sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Curso: Técnicas de manejo

Alimentação artificial

A alimentação artificial é uma das principais técnicas de manejo da meliponicultura. Quando a intenção do meliponicultor é de produzir colônias, a alimentação entra como uma fonte adicional de recursos para aumentar as populações das colônias, de maneira que estas possam ser divididas mais rapidamente. No caso da produção de mel, a alimentação entra com a intenção de aumentar ou manter populações estáveis nos períodos de falta de recursos no meio ambiente. Porém, atenção, cerca de um mês antes do início das floradas, as melgueiras devem ser esvaziadas para que o mel colhido nos meses seguintes seja puro. A alimentação das abelhas pode ser dividida em dois tipos principais: "energética", que se refere ao mel (fonte de açúcares) e "protéica", relativa ao pólen (fonte de proteínas).

Alimentação Energética

A alimentação energética tem como intuito substituir o mel, que é o alimento das abelhas que serve como combustível para a realização das atividades gerais. Basicamente se fornece às abelhas uma solução de água + açúcar ("xarope"), que são os componentes básicos do mel. A proporção em volume pode variar de acordo com a região (regiões mais secas, maior quantidade de água, e vice-versa), mas recomenda-se a proporção de uma parte de açúcar para uma parte de água (1:1 vol.). Atentar para o fato de existir poros entre os cristais de açúcar, fazendo com que o volume real não seja expresso quando colocado em frascos marcadores de volume. Assim, o ideal para fazer a mistura é primeiro colocar a água (por exemplo, 1 litro) e depois completar com açúcar até o dobro (no caso, 2 litros). Após a mistura, este sistema pode ser submetido à fervura (consequentemente esterilização do produto) ou batido no liquidificador (sem esterilização). Neste último caso, ofereça em pequenas quantidades, pois a fermentação ocorre mais rapidamente.

Xarope de açúcar invertido: o açúcar do xarope pode ser submetido a um processo de inversão da sacarose, que facilita a absorção pelas abelhas. Para tanto, durante a fervura do xarope deve ser adicionado o suco de 1 limão para cada dois litros de xarope e deixar sob fervura durante 5 minutos. O ácido presente no limão realiza a função de quebra da sacarose em moléculas menores de açúcar, a glicose.
Não aconselhamos a adição de outros elementos no xarope, como aminoácidos, complexos vitamínicos e minerais, pois ainda não há comprovação científica de seus benefícios. Mas alguns meliponicultores adotam essa prática sem problemas.
O fornecimento da alimentação energética é uma parte crítica do processo de alimentação, visto que o xarope é altamente atrativo para outras abelhas pilhadoras (Apis melifera, Trigona spinipes, entre outras) e para formigas, não podendo ser ofertado em alimentadores coletivos e nem em excesso. A alimentação mal feita é a principal causa de morte de colônias. Vale ressaltar aqui que as abelhas não "vão embora", como é dito popularmente; elas morrem mesmo.


Diferentes maneiras de se oferecer a alimentação energética: individualmente (fotos de cima) e coletivamente (de baixo). É preciso tomar cuidado ao oferecer alimentação coletiva, podem surgir pilhadores.

Portanto deve ser ofertado no interior de cada caixa. Nesta etapa deve-se atentar para o fato do alimento ser líquido e viscoso, possuindo um grande potencial para afogar as abelhas. Oferecer o xarope em recipientes plásticos, sem nenhum recurso para a abelha se apoiar, tem grandes chances de perder muitas abelhas e estragar o alimento. Este risco é bem maior em abelhas pequenas. Uma alternativa é passar os recipientes (no caso copinhos descartáveis de café) em banho de cera de Apis melifera + cera de abelhas sem ferrão. Assim, as paredes do recipiente ficam mais apropriadas para a aderência das operárias. Além de palitos de churrascos ou bambus ou telas plásticas dentro do copo com xarope, para serem usados como "escadas".

Outras alternativas que minimizam a manipulação e o estresse das colônias são alimentadores que podem ser recarregados com xarope externamente, mas possuem somente uma abertura que fica par o lado interno da caixa permitindo o consumo pelas abelhas. Neste caso deve-se ficar atento com vazamentos entre as conexões das partes do alimentador, para que não existam atrativos para abelhas saquearem, nem que haja vazamentos internos por falta de pressão negativa.

A conservação do xarope é outro fator de grande importância, tanto no armazenamento, quanto na oferta para as abelhas. Recomenda-se fazer o xarope que for usar no próprio dia e, quando for preciso armazenar, mantê-lo sob refrigeração (5-10 CC). A quantidade colocada para cada espécie varia muito, bem como dependendo da condição da colônia. É importante que o xarope não fique muito tempo sem ser consumido, para não estragar. Isto está relacionado diretamente com a demanda da colônia, fique atento. É também importante não oferecer tanto xarope quando já existirem reservas suficientes (potes de mel), pois isso pode aumentar o risco do mel de alguns potes ficarem muito líquidos e estragarem, uma vez que as abelhas podem não ter tempo suficiente para processar e desidratar todo xarope.

Alimentação Protéica

O pólen contém um alto teor de proteína e, consequentemente, é um alimento que está relacionado com o desenvolvimento estrutural das abelhas, ou seja, formação de novos indivíduos (alimentação larval). É complicado encontrar um substituto completo para o pólen, uma vez que sua composição varia grandemente entre as plantas e ainda não se sabe o que faz com que as abelhas sejam atraídas para coletar e se alimentar do mesmo.

Uma alternativa que ainda está sendo plenamente testada, mas que já apresentou resultados positivos é a utilização de farinha de soja e levedura de cerveja como fontes protéicas para substituir o pólen durante períodos de escassez. Para que estes alimentos sejam aceitos e consumidos pelas abelhas, deve-se fazer com que eles passem por um processo controlado de fermentação, cuja fauna microbiana do pólen da própria espécie em questão deve atuar. Para isso, uma pequena fração do pólen da espécie que vai ser alimentada com o substituto protéico deve ser adicionada à farinha de soja e levedura, com adição de xarope, e colocada em temperatura de 28 a 35 ºC durante cerca de sete dias para completar a fermentação, conforme receita abaixo.

Abelhas se alimentando de ração à base de soja

RECEITA

                  Ingredientes                                     Quantidade (% massa)

Farinha de soja                                                       14
Levedura desidratada                                                 21    
Xarope (50%)                                                        55
Pólen da própria espécie                                              10       

Caso não tenha bastante pólen da própria espécie disponível para realizar a fermentação, é possível usar apenas uma pequena quantidade, um ou dois potes de pólen, misturando com 500ml xarope (50%). É importante que o pólen coletado para este fim esteja em processo de fermentação adiantado, para que os microorganismos estejam bastante proliferados. Mantenha essa mistura em temperatura ambiente, de 28 a 35 ºC, por cinco dias e depois misture com os outros ingredientes de acordo com a receita a cima.
Durante o processo de fermentação da dieta, mexa diariamente. Caso ocorra ressecamento, adicione mais água. A consistência não deve ser nem muito líquida, nem muito seca. Depois de pronta, a dieta pode ser congelada, para que a fermentação cesse. O substituto protéico pode ser oferecido em recipientes como copos de café untados com cera de abelha, para evitar que as abelhas caiam no alimento. Observe a aceitação algumas horas depois de disponibilizado. Algumas espécies não aceitam esse substituto, o que é muito fácil de ser constatado, pois elas jogam tudo no lixo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário