sábado, 31 de janeiro de 2015

Alerta de um Técnico Apícola à Meliponicultura

Ola... recebi este vídeo e decidi compartilhá-lo com todos por fazer alguns apontamentos interessantes e ao mesmo tempo preocupantes.
A matéria completa foi veiculada em duas partes, porém coloquei apenas a que menciona a Meliponicultura, pois é o tema deste blog. Nesta parte o entrevistado fala sobre a importância de um manejo sustentável e técnico na Apicultura para minimizar os efeitos nocivos às abelhas nativas...
Segue abaixo o vídeo.
A imagem não está tão boa, mas espero que gostem.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Rainhas em convívio

As colônias de uma espécie de abelha brasileira, a guaraipo, são lideradas por até cinco rainhas e compõem um ambiente com regras mais flexíveis

© EDUARDO CESAR
Dia-a-dia das guaraipo: operárias voltam ao ninho, uma delas trazendo pólen (nas patas)
As pesquisas com uma abelha típica da Mata Atlântica, a Melipona bicolor, estão revelando uma organização colonial menos hierarquizada e uma maior divisão de poder entre rainhas e operárias, as duas castas dessa espécie que vivem lado a lado. No universo da guaraipo, como essa espécie é conhecida, há quase sempre mais de uma rainha – evidência de um comando compartilhado – e as operárias não se mostram tão submissas.
As servas geram ovos tróficos, que servem de alimento para as abelhas líderes, mas uma fração das operárias às vezes engana as soberanas e bota outro tipo de ovo – o reprodutivo, que gera machos, fruto de uma forma de reprodução assexuada. “Os ninhos de guaraipo constituem uma sociedade com uma estrutura mais flexível”, diz a bióloga Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, do Laboratório de Abelhas do Instituto de Biociências das Universidade de São Paulo (IB/USP). “As rainhas coordenam o trabalho, mas não mandam tanto.”
Nos ninhos de Apis mellifera, a abelha de mel, que serve de referência para os cientistas, as relações internas são mais rígidas. Há apenas uma rainha, centralizadora, e as obedientes operárias trabalham na construção e manutenção do ninho. As servas praticamente não botam ovos reprodutivos – hormônios produzidos pela rainha inibem o desenvolvimento de seus ovários. As operárias da abelha de mel nunca põem ovos tróficos.
Descrita há mais de 160 anos, a guaraipo é uma abelha mansa, sem ferrão, com cerca de 1 centímetro, que costuma fazer o ninho próximo ao solo, no interior de árvores. Por apresentar comportamentos e uma estrutura social aparentemente inédita, tornou-se a estrela do projeto temático que Vera Lúcia coordena. Sua equipe, que conta com pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e colaboradores na Europa e nos Estados Unidos, estuda a organização colonial e os padrões de reprodução de mais de uma dezena de espécies de abelhas nativas no Brasil, sobretudo as da subfamília Meliponinae (meliponíneos).
Essas abelhas indígenas -também chamadas assim pois já estavam aqui ao lado dos primeiros habitantes de nosso território – são importantes por vários motivos. Do ponto de vista ecológico, ajudam a preservar a biodiversidade: são as polinizadoras por excelência das matas brasileiras. Para a ciência, representam um objeto de interesse único. Por serem típicas de áreas tropicais, são pouco estudadas no exterior e, a julgar pelos primeiros resultados dos trabalhos com a M. bicolor, constituem uma nova e formidável linha de pesquisa. Em termos econômicos, as abelhas nativas geram receita com a produção de mel – geralmente em menor quantidade e mais caro que o produzido pela A. mellifera -e podem se tornar grandes aliadas da agricultura nacional graças a uma peculiaridade. Diferentemente da popular e agressiva abelha de mel, não têm ferrão e não picam. Isso torna menos arriscado seu manejo e as coloca na condição de polinizadoras por excelência de culturas em estufa.
Apenas mil das 30 mil espécies de abelhas conhecidas no mundo formam colônias e sociedades organizadas – as demais vivem solitariamente ou em colônias de organização menos complexa. O modelo clássico de estruturação colonial é o da A. mellifera, com uma rainha à frente das operárias e os zangões – os machos – vivendo fora do ninho. De acordo com as bases da ecologia comportamental, a forma mais eficiente de perpetuar a espécie – ou seja, conservar os genes – requer que as operárias abram mão de sua função reprodutiva. As operárias aceitam trabalhar para a rainha – que é fecundada por mais de uma dezena de machos – apenas porque esta é que vai gerar os indivíduos geneticamente mais próximos delas: outras operárias, todas irmãs, com as quais compartilham genes. Se tivessem filhas, as operárias completas (filhas do mesmo pai e da mesma mãe) passariam apenas 50% de seus genes. Para elas, do ponto de vista genético, é mais vantajoso ter irmãs do que filhas.
Na guaraipo, como há mais de uma rainha na colônia, nem todas as operárias são irmãs. Algumas são primas ou exibem outro grau de parentesco, visto que as múltiplas rainhas tendem a ser mãe e filha ou irmãs. Em compensação, para reforçar os laços familiares, cada rainha da guaraipo parece cruzar com apenas um macho, diferentemente do que acontece com a abelha líder da A. mellifera. Mas, no final, o resultado é semelhante ao da abelha de mel: há diferenças genéticas entre as abelhas, apontadas como fontes dos conflitos nas colônias.
Tendência à divisãoNas colônias de guaraipo, como nas de qualquer espécie de abelha, rainhas não são rebaixadas de status, nem uma operária pode ganhar o controle do ninho ou dominar colegas. Ainda assim, ali acontecem coisas intrigantes. Embora tenha observado ninhos liderados por uma só rainha, Vera Lúcia notou que a organização social típica da guaraipo são colméias com duas ou três rainhas e às vezes até quatro ou cinco. Já se viu essa característica esporadicamente em outras espécies, mas não como padrão da espécie, “Ninhos comandados por mais de uma rainha são um traço mais comum em colônias de vespas e de formigas”, diz ela.
Mas por que existem colônias de guaraipo com muitas rainhas quando o padrão entre as abelhas sociais parece ser o da A. mellifera? Ninguém sabe ainda. Cogita-se que elas seriam descendentes de espécies mais primitivas ou fruto de ambientes com pouco espaço, o que teria favorecido a coexistência de várias líderes num só ninho. Há quatro anos e meio no Brasil, o biólogo holandês Dick Koedam, que deixou a Universidade de Utrecht para ser colaborador no Laboratório de Abelhas da USP, observou um comportamento absolutamente fora do normal em rainhas da guaraipo. Como nobres modernos, elas até trabalham. Esporadicamente, produzem cera, como se provou por análises químicas. “A Melipona bicolor é fascinante”, diz Koedam, que já estudou na Costa Rica os hábitos de outra espécie sem ferrão abundante no Brasil, a jataí (Tetragonisca angustula).
Outro dado surpreendente da guaraipo: as rainhas convivem em tranqüilidade, sem grandes disputas, num mundo onde a partilha de liderança não parece ser empecilho ao desenvolvimento do grupo. Experimentos no IB mostram que a retirada de uma das rainhas de colônias com duplo comando não altera sua organização. Na maioria dos casos, após alguns meses, uma segunda líder é criada e aceita por todo o grupo, até pela primeira rainha. Isso mostra que para essa abelha sem ferrão é mais interessante contar com múltipla chefia do que com comando único.
Rainhas enganadasA base da escala social da guaraipo também fornece dados igualmente extraordinários. Vera Lúcia colheu evidências de que algumas operárias podem demonstrar comportamento individualista e enganar as rainhas. Sua equipe filmou ninhos em que uma operária – membro, portanto, da casta responsável por fornecer alimento e construir as células onde as rainhas depositam o óvulo fecundado que vai gerar um descendente – articula uma artimanha. Ela espera uma das rainhas botar um ovo e, depois que a líder deixa o local, coloca um ovo reprodutivo seu e, finalmente, fecha a célula. Às vezes, outra operária percebe a artimanha da colega contra a rainha e resolve intervir: numa atitude igualmente individualista, devora o ovo da companheira de casta e o da rainha e bota – ela também! – um ovo reprodutivo. Muitas vezes uma dezena de operárias age dessa forma, sucessivamente.
Em ninhos de A. mellifera, é comum uma operária policiar o comportamento das demais. Não é um evento banal, mas também não é raro. Se nessa espécie o policiamento pretende garantir a integridade dos ovos da rainha e punir as operárias infratoras, na guaraipo a vigilância pode levar a uma nova transgressão. Apesar da rebeldia, as operárias de guaraipo parecem não manifestar nenhuma preferência em termos de chefia. Atendem a todas as rainhas da colônia com igual dedicação.
Vera Lúcia e seus colaboradores estão convencidos de que algumas operárias de guaraipo são, na verdade, especializadas em botar ovos reprodutivos, um indicativo de que a divisão interna das tarefas nessa espécie pode apresentar diferenças significativas em relação ao que ocorre nos ninhos de A. mellifera. A partilha de funções entre as operárias da abelha de mel é feita em função basicamente da idade dos membros da colméia. Ao longo de sua breve vida (40 dias no verão ou 140 no inverno), uma operária de A. mellifera desempenha todas ou a maioria das funções reservadas a essa casta. Na guaraipo, esse padrão é parcialmente mantido, mas algumas operárias parecem se dedicar quase exclusivamente a botar ovos reprodutivos.
Sexo das abelhasO comportamento reprodutivo das rainhas ainda intriga. Com quantos machos elas cruzam? Ainda não se consegue provar se com apenas um ou vários. A hipótese mais aceita vem de um trabalho feito nos EUA com 70 colônias de várias espécies de abelhas sem ferrão. A conclusão é que a rainha deve ser fecundada por apenas um macho. Para Vera Lúcia, esse também deve ser o padrão de comportamento da guaraipo.
Os estudos sobre o sistema de comunicação entre rainhas e operárias da guaraipo – conduzidos pela bióloga Carminda da Cruz-Landim, do Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro – estão em fase inicial. Mas já há resultados. Constatou-se que a linguagem dessas abelhas sem ferrão é fundamentalmente de ordem química, à base de feromônios, substâncias produzidas por glândulas, como as de Dufour, as mandibulares e as tegumentárias, que sinalizam determinados comportamentos, em muitos casos de sentido sexual ou reprodutivo.”Queremos descobrir como as rainhas e as operárias se portam diante de cada substância produzida por essas glândulas”,diz Carminda. “Se entendermos como essas espécies nativas se comportam e estruturam uma colônia, poderemos aprender a manejar melhor os ninhos de guaraipo e de outros meliponíneos. Esse conhecimento pode ser também de grande interesse comercial.”
Genes iguais em ordem diferenteO seqüenciamento do DNA mitocondrial da Melipona bicolor, realizado no IB/USP, produziu um dado interessante: a abelha nativa apresenta exatamente a mesma quantidade e tipos de genes que a Apis mellifera, até então a única espécie de abelha a ter essa área genética mapeada. Além de exibirem uma seqüência comum dedicada à replicação de seus respectivos DNAs mitocondriais, as duas espécies têm 37 genes. Todos com funções idênticas: 13 são responsáveis pela produção de proteínas, 22 pela síntese de RNA transportador e 2 pela de RNA ribossômico.
As semelhanças param por aí. O DNA mitocondrial da M. bicolor tem cerca de 18.500 pares de bases, 2.000 a mais que o da A. mellifera. Mas não é essa diferença de tamanho que intriga Maria Cristina Arias, coordenadora do Laboratório de Genética e Evolução de Abelhas do IB/USP, cuja equipe executou o seqüenciamento. Para sua surpresa, embora sejam iguais, os genes das duas espécies estão espalhados distintamente no DNA mitocondrial de cada inseto. Se na guaraipo um gene está em determinado trecho da seqüência, na abelha do mel ele aparece em outro lugar. “Isso é um achado em termos evolutivos”, diz a bióloga. “Sempre acreditamos que espécies de uma mesma família taxonômica tinham não só genes mitocondriais iguais, mas também uma igual ordenação desses genes.”
A tendência à manutenção praticamente intacta do DNA mitocondrial se deve a uma peculiaridade desse tipo de material genético, segundo Maria Cristina. Na maioria dos seres vivos, o DNA mitocondrial é passado entre as gerações apenas pela linhagem materna da espécie, sem qualquer contribuição paterna. Isso diminui a possibilidade de recombinação genética, perpetuando um número limitado de variações na composição do DNA mitocondrial entre os organismos com um ancestral comum do sexo feminino.
Como todas as 30 mil espécies de abelha do mundo, a M. bicolor e a A. mellifera pertencem a uma mesma grande família de insetos, Apoidea. Logo, as duas espécies devem ter um ascendente comum em algum momento do passado. O fato de suas mitocôndrias conterem material genético com um grau de diferença maior que o esperado configura um novo enigma. “Vamos ter de seqüenciar o DNA mitocondrial de outras abelhas para entender o que acontece com a Melipona bicolor e a Apis mellifera.”
Artistas da polinizaçãoAs abelhas indígenas sem ferrão, os chamados meliponíneos, são aliadas da agricultura nacional. Polinizadoras espontâneas das matas nativas do país e mais mansas do que a Apis mellifera, podem ser utilizadas em estufas para aumentar a produtividade e a qualidade do que se planta. Já há estudos mostrando que os frutos polinizados exclusivamente por abelhas são maiores e mais saborosos. “Nos países do hemisfério norte, onde há um declínio na quantidade de polinizadores naturais, esse tipo de pesquisa já é algo corriqueiro”, diz Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, da USP.
No Brasil, ainda não se adotam abelhas como polinizadoras das plantações – nem mesmo a A. mellifera, vista apenas como fornecedora de mel. Mas a situação começa a mudar. Em Atibaia, a bióloga Kátia Malagodi Braga testa o emprego de abelhas nativas para polinizar estufas de morangos, cultura típica da região. Das cinco espécies de meliponíneos analisadas, uma se mostrou ótima candidata para desempenhar essa função, a jataí (Tetragonisca angustula).
Exemplares de jataí visitavam regularmente as flores da cultura, levando o pólen necessário para a fertilização da planta. E quando nasciam os morangos propriamente ditos, as jataís, ao contrário de outras abelhas, não danificavam a parte comestível do fruto. “Os frutos que as jataí polinizaram me parecem maiores e melhores”, diz Osvaldo Maziero, produtor de morangos e dono da propriedade onde é feito o experimento. Kátia também está satisfeita com os resultados da pesquisa. “Para avançar, precisamos agora dominar o manejo da jataí em estufas de morango”, afirma.
O ProjetoOrganização Colonial e Padrões de Reprodução em Abelhas Indígenas
ModalidadeProjeto temático
CoordenadoraVera Lúcia Imperatriz Fonseca – Instituto de Biociências da USP
InvestimentoR$ 161.883,17 e US$ 106.471,00

sábado, 17 de janeiro de 2015

Azar, olho gordo ou o quê?

Hoje identifiquei uma enxameação de Jataí justamente onde instalei minha ultima isca PET


É... nesta foto não da para ver, mas eram muitas abelhas!
Agora só não sei se estou com muito azar ou alguma coisa está errada, pois novamente elas escolheram outro lugar para nidificarem... E bem perto da isca.


Será que é olho gordo?!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Pesticida feito com veneno de aranha pode salvar abelhas, diz estudo

04/06/2014 06h00

Populações de abelhas estão em declínio na Europa, América e Ásia.
Pesticidas comuns usados para proteger plantações podem afetar abelhas.

Da AFP
Populações de abelhas estão em perigo na Europa, na Ásia e nas Américas (Foto: AFP Photo / DPA/ Roland Weihrauch)Populações de abelhas estão em perigo na Europa, na Ásia e nas Américas (Foto: AFP Photo / DPA/ Roland Weihrauch)
O veneno de uma das aranhas mais venenosas do mundo pode ajudar a salvar as abelhas melíferas (produtoras de mel) ao servir de base para um bio-pesticida capaz de eliminar pragas, mas poupar os insetos que são polinizadores poderosos, revelou um estudo publicado nesta quarta-feira (3).
As populações de abelhas, tanto selvagens quanto criadas em cativeiro, estão em declínio na Europa, nas Américas e na Ásia por razões que os cientistas lutam para entender. Os pesticidas industriais são considerados os principais responsáveis.
No ano passado, cientistas alertaram que certos pesticidas usados para proteger cultivos ou colmeias podem confundir os circuitos cerebrais das abelhas, afetando sua memória e suas habilidades de navegação das quais dependem para encontrar comida. Esse efeito tem colocado colmeias inteiras em perigo.
Desde então, a União Europeia impôs uma proibição temporária a alguns desses produtos químicos.
Agora, uma equipe da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, descobriu que um bio-pesticida feito com uma toxina do veneno da aranha da família Hexathelidae, natural da Austrália, e uma proteína da planta galanto, não prejudica as abelhas.
"Fornecer doses agudas e crônicas [da toxina] às abelhas, para além dos níveis que experimentariam no campo, teve apenas um efeito suave na sobrevida das abelhas e nenhum efeito mensurável em seu aprendizado e memória", informou a universidade em um comunicado.
Nem as abelhas adultas, nem as larvas foram afetadas, reportou o estudo publicado na revista "Proceedings of the Royal Society B".
Anteriormente, o bio-pesticida não demonstrou ter efeitos nocivos aos humanos, apesar de ser altamente tóxico para uma série de pragas importantes.
As abelhas respondem por 80% da polinização de plantas feita por insetos. Sem elas, muitos cultivos deixariam de dar frutos ou precisariam ser polinizados manualmente. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) informou que os polinizadores contribuem com pelo menos 70% dos grandes cultivos de alimentos humanos.
O valor econômico dos serviços de polinização foram estimados em US$ 208 bilhões em 2005. "Não haverá uma solução única", disse o co-autor do estudo, Angharad Gatehouse.
"O que precisamos é de uma estratégia de gestão integrada de pragas e pesticidas específicos aos insetos serão apenas uma parte disto", concluiu.
(fonte: G1)

Na verdade o que salvaria mesmo as abelhas é não utilizar agrotóxico algum!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Com ataque suicida, abelhas sem ferrão protegem a colônia

12 de janeiro de 2015

Agência FAPESP – Por não terem o ferrão funcional das abelhas Apis mellifera, as abelhas sem ferrão (Meliponini) costumam ser vistas como inofensivas e incapazes de se defender de um eventual ataque de predadores ou de saqueadores às suas colônias.
Um estudo realizado por pesquisadores da University of Sussex, do Reino Unido, em colaboração com colegas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) – ambas da Universidade de São Paulo (USP) –, revelou que, apesar de serem incapazes de ferroar como as Apis mellifera por terem o ferrão vestigial (atrofiado), as abelhas sem ferrão apresentam diferentes mecanismos de defesa.
Um deles é “morder” com tanta persistência um alvo intruso ao ponto de não se desprender e morrer durante o ataque, sacrificando-se para proteger a colônia do saque de seu alimento por outras abelhas “ladras” e da predação por outros animais.
Os resultados do estudo, realizado no âmbito de um projeto apoiado pela FAPESP, foram publicados na revista Behavioral Ecology and Sociobiology.
“É a primeira descrição de um comportamento de defesa suicida em espécies de abelhas sociais, excluindo a Apis mellifera, que possui ferrão serrilhado e se destaca do corpo ao ferroar, provocando a morte do inseto”, disse Denise de Araujo Alves, pesquisadora da Esalq-USP e uma das autoras do trabalho, à Agência FAPESP
“Quando algumas espécies de abelhas sem ferrão atacam, elas mordem e acabam morrendo porque ficam presas por muito tempo ao alvo. Dessa forma, conseguem afugentar possíveis inimigos de seus ninhos-colônias que contêm, além da cria, a rainha-mãe, estoques de alimento [mel e pólen] e materiais de arquitetura, como resina”, disse.
Os pesquisadores realizaram três experimentos em campo com 12 espécies diferentes para estudar os mecanismos de defesa de abelhas sem ferrão.
Em um dos experimentos, fizeram tremular pequenas bandeiras pretas de feltro próximo da entrada de colônias de diferentes espécies para provocar as abelhas e calcular quanto tempo demoravam para iniciar o ataque, por quanto tempo atacavam o alvo e o número de abelhas atacantes.
Algumas espécies de abelhas esboçaram pouca ou nenhuma reação à aproximação da bandeira da entrada da colônia. Já as operárias de outras três espécies de abelhas sem ferrão do gênero Trigona – a Trigona hyalinata, a Trigona fuscipennis e a Trigona spinipes – e a Partamona helleri atacaram as bandeiras em grupo com muita agressividade e por um período de quase uma hora.
Os exemplares da espécie Trigona hyalinata, por exemplo, chegaram a sofrer danos fatais, como separar a cabeça do corpo ao prender a mandíbula na bandeira em vez de soltá-la após o ataque.
“As abelhas dessas espécies de Trigona atacaram a bandeira em massa a partir do momento em que ela foi tremulada na entrada da colônia”, disse Alves. “Só o fato de um objeto passar em frente à colônia já representa um sinal de ameaça para elas.”
”Dentes” afiados
Para medir o nível de dor infligida pelo ataque de cada espécie de abelha sem ferrão, os pesquisadores serviram de “cobaia” ao se posicionar em frente à entrada da colônia e oferecer seus próprios antebraços para serem mordidos.
Os níveis de dor foram classificados em uma escala de 0 a 5, variando de uma pequena beliscada na pele a uma mordida que causa uma dor desagradável e capaz de romper a pele se for persistente.
Ao tabular os resultados, eles descobriram que as espécies de abelhas sem ferrão cuja mordida era mais dolorosa foram justamente as do gênero Trigona, que atacaram de forma mais agressiva e ficaram presas às bandeiras no primeiro experimento.
“A mordida delas é muito menos dolorosa do que a ferroada de uma abelha Apis mellifera”, comparou Alves. “Mas, se pensarmos que a mordida de um inseto com alguns milímetros de comprimento é capaz de até perfurar a pele e que eles atacam em grupo, a dor é considerável e o ‘intruso’ precisa se afastar da colônia.”
Uma das razões identificadas pelos pesquisadores para o fato de a mordida das abelhas do gênero Trigona ser mais dolorida do que as outras espécies de abelhas sem ferrão é que elas possuem mandíbulas serrilhadas, ostentando cinco “dentes” afiados.
Essa morfologia de mandíbula supostamente permite às abelhas Trigona causar mais dor e danos a um eventual predador ou saqueador de suas colônias e representa uma possível adaptação defensiva dessas espécies, apontam os pesquisadores.
“A mandíbula de outras espécies de abelhas sem ferrão que não se defendem com a mesma agressividade das Trigona é mais arredondada e elas não possuem ‘dentes’ muito afiados”, comparou Alves.
“As operárias de Apis mellifera, que se defendem com seus ferrões, também não têm ‘dentes’ afiados nas mandíbulas como os dasTrigona.”
Tendência suicida
Os pesquisadores também realizaram um terceiro experimento para avaliar a disposição das espécies de abelhas sem ferrão de sofrer danos letais e morrer durante um ataque por mordedura.
O experimento consistiu em, inicialmente, apresentar a bandeira preta de feltro para as abelhas por 5 segundos e passar um pincel sobre o corpo das que atacaram a bandeira, sem causar danos a elas.
Em seguida, as abelhas que aderiram à bandeira tiveram suas asas puxadas com pinças para dar a elas a chance de afrouxar a mordida, desprender-se e voar para longe ou sofrer danos nas asas, ficando impedidas, dessa forma, de voar de volta para o ninho.
O experimento revelou que operárias de seis espécies de abelhas sem ferrão mais agressivas demostraram disposição de sofrer danos fatais e morrer, em vez de soltar o objeto.
A maior proporção de abelhas sem ferrão “suicidas” foi da espécie mais agressiva, a Trigona hyalinata. Do total de abelhas dessa espécie participantes do experimento, 83% das operárias demonstraram disposição de continuar presas à bandeira.
O comportamento, segundo os pesquisadores, é comparável ao da Apis mellifera, que perde seu ferrão e morre após o ataque. “O estudo demonstra que as abelhas sem ferrão das espécies de Trigona são particulamente defensivas e até mesmo suicidas”, disse Alves.
As espécies de abelhas sem ferrão que demonstraram maior agressividade e disposição a se auto-sacrificar durante o ataque por mordedura foram as que têm colônias mais populosas.
As colônias de Trigona spinipes, por exemplo, podem ter até 180 mil abelhas, enquanto a de uma espécia de abelha sem ferrão que não ataca, como a Melipona quadrifasciata, tem cerca de mil abelhas.
“Os custos de um ataque suicida de um grupo de abelhas operárias de espécies com colônias mais populosas é muito menor do que o de espécies com colônias pequenas”, comparou Alves.
“Vale muito mais a pena para as espécies com colônias maiores investirem nessa estratégia de defesa porque a perda de operárias não é tão grande em comparação com espécies com colônias menos populosas”, afirmou.
Segundo ela, os ataques suicidas das abelhas sem ferrão são realizados por operárias mais velhas para não colocar em risco a continuidade da colônia.
“Há uma certa lógica em recrutar as operárias mais velhas para realizar tarefas perigosas, como a de defesa e o forrageamento [busca de alimento] do ninho, para não perder os integrantes mais jovens da colônia”, disse.
O ataque é iniciado por um pequeno grupo de operárias. Em seguida, elas exalam um feromônio para chamar mais operárias para ajudar na missão, contou a pesquisadora.
“É a primeira vez que é relatado e quantificado o comportamento de espécies de abelhas sem ferrão que destinam uma parcela de suas colônias para defesa e que elas acabam morrendo, porque o ganho de defender a colônia e morrer é maior do que se deixassem ser atacadas e perecessem”, afirmou.
O artigo “Appetite for self-destruction: suicidal biting as a nest defense strategy in Trigona stingless bees” (doi: 10.1007/s00265-014-1840-6), de Shackleton e outros, pode ser lido na revista Behavioral Ecology and Sociobiology em link.springer.com/article/10.1007%2Fs00265-014-1840-6#