entregue como elemento de prova para os representantes da Assembleia Legislativa, Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal e Defensoria Pública, apresentou depoimentos de agricultores que relataram problemas de saúde, de contaminação de cultivos orgânicos e de perdas provocadas pelo uso de agrotóxicos. Adriano de Potter denunciou a contaminação de sua produção por agrotóxicos utilizados em lavouras vizinhas. “Estamos cercados por lavouras que usam muito agrotóxico. Isso está acontecendo com vários produtores orgânicos”. José Carlos, agricultor assentado em Hulha Negra há cerca de 25 anos, disse que esse problema se agravou com a expansão das lavouras de soja no Estado. “Estamos cercados”, resumiu.
Agricultoras recolheram depoimentos de contaminações por agrotóxicos em várias cidades do Estado. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Agricultoras recolheram depoimentos de contaminações por agrotóxicos em várias cidades do Estado. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Morte de abelhas e perda de colmeias
Vários agricultores relataram a morte massiva de abelhas e a perda de colmeias inteiras, que teriam sido causadas pela contaminação por agrotóxicos. “Em setembro tive perda total das colmeias, consegui recuperá-las, mas em novembro e dezembro o problema se repetiu. Fiz uma ocorrência policial na esperança de que o Batalhão Ambiental da Brigada fosse registrar com fotos a quantidade de abelhas mortas. Infelizmente eles não apareceram”, disse José Carlos.
O dossiê entregue às autoridades foi construído a partir de relatos obtidos em visitas a agricultores de vários municípios do Estado e de outros relatos que foram enviados à Via Campesina. As agricultoras pediram a imediata abertura de inquérito para apurar os danos que estão sendo causados a agricultores e à sociedade como um todo.
Entre outras reivindicações, a Via Campesina e as demais entidades que promoveram o ato, defendem: a proibição da pulverização aérea de agrotóxicos, a rotulagem de produtos cuja elaboração envolveu o uso de agrotóxicos, a produção de provas por laboratórios públicos e de universidades assim que ocorrerem denúncias de contaminação, ações de indenização por danos físicos, morais, ambientais e ao patrimônio, a inclusão de todas as pessoas contaminadas na Seguridade Social com atendimento garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a desapropriação para fins de reforma agrária de propriedades que, comprovadamente, causaram danos ambientais.
Deputado Edegar Pretto, autor de projetos que proíbem no Rio Grande do Sul a fabricação, uso e comercialização do agrotóxico Diclorofenoxiacético (2,4-D), e a pulverização aérea de agrotóxicos no RS. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Deputado Edegar Pretto, autor de projetos que proíbem no Rio Grande do Sul a fabricação, uso e comercialização do agrotóxico Diclorofenoxiacético (2,4-D), e a pulverização aérea de agrotóxicos no RS. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Autor de projetos que proíbem no Rio Grande do Sul a fabricação, uso e comercialização do agrotóxico Diclorofenoxiacético (2,4-D), a pulverização aérea de agrotóxicos, e que estabelece a obrigatoriedade de indicação expressa sobre o uso de agrotóxicos nos produtos alimentares, o deputado Edegar Pretto (PT) defendeu a agenda de reivindicações apresentada no ato e lembrou que há diversos produtos sendo usados no Brasil que são proibidos nos países de origem.
O contra-veneno jurídico
Carlos Roberto Lima Paganella, do Ministério Público Estadual, destacou que a maioria dos agrotóxicos citados nas denúncias já são objeto de ação por parte do Ministério Público Federal, em Brasília. “A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deveria revisar a liberação de oito ingredientes utilizados nestes agrotóxicos”, defendeu. Paganella lembrou ainda que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul liberou a comercialização de produtos à base de paraquat no Estado. A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) havia indeferido em 2012 os produtos a base desse princípio ativo por seus efeitos danosos à saúde humana. Estes produtos são considerados extremamente tóxicos, podendo causar falência aguda de órgãos, e fibrose pulmonar progressiva. O MP está tentando reverter essa decisão do TJ gaúcho junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
“Precisamos nos organizar para fazer o contra-veneno”, defendeu ainda Paganella. “É necessário garantir que os laboratórios de referência consigam fazer os exames necessários para a produção de provas. Além disso, as universidades públicas precisam aprofundar os estudos sobre os efeitos desses produtos. Tudo isso é condição para a responsabilização civil integral de fabricantes e empresas que comercializam esses produtos. Temos base legal para ajuizar ações de reparação por danos físicos e ambientais. Mas precisamos produzir provas de qualidade se quisermos decisões judiciais favoráveis”, assinalou o representante do MP Estadual.
Na mesma direção, a procuradora Ana Paula Carvalho de Medeiros afirmou o compromisso do Ministério Público Federal com a defesa da Constituição Federal e, portanto, da saúde do trabalhador e do meio ambiente. Ela destacou a criação, há pouco mais de um ano, do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos Negativos dos Agrotóxicos, uma articulação entre os MPs Estadual e Federal e cerca de 40 entidades da sociedade civil. A procuradora convidou a Via Campesina a se integrar ao Fórum e anunciou a realização de uma série de agendas públicas no interior sobre esse tema. A primeira delas será em Ijuí, no mês de abril.